26 Junho 2024, Quarta-feira

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Plástico está silenciosamente a matar mares e oceanos

Plástico está silenciosamente a matar mares e oceanos

Plástico está silenciosamente a matar mares e oceanos

Uma embalem que terá viajado durante quarenta anos no Atlântico até ao rio Sado, é exemplo que alerta sobre riscos do plástico

Durante um passeio a pé numa praia na zona da Caldeira, na península de Tróia, em Setúbal, Helena Sousa Freitas encontrou no areal uma embalagem de plástico de um produto alimentar. Em 2014, já esta embalagem, amarrotada, lhe pareceu bastante antiga. “A imagem da tampa, lembrou-me algo que me recordou os meus tempos de infância”. A surpresa da ambientalista foi ao ver a data inscrita no fundo da mesma: “16-05-1975”.

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Helena, que na adolescência pertenceu ao núcleo juvenil da Quercus e, em 1996, esteve na fundação do Grupo de Intervenção e Sensibilização Ambiental, conta ter ficado “incrédula”; naquele dia, tinha nas mãos uma embalem com quase 40 anos, “ainda molhada da maré, e anterior ao meu nascimento”.

“Já todos lemos que o plástico, quando deixado a céu aberto, pode levar até 500 anos para se decompor na totalidade, mas o impacto de nos depararmos com um exemplo concreto, de vermos uma caixa, que até é de um plástico fino, ser devolvida pelas águas quatro décadas depois de ter sido produzida, é deveras marcante”, diz Helena, actualmente ligada ao Grupo de Acção pela Recolha, Reabilitação e Reutilização de Bens Aproveitáveis – Gerações Ecologistas.

“Quando terá sido lançada ao rio Sado?”, interroga-se. “Terá vindo de outro ponto trazida pelas correntes oceânicas? Por quantos anos terá andado à deriva? E por quantos mais assim continuaria?”. Questões que também poderiam ser levantadas pelo ambientalista Rui Berkemeier, da ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável.

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“A poluição dos mares é uma das mais graves”, afirma. “O plástico não é degradável, com os anos vai-se deteriorando em pequenas partículas, entra na cadeia alimentar dos peixes e estes acabam por morrer à fome”, e acrescenta: “Em 2050, calcula-se que o peso de plástico nos oceanos será praticamente igual ao de seres vivos”.

Com o Dia Mundial dos Oceanos, decretado em 2008 pela Assembleia Geral das Nações Unidas a ser assinalado a 8 de Junho, em 2024 tem como tema “Incentivar a acção para o nosso oceano e o clima”, o objectivo é “proporcionar a milhares de organizações e milhões de indivíduos oportunidades tangíveis para proteger e restaurar os nossos oceanos”, refere a entidade Turismo de Portugal, ligada ao Ministério da Economia.

“A necessidade de celebrar este dia prende-se com a urgência de sensibilizar o mundo para os benefícios dos oceanos e também o dever de utilizarmos os recursos de forma sustentável, já que as gerações futuras também vão depender dos oceanos”, acrescenta o mesmo organismo.

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Rui Berkemeier não tem dúvidas de que a preocupação ambiental está na ordem do dia, mas o problema é que “a prática não acompanha a preocupação de poupar os recursos naturais”.

Para o ambientalista da Zero, dedicado à área dos resíduos, parte da solução tem de passar por penalizar quem não cumpre com a defesa do ambiente. “Há medidas que fazem a diferença, o que temos actualmente é quem faz a separação de lixo e usa água de forma sustentável paga o mesmo caso não o faça”.

Lembra que em 2018, a Assembleia da República aprovou legislação sobre o “Sistema de incentivo à devolução e depósito de embalagens de bebidas em plástico, vidro, metais ferrosos e alumínio”. Diz que “o sistema de financiamento foi definido para entrar em vigor a 1 de Janeiro de 2022, mas só agora está a ser feita a legislação específica”, ou seja, pelas suas contas “em 2025 ainda não vai estar a funcionar”.

Sublinha Rui Berkemeier que nos países onde o sistema de incentivo à devolução e depósito já começou, há uma recuperação de embalagens de “cerca de 90%, em Portugal é de 20%”. E reflecte: “A Natureza não tem fronteiras; a protecção dos oceanos e o combate às alterações climáticas depende do comportamento de todos nós”.

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