José Freixo recorda período que passou em Moçambique, na Guerra Colonial, antes do 25 de Abril
Aos 21 anos, José Freixo partiu para Moçambique rumo à Guerra Colonial, onde construiu um passado repleto de desafios, camaradagem e momentos inesquecíveis. Foi convocado para a “Cavalaria 8”, como condutor de carros de combate. “Eu levava os meus colegas em jeeps e, na altura, guardei a maior barragem de Moçambique”, recorda.
Mesmo desempenhando diversas funções em cenário de guerra, tentava sempre encontrar tempo para descontrair com o grupo. “Jogávamos muitas vezes futebol por lá e escrevia cartas para a minha mulher”, conta.
Chegou, também, a ir até Gorongosa, a reserva de caça, onde se maravilhou a avistar “búfalos, elefantes, leões e muito mais”. Ainda assim, os momentos de tensão eram uma constante na vida militar. “Andámos cerca de dez dias atrás de um homem que matou uns dez marinheiros. Ele nunca foi apanhado.”, relata José Freixo.
As vivências são imensas, mas José destaca um dos episódios mais caricatos da sua estória, em que esteve desaparecido mais de uma semana porque se tinha perdido. “Pensava que já não ia chegar ao quartel. Sobrevivemos a pescar e a comer pão duro, até molhávamos o pão para deixá-lo mole”, diz o antigo militar.
Nas aldeias por onde passavam, a presença militar causava pânico imediato na comunidade local. “Eles fugiam, deixavam lá as galinhas e os patos sozinhos para nós comermos [riu-se]”.
Apesar das dificuldades, não se arrepende. “Se fosse hoje, ia para lá à mesma. Fiz amizades que levo para a vida e ainda jogava futebol”, explica. As lembranças desse longo período entranharam-se na mentalidade e dificultaram a sua adaptação à vida civil após um ciclo demorado na tropa. “Ainda levei uns tempos para me habituar, eu continuava a fazer continência a oficiais quando os via [riu-se]”. No dia 25 de Abril de 1974, José Freixo estava a trabalhar na TLP [antiga Telefones de Lisboa e Porto], em Lisboa. Quando chegou ao trabalho, de manhã, pediram para ter cuidado e não sair à rua, naquele instante, percebeu que tudo poderia vir a mudar.
Apesar de não ter participado activamente na Revolução, “estava sempre em contacto com a central telefónica à procura de saber aquilo que ia acontecer a seguir”. Dada a proximidade do local de trabalho ao sítio onde decorreu o golpe militar, teve a oportunidade de testemunhar a passagem de figuras importantes e observar os carros da tropa a pararem na rua.
A partir desse momento, foram várias as mudanças sentidas, mas destaca que “as pessoas começaram a falar mais e mais”. Sem qualquer intenção de desprezar a conquista da Liberdade, José Freixo continuará a destacar os “quase quatro anos na Guerra Colonial”, os quase quatro anos de futebol e os quase quatro anos que consolidaram grandes amizades e deram origem a momentos memoráveis da sua vida.
Daniel Ferreira * Estudantes de Jornalismo da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal