Guerra surda entre socialistas faz-se agora ouvir com estrondo

Guerra surda entre socialistas faz-se agora ouvir com estrondo

Guerra surda entre socialistas faz-se agora ouvir com estrondo

Maia Marques demite-se da concelhia e critica secretariado. Presidentes de junta deixam cair Carlos Albino para apoiarem Paula Póvoas na corrida à liderança do órgão

Apesar de ter protagonizado no Distrito de Setúbal a principal surpresa nas últimas autárquicas, ao conquistar o poder que a CDU detinha no município desde as eleições de Dezembro de 1976 – as primeiras para órgãos locais pós-25 de Abril –, o PS da Moita tem vindo a travar internamente uma guerra surda. Mas o eco dos conflitos, entre eleitos e estrutura partidária local, foi agora impossível de abafar com a demissão de Maia Marques da presidência da Comissão Política Concelhia e o anúncio de duas candidaturas à liderança desta estrutura, que vai a votos no início de Julho próximo (ver caixa).

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Maia Marques formalizou a renúncia ao cargo na passada segunda-feira, 13, depois de na sexta-feira anterior, 10, ter decorrido uma reunião do secretariado da comissão política sem que o assunto tivesse sido aí abordado, garante fonte socialista a O SETUBALENSE. A decisão, adianta a mesma fonte, acabou assim por “apanhar todos de surpresa”.

Mas o pior foi o “timing” escolhido, já que a saída veio criar, em plena campanha para as eleições europeias – marcadas para 9 de Junho –, um vazio na liderança da concelhia, que deverá ser preenchido pelo elemento seguinte da lista eleita para o mandato em curso. No seio da estrutura partidária há, por isso, quem classifique a decisão de Maia Marques como um “acto de irresponsabilidade”.

Por outro lado, a renúncia reflecte a instabilidade que se tem vivido na comissão política local e faz transparecer a existência de profundas divergências a nível interno. Instabilidade, porque a concelhia da Moita apresta-se a conhecer três presidentes em apenas um mandato (qual clube de futebol em convulsão), uma vez que Maia Marques assumiu o cargo após a saída de Nuno Vitório (primeiro a bater com a porta). Depois, a justificação dada por Maia Marques em comunicação enviada aos socialistas – e à qual O SETUBALENSE teve acesso – é elucidativa da fractura existente no seio da concelhia.

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“Aceitei o cargo na expectativa de realizar uma série de projectos que sempre considerei essenciais para a estrutura socialista do concelho. Hoje, volvidos quase um ano e meio verifico que, em função de um secretariado nada cooperante, apesar de todos os meus esforços, não me foi possível concretizar grande parte desses projectos. Os que consegui concretizar, como a 1.ª Festa Socialista, sofreram forte contestação por parte de membros do secretariado que deveriam ter trabalhado comigo”, critica a agora ex-líder da comissão política.

Uma crítica que não deixou de causar mal-estar no secretariado e que não ficou sem resposta. “Quando não se sabe liderar, culpam-se os outros”, atira fonte socialista.

Presidentes contra presidente

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Porém, as divergências no PS da Moita não se confinam à estrutura local. Também é notório que se estendem a eleitos, sobretudo são evidentes “clivagens presidenciais”.

Carlos Albino, presidente da Câmara Municipal da Moita – que presidiu à concelhia antes do actual mandato –, e Paula Póvoas, directora do Agrupamento de Escolas Poeta Joaquim Serra, no Montijo, encabeçam as duas candidaturas já assumidas à Comissão Política Concelhia. E todos os presidentes de junta no concelho viram as costas à candidatura de Carlos Albino para abraçarem, com apoio declarado, a candidatura de Paula Póvoas – a excepção é Artur Varandas, que não é militante do partido (foi eleito pelo PS presidente da Junta de Freguesia de Alhos Vedros, mas como independente).

Em comunicado enviado à redacção de O SETUBALENSE, a candidatura de Paula Póvoas anuncia contar com os apoios de “históricos militantes”, como Luís Chula, Filomena Ventura, Vítor ‘Tito’ Duarte e Edgar Cantante (antigos vereadores), Rodrigo Nascimento, presidente da concelhia da Juventude Socialista, Fabrício Pereira, presidente da Junta da Moita, Bárbara Dias, presidente da Junta de Baixa da Banheira/Vale da Amoreira, Ana Costa, presidente da Junta de Gaio-Rosário/Sarilhos Pequenos, Pedro Aniceto e Luís Cerqueira (autarcas de freguesia) e António Costa (actual líder da bancada do PS na Assembleia Municipal).

“Avanço porque acredito que os desafios que se aproximam exigem uma estrutura forte e coesa, com a capacidade de criar pontes entre militantes, simpatizantes e a restante sociedade civil”, assume Paula Póvoas, citada no mesmo manifesto de apresentação da candidatura que encabeça.

Também em comunicado, Carlos Albino assume a candidatura à concelhia e lembra, em jeito de balanço aos três mandatos que cumpriu à frente dos destinos da estrutura local do partido, o trabalho desenvolvido e algumas das conquistas alcançadas.

“Os resultados alcançados foram inequivocamente positivos para o PS: vencemos a Câmara Municipal, elegemos o presidente da Assembleia Municipal e ganhámos todas as freguesias”, salienta o socialista. “O nosso trabalho árduo é hoje reconhecido dentro e fora de portas, seja pela formação de novos quadros políticos, seja pela apresentação de novas propostas e estratégias de actuação. Afirmámos o concelho da Moita no panorama distrital”, considera, antes de realçar que o caminho a ser seguido de futuro tem de passar pela união. “A nossa estratégia deve continuar a ser fundamentada na articulação entre as diferentes estruturas do PS e os eleitos, falando a uma só voz em defesa dos interesses do nosso concelho”, conclui.

Eleições Militantes escolhem lideranças locais e distritais em Julho e Setembro

As eleições para as comissões políticas concelhias do PS, em todo o País, estão agendadas para os dias 5 e 6 de Julho (sexta-feira e sábado), ou seja cerca de um mês após a realização das eleições europeias. Na Moita, a confirmar-se aquilo que tem sido habitual nos últimos actos eleitorais para a estrutura local do partido, o sufrágio deverá ocorrer logo no primeiro dia, sexta-feira, 5 de Julho.
Volvidos cerca de dois meses, os militantes do partido voltam a ir às urnas de voto, mas para escolherem as lideranças das federações distritais. As eleições para estes órgãos estão marcadas para 27 e 28 de Setembro.

A estrutura distrital de Setúbal é presidida actualmente por Eurídice Pereira – que assumiu funções nesta recta final de mandato com a saída de António Mendonça Mendes – e já anunciada está a candidatura à presidência do órgão por parte de André Pinotes Batista, eleito membro da direcção nacional do PS no consulado de Pedro Nuno Santos. O socialista acumula ainda as funções de deputado à Assembleia da República e de presidente da Assembleia Municipal do Barreiro.

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