Há mais de uma década que a cidade não tem comboios de passageiros, apesar da estação estar pronta. A cidade espera o regresso do serviço, com autarcas e população a manterem viva a esperança
Apesar de dispor de uma estação ferroviária operacional, electrificada e com comboios a passar todos os dias, Alcácer do Sal está, há mais de 13 anos, fora da rede de transportes de passageiros da CP. Desde 1 de Dezembro de 2011, que a cidade deixou de receber qualquer comboio regional ou Intercidades, obrigando os residentes a deslocarem-se para estações vizinhas como Grândola, Setúbal ou Pinhal Novo.
A exclusão da estação de Alcácer deve-se, em grande medida, à entrada em funcionamento da variante ferroviária de Alcácer, uma nova infraestrutura construída entre 2007 e 2010 para permitir um trajecto mais rápido entre Lisboa e o Algarve, evitando a antiga travessia urbana. Esta alteração facilitou os tempos de viagem, mas afastou Alcácer da malha nacional de passageiros — uma decisão técnica e política que tem sido recorrentemente contestada por autarcas, populações e utentes da ferrovia.
A Comunidade Intermunicipal do Alentejo Litoral (CIMAL), à qual pertence o município de Alcácer, tem exigido de forma insistente o regresso dos serviços de passageiros à linha do Sul. O presidente da Câmara Municipal de Alcácer do Sal, Vítor Proença, tem defendido publicamente que a estação local deve voltar a ter paragens regulares, apontando que “a infraestrutura está lá, os carris estão lá, e o povo está cá”.
“Basta uma decisão política”
Segundo declarações recentes, o edil acredita que “basta uma decisão política” para que os comboios voltem a parar em Alcácer. Contudo, a resposta do Governo e da CP tem-se mantido ambígua. Entre os principais argumentos apresentados pelas autoridades nacionais está a falta de material circulante disponível e a necessidade de garantir tempos de viagem competitivos nas ligações de longo curso.
A principal janela de esperança reside actualmente no Plano Ferroviário Nacional (PFN), apresentado em 2023 e ainda em processo de concretização. O documento reconhece a importância de reactivar paragens em Alcácer do Sal, Grândola e outras localidades do litoral alentejano. No entanto, sublinha que esta decisão depende de um conjunto de obras estruturantes, nomeadamente a construção de uma nova ponte ferroviária sobre o Tejo, a sul de Lisboa.
Segundo os autores do plano, essa nova travessia permitirá reduzir significativamente o tempo total de viagem entre Lisboa e o Algarve, o que, por sua vez, abriria margem para reintroduzir paragens em cidades intermédias como Alcácer, sem penalizar a eficiência do serviço. Ainda assim, não existe um calendário definido para a execução da ponte, o que adia, de forma indefinida, qualquer mudança concreta no serviço.
Paradoxo | Cidade com tradição ferroviária tem estação eléctrica fora de serviço
O actual estado da estação de Alcácer ilustra o paradoxo do sistema ferroviário português: uma cidade com tradição ferroviária, com linha electrificada e plataformas funcionais, mas sem qualquer comboio a servir a sua população. A título de exemplo, em Janeiro de 2025, uma avaria na variante de Alcácer obrigou a CP a desviar um comboio pela antiga linha — revelando que, embora inactiva para passageiros, a infraestrutura continua a ser crucial em situações de contingência.
A comunidade local continua mobilizada e vigilante. A CIMAL já entregou várias propostas técnicas às Infraestruturas de Portugal e à CP, reforçando a viabilidade da paragem em Alcácer. No entanto, o que falta é a conjugação de três factores essenciais: investimento em novo material circulante, definição de um cronograma para a nova ponte sobre o Tejo, e, acima de tudo, vontade política para devolver a Alcácer do Sal um serviço ferroviário que lhe pertence por direito e por história.