“Os alunos estão muito receptivos a pensar, reflectir a discutir sobre os 50 anos do 25 de Abril”

“Os alunos estão muito receptivos a pensar, reflectir a discutir sobre os 50 anos do 25 de Abril”

“Os alunos estão muito receptivos a pensar, reflectir a discutir sobre os 50 anos do 25 de Abril”

Professora realça percurso de consolidação do curso, que depois de celebrar 30 anos de existência está a preparar uma grande mudança no plano curricular

O curso de Comunicação Social do Instituto Politécnico de Setúbal está a celebrar 30 anos de existência, algo que, para Lídia Marôpo, demostra um “percurso de consolidação do curso”.

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A coordenadora desta licenciatura entende que o maior desafio de qualquer curso de comunicação é estar sempre em mudança, algo que está para acontecer em breve nesta licenciatura, após ter sido aprovado em conselho técnico e científico uma mudança no plano curricular, que “vai trazer boas mudanças”.

Em entrevista a O SETUBALENSE, a também investigadora no Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da Universidade Nova de Lisboa explica que há uma distância geracional cada vez maior entre professores e alunos, assegurando que a forma de ensinar hoje “não pode ser a mesma de há dez anos”, obrigando à procura de novas estratégias para que as aulas sejam “mais interessantes e apelativas” para os alunos.

Qual é a importância de um curso como Comunicação Social celebrar 30 anos?

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Três décadas demostram um percurso de consolidação do curso. O maior desafio de qualquer curso de comunicação é estar sempre em mudança e evolução, visto que o sistema mediático mudou de forma muito rápida e de modo muito profundo nas últimas décadas. Quando pensamos nas implicações da evolução tecnológica, tem aqui uma implicação grande para as profissões todas na área da comunicação, não só no jornalismo.

 Sabemos que as instituições de ensino, sejam escolas, politécnicos ou universidades, têm aqui uma mudança de velocidade mais lenta por imposições burocráticas, porque seguimos regras, somos avaliados, enfim, mas estamos a fazer esse esforço para acompanhar. Vamos ser avaliados agora pela Agência de Acreditação do Ensino Superior, e é quando nós podemos propor uma reformulação curricular.

O curso, da última vez que foi reformulado no currículo de um modo mais profundo foi em 2014, ou seja, há uma década. Agora temos essa oportunidade, e já foi aprovado em conselho técnico e científico, uma mudança no plano curricular do curso. Vai facilitar que muita coisa seja actualizada e que as disciplinas, as unidades curriculares, mas da área mesmo da comunicação, tenham um peso maior no curso, que era uma reivindicação dos alunos e das próprias instituições parceiras com quem nós temos o estágio. Então estou bastante optimista com estas mudanças.

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Quais as principais alterações que fez no curso desde que chegou à coordenação?

Desde que comecei até agora tem sempre evoluído no sentido de um maior investimento na área da comunicação em si. Nesta mudança curricular tentamos que algumas disciplinas que eram opcionais, em que os alunos tinham de escolher entre uma área ou outra da comunicação, passassem a ser obrigatórias. Então, várias áreas de formação que os alunos consideram muito importantes, vão ser agora disciplinas obrigatórias, como por exemplo Design Gráfico, Produção de Conteúdos de Multimédia, e Jornalismo Televisivo, que nós não tínhamos e vamos passar a ter.

Então é um investimento maior em disciplinas aplicadas da área da comunicação. Tenho aqui estes três exemplos de cabeça, mas a ideia é que os alunos façam e produzam produtos de comunicação no curso, nas disciplinas obrigatórias de uma maneira geral e escolham as disciplinas de opção para aprofundar dentro da área.

Têm a possibilidade nas disciplinas obrigatórias de trabalhar e não só fazer, mas também reflectir também sobre o que fazem, porque qualquer curso superior não é só prático, também é reflexão crítica, e o que eles possam fazer e reflectir sobre o que fazem nas várias áreas da comunicação. No jornalismo, na comunicação estratégica, no audiovisual, e isso é aqui o nosso objectivo.

Acredita que este curso, ao abranger várias áreas da comunicação, acaba por não aprofundar nenhuma?

Acho que isso é um problema de todos os cursos de licenciatura actuais. Porque é muito pouco tempo, são só três anos desde o processo de Bolonha e acho que quem quer aprofundar em alguma área, vai ter de fazer um mestrado ou uma pós-graduação que completa esta formação.

Isso não é uma questão exclusiva no nosso curso, é geral em qualquer área. Sim, nós temos um curso abrangente, o nosso curso não é especificamente jornalismo, é comunicação social e a ideia é dar uma formação que contemple, não só o jornalismo, mas de modo a equilibrar o jornalismo e a comunicação estratégica, são as várias vertentes, também um bocado de audiovisual. Há vantagens e desvantagens nisso. As vantagens são que as pessoas ficam com um conhecimento bastante ampliado das várias áreas da comunicação, mas como é óbvio não consegue um conhecimento aprofundado.

