I.A – Isto Acontece: Ou a atualização da Alegoria da Caverna

I.A – Isto Acontece: Ou a atualização da Alegoria da Caverna

I.A – Isto Acontece: Ou a atualização da Alegoria da Caverna

13 Agosto 2025, Quarta-feira
Presidente da Junta de Freguesia de Quinta do Anjo

Na sua obra A República, Platão narra o diálogo entre Glauco e Sócrates a sobre o pressuposto de que um conjunto de Homens acorrentados dentro de uma caverna apenas possuem, como ideia de realidade, a interpretação de sons, sombras e imagens distorcidas, fruto da chama acesa, nas suas costas.

Falar de inteligência Artificial como a grande inovação que se nos propõe, como o grande avanço civilizacional na atualidade, causa-me alguma estranheza. Não por qualquer aversão à tecnologia ou à inovação, mas pelo que desta tem derivado, em particular num mundo mediatizado e de conhecimento mediado entre realidade dos factos e disseminação de realidades alternativas como factos.

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A velocidade dos tempos em que nos detemos a conhecer a realidade é cada vez menor e a velocidade de apresentação de realidades, factuais ou alternativas, é, por outro lado cada vez maior, derivando, na minha opinião, daqui a constatação que muitas vezes só queremos receber e reagir à informação, pouco importando, a sua origem, factualidade, contraditório ou razoabilidade da mesma.

Ora nestes pressupostos, assentaria o conhecimento da informação apresentada, mas o tempo da nossa sociedade pouco nos deixa para esta tarefa.

Não sendo uma inevitabilidade que deixemos de conhecer, é um facto que esta tarefa nos dá mais trabalho e muitas vezes passamos o tempo na teia e na rede tecida da desinformação, da falsa noticia e passamos a ter o tradicional e antigo “boato” como informação.

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Corremos, todos, o risco de por falta de tempo e comparência á luta da busca da objetividade de cairmos na Alegoria da Caverna de Platão.

Voltando ao texto original, conta a alegoria que um dos homens presos se liberta e saindo da caverna pode ver a realidade que fora desta existe. Ponderando regressar á caverna, para dar a notícia aos restantes cativos surge-lhe a dúvida de poer ser considerado louco, pelos outros presos, e talvez morto por isso.

Todos e cada um de nós está hoje, tal como, no tempo de Platão, no dilema de optar por ser considerado louco ao privilegiar a verdade dos factos ou de ser aceite, nesta sociedade, na sociabilidade virtual de estar e aceitar, sem questionar, o que nos é oferecido como imagem distorcida da realidade.

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A diferença entre o que nos é oferecido e o que procuramos está no preço que estamos dispostos a pagar, para sermos fiéis à verdade, para fazermos parte do grupo, para arriscarmos a dedicar tempo a conhecer.

Talvez o jornalismo e os/as jornalistas possam vir a ser o nosso elo de ligação e destrinça entre o artificial e a realidade, nobre e pesada tarefa esta, pois cabe-lhe, também, a missão de educar para o conhecimento dos seus leitores, cumprindo a verdade de um diálogo onde ao emissor importa transmitir uma clara, e verdadeira mensagem para que o recetor se possa, na mesma medida, transformar-se em novo emissor da verdade dos factos.

Pela minha parte, tentarei estar no lugar da realidade, interpretando e tendo opinião, baseada em factos, reconhecendo em muitos domínios, as virtudes da Inteligência artificial, mas vigilante e prudente na aceitação pura da sua gratuitidade virtual, enquanto modelo adotado para disseminação da informação, na medida em que informação só pode ser poder se for verdadeira!

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