“Canção de protesto em Portugal em contexto ditatorial” é foco de mais uma edição do certame que se realiza já no próximo fim-de-semana
O Encontro da Canção de Protesto, que se realiza em Grândola, entre 21 e 23 deste mês, vai assinalar os 50 anos do 25 de Abril com exposições, sessões testemunhais, cinema, apresentação de livros e concertos.
Durante o evento, organizado pela Câmara de Grândola, no âmbito do Observatório da Canção de Protesto, será dado destaque “à canção de protesto em Portugal em contexto ditatorial” e no actual “contexto democrático”, explicou esta sexta-feira à agência Lusa a vice-presidente do município, Carina Batista.
“Embora o contexto ditatorial de há 50 anos não ser semelhante ao actual, continuamos a discutir muitos dos problemas que existiam nessa altura”, disse.
Ao mesmo tempo, acrescentou, “perspectivam-se anos futuros muito complexos e, se calhar, um retrocesso em muitos dos direitos que foram adquiridos”.
Por isso, segundo a autarca, estes encontros “são muito importantes” e servem “para alertar” o público, de várias gerações, “para aquilo que está em marcha e para o que pode vir a acontecer nos próximos anos”.
Tal como nas edições anteriores, as iniciativas programadas vão decorrer “em três palcos culturais”, nomeadamente o Jardim 1.º de Maio, Biblioteca e Arquivo e Cineteatro Grandolense, que vão receber músicos nacionais e internacionais e figuras ligadas ao universo da canção de protesto.
Em comunicado, a autarquia indicou que o Encontro da Canção de Protesto arranca, no dia 21, com uma arruada da Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense, entre o Jardim 1.º de Maio, onde está patente a exposição “Emigração, Exílio e Canção de Protesto”, e a Biblioteca e Arquivo do Município de Grândola.
No espaço da biblioteca será inaugurada a exposição “Os Cantores de Protesto e o 25 de Abril: “Vamos Lá Conhecer o Povo”, seguindo-se os concertos de Marco Oliveira, com o convidado José Peixoto (19 horas), e de Xullaji (22 horas), no Jardim 1.º de Maio.
No segundo dia, o Cineteatro Grandolense recebe, às 10:30, a exposição “Discos na Luta: Edições Cooperativas e Políticas da Canção de Protesto no Período Revolucionário”, da autoria de Hugo Castro, e a sessão testemunhal “O 25 de Abril e a Edição Discográfica” (11 horas), com David Ferreira, Miguel Almeida e Hugo Castro
Está ainda prevista uma sessão de cinema/colóquio sobre a Comunal de Árgea (14h30), com Francisco Fanhais, Manuela Fazenda, Luís Trindade e Filipe Olival, e a apresentação dos livros “Os Primeiros Anos: A Correspondência José Afonso/Rocha Pato (1962-1970)”, de Octávio Fonseca, e “José Afonso — A Patriótica Espia Sabia Bem Onde Morder…”, de Mário Correia.
O Jardim 1.º de Maio recebe, a partir das 22 horas, o concerto Luta Livre de Luís Varatojo, segundo a organização.
No último dia, às 11 horas, o Cineteatro Grandolense vai ser ‘palco’ da sessão testemunhal “Usos Tradicionais na Reconfiguração da Música Popular Portuguesa”, com Domingos Morais, Mário Correia, Manuel Rocha, Maria José Campos e Sara Maia, seguindo-se a apresentação do livro de entrevistas de José Afonso intitulado “José Afonso, Semeador de Palavras”, às 15 horas.
O Encontro da Canção de Protesto encerra, às 15h30, com uma sessão de canto livre com a participação da cantora, compositora e instrumentista galega SÉS, na primeira parte, e o concerto de Francisco Fanhais, Manuel Freire e Rogério Cardoso Pires, na segunda parte.
De acordo com a vereadora Carina Batista, o evento, que representa um investimento “superior a 50 mil euros”, é direccionado a “todos os públicos”, com entradas gratuitas.
O Observatório da Canção de Protesto tem como objectivos o estudo, a salvaguarda e a divulgação do património musical tangível e intangível da canção de protesto produzida durante os séculos XX e XXI, através de iniciativas culturais diversas.