Há praticamente um ano, escrevi aqui um artigo com o título “Na Margem Sul, jamais?” (link), sobre a elevada probabilidade da decisão sobre a localização do novo aeroporto de Lisboa (ou da sua zona de influência) poder recair na Margem Sul. Um título que recorda a infeliz expressão do Ministro Mário Lino, que, com sotaque francês e em tom de escárnio, afirmou que na Margem Sul jamais seria construído um aeroporto.
Conforme escrevi, tratou-se de uma das afirmações “mais idiotas que um membro do Governo poderia ter feito sobre uma região do país”. Agora, mais do que isso, 17 anos depois, revelou-se um erro de avaliação bastante caro, pois, se a decisão tivesse sido tomada à data, já poderíamos ter um novo aeroporto. Assim, milhares de milhões de euros em receitas aeroportuárias foram perdidos, atrasou-se toda uma nova dinâmica económica na região e, certamente, os custos de construção serão maiores agora e nos próximos anos do que antes. Além disso, à data, não existia uma concessionária privada (a Vinci) que, claro, discutirá ao cêntimo os custos acrescidos com a construção do novo aeroporto em Alcochete e exigirá todas as contrapartidas que puder. Nesta questão, entristece-me, particularmente, o atraso na criação de uma nova dinâmica económica, porque, mais uma vez, as populações do distrito de Setúbal foram bastante prejudicadas.
Felizmente, a decisão sobre o futuro aeroporto Luís de Camões, está, finalmente, tomada, e é com assertividade que digo: na Margem Sul, sim! E digo-o, não por regionalismo, mas porque tivemos uma decisão política assente num parecer técnico que considerou Alcochete (ou Benavente, para ser mais correta, ainda que a zona de influência do aeroporto seja, maioritariamente, em Alcochete) a melhor localização. Esta decisão implicará a construção de infraestruturas rodoferroviárias que irão melhorar a mobilidade da população da dita Margem Sul, com a construção de uma nova travessia sobre o Tejo, há muito pedida para descongestionar o tráfego automóvel nas duas pontes existentes, assim como para potenciar a circulação dos comboios suburbanos (hoje da Fertagus), considerando que os comboios regionais e interregionais poderão seguir pela futura ponte Barreiro-Chelas.
Contudo, como liberal avessa a keynesianismos e defensora do dinheiro dos contribuintes, não posso deixar de manifestar preocupação com alguns dos anúncios do Governo. Em primeiro lugar, pelas razões já referidas sobre a Vinci, tenho sérias dúvidas que a construção do novo aeroporto, no imediato ou no futuro, não custe dinheiro aos contribuintes – nem que seja pela perda de receitas para o Estado, por exemplo, se existir um aumento do tempo da concessão dos aeroportos. Igualmente, espero que a alta-velocidade Lisboa-Madrid se pague a si própria e não seja mais um sorvedouro de impostos. Por fim, e sabendo que o princípio do utilizador-pagador será aplicado à nova ponte, espero que isso não resulte em mais um contrato ruinoso para o Estado – como considerou o Tribunal de Contas em relação ao atual contrato das pontes – ou num custo adicional para os atuais utentes destas infraestruturas que, nas portagens que irão pagar, poderão estar a pagar uma ponte que não usam.
Numa visão otimista, espero que estas decisões marquem o início de um futuro mais próspero para a Margem Sul, e que mostrem que escolhas bem fundamentadas e concretizadas podem transformar regiões e vidas.