A necessidade de limitar o acesso de viaturas automóveis à zona entre a Figueirinha e a Praia do Creiro, operacionalizada com uma iniciativa que a Câmara Municipal de Setúbal designou como “Arrábida Sem Carros”, reúne hoje, em Setúbal e junto de muitos dos utentes das praias daquela zona, um amplo consenso.
Por um lado, o programa assegura maior respeito pelos valores ambientais da Arrábida e, por outro, ao limitar a circulação automóvel entre as praias da Figueirinha e do Creiro durante a época balnear, com aumento da oferta de transportes públicos, evita o estacionamento desregrado que ali acontecia, colocando em causa a segurança de pessoas e bens.
Perante a escassez de recursos das autoridades competentes para fiscalizar o estacionamento ilegal, não restou à Câmara Municipal de Setúbal, em plena articulação com forças de segurança e outras entidades com responsabilidades no PNA, outra alternativa responsável que não fosse a implementação, em 2018, do Programa Arrábida Sem Carros.
A mesma solução é agora defendida para as praias da Caparica em artigo de opinião assinado pelo deputado socialista António Mendonça Mendes, publicado na edição de 12 de junho deste jornal. Aproveitando o caminho já feito na Arrábida pela autarquia setubalense governada pela CDU, o autor defende − e bem − a “imperiosa necessidade de regular o acesso de carros à Fonte da Telha”. Mendonça Mendes, que foi, até janeiro passado, presidente da FDSPS – Federação Distrital de Setúbal do Partido Socialista, além de ter sido Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais e, mais tarde, Secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro António Costa, acrescenta que “todos temos de ter a consciência de que a Fonte da Telha não tem capacidade para acolher tantos carros” e conclui: “não tenho a menor dúvida de que deve o Município de Almada limitar já o acesso de carros à Fonte da Telha, solução que, aliás, já existe nas praias da Arrábida”.
Aqui chegados, apenas se pode dizer que esta justíssima posição, vinda de quem vem, é verdadeiramente extraordinária e deixa, a mim e a todos os que sempre defenderam a necessidade do “Arrábida Sem Carros”, absolutamente perplexo.
E porquê?
Seria de esperar que Mendonça Mendes, na sua qualidade de presidente da FDSPS, tivesse moderado, em 2018, os ímpetos demagógicos e populistas que tomaram conta da concelhia de Setúbal do PS, cujos responsáveis foram os mais ferozes opositores da solução implementada na Arrábida. Agora, para a Caparica, praia situada no território de uma autarquia governada pelo PS, já defende − e bem, insisto − que se “regule” o acesso de carros à fonte da Telha…
Em maio de 2020, nas suas redes sociais, o PS Setúbal defendia que aquele era o “momento para implementarmos uma Arrábida Livre de Cancelas”, numa referência às cancelas instaladas junto ao túnel da Figueirinha para impedir a circulação de viaturas no âmbito do Arrábida Sem Carros. Mesmo colocado perante a evidência da incapacidade de fiscalizar o estacionamento anárquico causador de enormes problemas de segurança, o PS continuou a defender a circulação de viaturas na Arrábida, que agora Mendonça Mendes já quer “regular” na Fonte da Telha. Se o discurso nas redes era (um pouco mais) moderado, nas ruas e noutras plataformas estabelecidas nas redes sociais, assistia-se a um violento discurso populista e demagógico, de fazer inveja ao Chega de Ventura praticado, por militantes do PS.
É o PS a ser PS, a afirmar hoje o que ontem negou a pés juntos, de acordo com as conveniências partidárias de momento.
Só se lamenta que o senhor presidente da FDSPS e, à época, Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais não tivesse transmitido aos seus camaradas da concelhia de Setúbal a sua tão justíssima posição sobre a necessidade de limitar o acesso de viaturas à praia da Fonte da Telha, tendo como inspiração o Arrábida Sem Carros que a CDU (o problema foi esse) implementou em Setúbal.