Pensar Setúbal: Os 50 anos do 25 de Abril de 1974 (Parte XI) António Adelino Pires: Um Herói Português

Pensar Setúbal: Os 50 anos do 25 de Abril de 1974 (Parte XI) António Adelino Pires: Um Herói Português

Pensar Setúbal: Os 50 anos do 25 de Abril de 1974 (Parte XI) António Adelino Pires: Um Herói Português

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13 Maio 2024, Segunda-feira
Professor

Hoje vamos homenagear António Adelino Adriano Pires, nascido a 18 de Agosto de 1952, na aldeia de Sequeiros, freguesia de Poço do Canto, Concelho da Mêda, Distrito da Guarda.
No dia 25 de Abril, na condição de militar, esteve presente em Lisboa, tendo sido destacado posteriormente para Angola, local onde faleceu, a 17 de Dezembro de 1974.
O veículo onde seguia accionou uma mina, tendo falecido todos os tripulantes.
Estes tristes acontecimentos deram-se ainda antes da independência de Angola, ocorrida a 11 de Novembro de 1975.
António Adelino tinha apenas vinte e dois idade anos de idade. Encontra-se sepultado na freguesia natal.
Sobre estas temáticas e recorrendo ao roteiro pessoal, no fim dos anos sessenta e início dos anos setenta, os meus pais tinham alguns amigos que se encontravam em idade militar, pelo que com alguma regularidade íamos a Lisboa, à Rocha de Conde de Óbidos despedirmo-nos dos tais amigos que iam para o então denominado Ultramar Português.
E então, lá andava eu de nariz no ar, muito espantado a ver adultos que supostamente não choravam. Tudo isto colidia com os olhos ténues de um miúdo, numa “geografia de sonhos” iniciais.
Ficava profundamente impressionado com essa manifestação de pranto colectivo. Pais, avós, mulheres, namoradas, filhos todos unidos por uma dor tão organicamente intensa que devia ecoar não somente em Lisboa, mas que chegava e atingia desesperada e dolorosamente o Portugal profundo.
Depois ia para a escola, local onde a professora colocava o acento tónico no heroísmo e na inviolabilidade da terra portuguesa de aquém e de além-mar.
Esta lógica de valorização do orgulho e da conservação da terra, era aos olhos frescos e ingénuos de um garoto, aparentemente incontornável.
Em casa, essa suposta convicção era muito abalada quando ouvia meu Pai. Como bom italiano, sabia perfeitamente o que tinha sucedido às colónias italianas da Etiópia, Líbia, Somália e Eritreia.
Meu Pai sustentava com a lógica impiedosa da História que a perda das colónias portuguesas era meramente uma questão de tempo.
Amigos nossos residentes em Angola, apresentaram-lhe propostas de emprego, na altura mais bem remuneradas que a que auferia, de Comandante da Marinha Italiana; meu Pai recusava invariavelmente, argumentando com o cáracter efémero das possessões ultramarinas portuguesas.
O tempo acabou por dar-lhe razão.
O regime do Estado Novo enfermava de vários pecados capitais: a ditadura, a PIDE, a censura, a Guerra Colonial, a tortura, o assassínio, a repressão, o desterro, a pobreza, o analfabetismo, a secundarização das mulheres, a emigração. Em suma, um forte condicionamento da sociedade civil.
A Guerra Colonial que decorreu entre 1961 e 1974, custou a vida a cerca de 10 mil soldados. Para além destes, existem todos aqueles que sofreram consequências de natureza física e psicológica que perduraram ainda por muitos anos.
Com o passar do tempo, o peso do conflito tornou-se insustentável para a sociedade portuguesa, tendo o 25 de Abril surgido também como uma consequência natural de profunda alteração desse status quo.
Regressemos a António Adelino Pires que foi um jovem soldado proveniente de uma família que me é muito próxima e que morreu do Ultramar Português.
Todos nós nos curvamos respeitosamente perante a sua memória, também através destas palavras simples, carregadas de significado.
Mas é muito mais que isso.
Evocamo-lo por todos e cada um de nós, portugueses do Passado, Presente e Futuro, pela nossa consciência individual e colectiva, com todo o respeito que nos deve merecer o António Adelino, a sua família, irmãos, cunhados, sobrinhos, primos, pela sua enorme Humanidade, num período temporal em que estávamos do lado de lá da História, o que não nos impede de saber recordar, respeitar, acarinhar e honrar de forma fortemente emotiva, todos aqueles que combateram, sofreram e morreram no Ultramar Português.
Porque os mortos e os seus familiares também têm direito à Dignidade.
António Adelino Pires foi um Herói Português; deu aquilo que tinha de mais sagrado para dar.
A própria vida.
Fica aqui uma singela, mas muito significativa evocação de um Português Ilustre.
As pessoas que nos são queridas nunca morrem completamente enquanto permanecerem nas nossas memórias e afectos.

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