22 Julho 2024, Segunda-feira

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Olhar para o essencial

Olhar para o essencial

Olhar para o essencial

10 Abril 2024, Quarta-feira

Assinalamos o centenário de Sebastião da Gama e é lícito perguntar porque o fazemos. Em Azeitão, temos o hábito de nos engalanarmos, de marcar pontos de encontro para cerimónias oficiais (deposição de flores junto à estátua, romagem até à campa do poeta, dizer poesia a boa voz porque se crê que o poeta vive na palavra escrita que deixou).
Tudo isto é bonito, tudo isto é belo. Mas para que serve, afinal? Porque fazemos tudo isto?
Haverá arautos de todos os provires. Uns mais racionais, outros mais sentimentais.
Haverá quem nos fale de património, de identidade, de reconhecimento, de gratidão, etc. Não que estejam desprovidos de razão. Mas não serão muitos os que detenham esta consciência e celebrem esta data por essas razões, nesta nossa época, tão formais.
A resposta é tão simples quanto útil: fazemos isto porque nos faz falta.
E faz-nos falta por dois motivos fundamentais.
Primeiro, porque no tempo de eterna crise em que vivemos, Sebastião ensina-nos a olhar para o essencial. E, quer queiramos, quer não, Sebastião da Gama é uma agulha no palheiro ou, se preferirem, é um grito de revolta – uma revolta de Amor – num mundo ruidoso e barulhento, mas cada vez mais cansado da pressa e utilidade que o amotinou.
Sebastião soube-o cedo, porque ele próprio conheceu cedo a perenidade da vida e isso conduziu-o à raiz – o lugar para onde rumam aqueles que desejaram ser resgatados da ideia hodierna de que o desenvolvimento e progresso se operarão a todo o custo. Não me julguem mal: nem Sebastião nem eu somos contra o desenvolvimento e progresso. Só temos a consciência – aliás, eu só a tenho porque o Sebastião ma revelou – de que há limites e que estes só são visíveis quando interrompemos o comboio célere que tomou a nossa vida, permitindo-nos olhar para eles.
Então, o que é o essencial, perguntarão?
O Homem. E o Homem de Sebastião da Gama reside n’ “o espírito das origens”, legado franciscano que resistiu na Arrábida. A Arrábida é, por isso, para Sebastião, a Mãe, a Amante, a Namorada, a Irmã, a Senhora. Ali cresceu e se fez Homem. Para ali rumou numa dependência vital. Ali, no lugar que outrora fora a reserva espiritual do país, Sebastião da Gama, alimentou-se e colheu, no meio do silêncio e da solidão, a experiência humana com que encheu os seus escritos. Em resumo: ali edificou o seu Amor.
O segundo motivo fundamental, indissociável do primeiro, é a consciência da fraqueza do Homem, da sua interdependência dos Outros e do que os rodeia. Daí a provocação de Sebastião para nos sentirmos unidos a tudo o que nos circunda. Da Arrábida (Única para si, mas representação de toda a Natureza), que devemos amar e cuidar, e dos outros Homens, Irmãos uns dos outros, que devemos tratar de acordo com regras simples como ser solidário, responsável, cuidadoso e compassivo – regras que ele tão bem condensou num só lema: O Segredo é Amar.
Fazes-me falta Sebastião…

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, Mestre em Sociologia
19/07/2024
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