José Dias, hoje com 71 anos, não tinha ainda 18 quando foi chamado para a guerra em Moçambique
Ansiava estudar e ser jornalista, mas a luta por uma guerra perdida, impediu-o de fazer aquilo que mais queria. José Dias, 71 anos, não tinha ainda completado 18 anos quando foi chamado a ir para Moçambique.
Quando soube, sentiu um leque de emoções, seria a primeira vez que ia sair de Portugal, sem a certeza do que “ia para lá fazer”, ou do que esperar, ou do que seria de si, quando voltasse à Pátria mãe.
Durante os dois anos que esteve em combate, viveu com a saudade da família a vincar-lhe o coração e, por diversas vezes, “trocou” aquele cenário fatídico pelos locais e memórias da sua terra, que faziam desvanecer o terror à sua volta.
Ao regressar, o ex-combatente percebeu que o país “era exatamente o mesmo”, o que resultou num acumular de mágoa ainda maior do que aquela que sentia. Esta mágoa permanece consigo até aos dias de hoje. “Não era isto que eu queria para a minha vida”.
Tinha-lhe sido retirada a juventude, a inocência com que observava a vida. “Vê-se a vida de outra maneira e, claro, que numa situação de guerra temos obrigatoriamente de mudar a nossa forma de estar”, [pausa].
Após o conflito decide emigrar, achou que “seria mais útil à sociedade” se estivesse “fora de um regime fechado”, onde não havia lugar para todos e viver em liberdade se mostrava distante. O Canadá, tornou-se na sua nova casa.
Reconhece “a inutilidade daquela guerra” como a causa para a construção de um Portugal aquém dos restantes países europeus. Era urgente uma mudança, mas conversar sobre ela implicava mencionar o sistema vigorante. “O regime era tabu, nós não podíamos falar”.
O 25 de Abril “foi o dia libertador”, que trouxe felicidade para José, mas que, anos após o sucedido, lhe revelou ser uma “utopia” pois o sentimento de alegria que nutriu no tão esperado dia que terminou com a ditadura, apagou-se quando a realidade mostrou “que não era mais do que um sonho”, que foi vendido à população por ser tão belo.
O significado de liberdade foi explorado e esquecido, desapontando uma Nação. “Era o meu sonho, também”, afirma com emoção. José Dias foi obrigado a crescer, a desapegar-se dos sonhos de menino e a tornar-se num homem. “Recordo-me duma mocidade perdida”.
Cinquenta anos depois do icónico dia, mantém a esperança dos seus antepassados, de que um dia o 25 de Abril voltará a acontecer e os seus ideais voltarão a reinar em Portugal. “O meu avô e o meu pai acreditaram, eu vou seguir a tradição da família”.
Ana Morais *Estudante de Jornalismo da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal (ESE-IPS)