Aberto em 2004, respondeu a uma carência histórica no acesso à saúde e transformou o concelho num polo regional de coesão e desenvolvimento
Em pleno Alentejo litoral, entre a planície e o mar, ergue-se uma das mais importantes estruturas de saúde pública do sul do País: o Hospital do Litoral Alentejano (HLA). Inaugurado a 22 de Julho de 2004, o hospital mudou profundamente o quotidiano de milhares de pessoas em cinco concelhos — Santiago do Cacém, Sines, Grândola, Alcácer do Sal e Odemira —, pondo fim a décadas de deslocações longas e a um isolamento clínico que se fazia sentir de forma aguda.
O que começou como uma reivindicação local tornou-se num investimento nacional com consequências directas na qualidade de vida, equidade social e desenvolvimento regional. Hoje, o HLA é um símbolo de um território que se soube afirmar e resistir à interioridade.
Um investimento que respondeu a uma urgência histórica
Durante décadas, os habitantes do Litoral Alentejano viram-se obrigados a percorrer dezenas ou centenas de quilómetros para ter acesso a um serviço de urgência, realizar uma cirurgia ou até apenas consultar um especialista. A resposta médica mais próxima encontrava-se em Setúbal, Évora ou Lisboa. As consequências eram muitas vezes dramáticas, diagnósticos tardios, tratamentos adiados, gravidezes sem acompanhamento e doentes sem transporte.
A construção do HLA veio colmatar esse vazio. Com uma cobertura estimada de mais de 100 mil pessoas, o hospital foi projectado para garantir urgência permanente, internamento, bloco operatório, maternidade, pediatria, consultas de especialidade, unidade de cuidados intensivos, análises clínicas, imagiologia, psiquiatria, medicina interna, cardiologia, ortopedia, entre outras valências fundamentais.
Santiago do Cacém ganha centralidade regional
A escolha de Santiago do Cacém como sede do hospital não foi neutra. A cidade tornou-se, com a inauguração do HLA, um polo de referência na prestação de cuidados de saúde e reforçou o seu estatuto como capital administrativa e funcional da sub-região.
Ao concentrar equipamentos públicos de diferentes áreas — saúde, educação, justiça e cultura — Santiago passou a ser um ponto de encontro diário de populações vindas de todo o Litoral Alentejano. A localização, próxima de Santo André e com boas acessibilidades à A26 e à EN120, contribuiu para esse efeito de centralização dos serviços.
O impacto do HLA não se mediu apenas em termos clínicos. O hospital gerou centenas de postos de trabalho directos e indirectos, desde profissionais de saúde a serviços de apoio técnico, segurança, limpeza, restauração e transporte. Muitos dos trabalhadores fixaram residência na região, dinamizando o mercado habitacional, o comércio local e as escolas.
Ao atrair médicos, enfermeiros e técnicos altamente qualificados, o HLA tornou-se um factor de renovação geracional em freguesias envelhecidas. Famílias jovens começaram a instalar-se em Santiago do Cacém, Vila Nova de Santo André, Alvalade e outras localidades com bons acessos, ajudando a contrariar a tendência de despovoamento.
Um hospital que também enfrenta desafios
Ao longo de 20 anos de funcionamento, o HLA enfrentou vários constrangimentos, falta de médicos especialistas, greves, subfinanciamento, rotatividade do corpo clínico e até críticas de utentes devido à espera em urgências e consultas.
Contudo, mesmo com limitações, o hospital continua a desempenhar um papel central na rede do Serviço Nacional de Saúde e a prestar cuidados de saúde de qualidade numa vasta área territorial. Em tempos de crise, como durante a pandemia de covid-19, o HLA revelou-se essencial na resposta hospitalar coordenada no Alentejo Litoral, contribuindo para salvar vidas e manter a confiança das populações no sistema público.
A existência do HLA é frequentemente citada como exemplo de descentralização bem-sucedida. Ao contrário de muitas promessas não concretizadas para o interior do País, o hospital representa um investimento real que mudou estruturalmente o território.
Num País marcado por profundas assimetrias entre litoral urbano e interior rural, o hospital provou que é possível garantir igualdade de acesso aos serviços públicos, independentemente do local de residência. E mais: mostrou que o desenvolvimento não precisa de se concentrar em Lisboa e no Porto — pode (e deve) ser redistribuído com racionalidade e justiça social.
Ampliação, inovação e cuidados de proximidade no futuro
O futuro do HLA passa pela modernização tecnológica, reforço de especialidades, contratação de profissionais e, sobretudo, articulação com os centros de saúde locais. O modelo de “hospital de proximidade com lógica regional” está a ser estudado para garantir melhor eficiência, humanização do serviço e sustentabilidade a longo prazo.
A perspectiva da criação de unidades móveis de saúde, cuidados domiciliários integrados e melhor articulação com a saúde mental e os cuidados paliativos são algumas das prioridades apontadas por autarcas e responsáveis da Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano (ULSLA).