Quando assumiu a coordenação do curso, quais foram as prioridades que teve?

Acho que têm sido sempre sido duas prioridades. A primeira, é um relacionamento próximo com os alunos, tento sempre conversar com os alunos, estar sempre em diálogo para pensar quais são as expectativas, quais são os desejos, o que é bem avaliado, o que não é, tudo para tentar melhorar sempre com os alunos e esse esforço que nós temos feito nos últimos tempos de actualizar o curso, de planear e pensar essa reformulação curricular.

Quais as principais recomendações que os alunos deixam à medida que passam no curso?

Basicamente essa que vamos conseguir resolver, agora nesta reformulação curricular, que é distribuir mais disciplinas práticas da área da comunicação. Assim como outros cursos de licenciatura, nós temos várias disciplinas que são mais de base, da área das ciências sociais e que também acho que são muito importantes. Eu dou aqui uma visão crítica, reflexiva sobre o contexto social, político em que nós vivemos, mas temos de equilibrar isso com a necessidade dos alunos adquirem competências técnicas e críticas na área da comunicação. Na visão dos alunos e dos jovens hoje, em geral, a ideia é sempre fazer coisas, ou como eles dizem, “pôr a mão na massa”. E nesse novo plano curricular tentamos equilibrar isso.

Daí esta possibilidade de “pôr a mão na massa”, mas também não esquecendo a importância de reflectir criticamente sobre o contexto em que vivemos.

Com o crescimento das redes sociais e da forma das empresas trabalharem, tem existido essa necessidade de mudar algumas cadeiras relacionadas com essa área?

Sim. Basicamente nesta reformulação curricular, além dessa questão da prática, os alunos pediram enfase em duas áreas, o digital e o audiovisual, que são complementares aqui. Temos disciplinas agora que não estão obrigatórias, umas já eram, mas mais disciplinas obrigatórias nesta área, nestas duas áreas porque acho que hoje, quem trabalhe em comunicação precisa de dominar várias sub-áreas, digamos assim. A pessoa não só escreve, como depois tem de fotografar, gravar, editar. E sim, por isso estamos aqui a trabalhar com todas essas perspectivas. O digital, o audiovisual, em complemento com competências de escrita de texto, que acho que é a grande dificuldade dos alunos.

Acho que é das gerações também actuais, talvez leiam menos, são muito mais audiovisuais do que da linguagem e escrita, e temos aqui o desafio de conjugar essas coisas. Não posso pensar que é um curso somente técnico, que a pessoa vai aprender técnica, por exemplo de gravação, edição, de some imagem, têm de ler e interpretar o mundo e saber escrever sobre este mundo. Então, é conjugar todas essas competências, o que não é fácil.

Com a reformulação é preciso alterar alguns docentes ou de mudar de certa forma o modo de ensinar?

Sim. Temos novos docentes, temos feito novas contratações e tenho trabalhado muito com isso. Eu brinco com os professores, nós estamos a ficar cada vez mais velhos, e os alunos cada vez mais novos. Não é que os alunos sejam cada vez mais novos, mas há uma distância geracional cada vez maior entre professores e alunos, à medida que os professores envelhecem, e nós temos de estar atentos a isso.

A forma de ensinar hoje, não pode ser a mesma de há dez anos. Noto uma mudança muito radical, drástica, no modo de ser e estar dos alunos, de uma década para cá. Eles cada vez têm uma curiosidade pelo mundo, mas precisam de muito mais movimento do que há uma década. Temos de encontrar novas estratégias para que as aulas sejam mais interessantes e sejam mais apelativas para os alunos, que têm hoje uma gama infinita de possibilidade de adquirirem conhecimentos que não na sala de aula.

Actualmente sente que os alunos percebem a importância que teve o 25 de Abril?

Acho os alunos muito receptivos a pensar, a reflectir e a discutir sobre os 50 anos do 25 de Abril.

 Nós fizemos a Semana da Comunicação em homenagem ao tema. Juntamos 30 anos de comunicação e 50 anos de liberdade, era esse o tema para comemorar simultaneamente os 30 anos curso e os 50 anos do 25 de Abril. Os alunos estavam muito interessados e muito conscientes da importância de nós promovermos, pensarmos e não ter a democracia como algo adquirido, é uma coisa que temos sempre de construir e lutar por ela.

Os alunos estavam muito receptivos ao tema. Fizeram muitos vídeos para as redes sociais, entrevistas sobre o tema. E gostei de vê-los a pensar e a reflectir sobre a importância da democracia e sobre a importância da comunicação, do jornalismo para as democracias.

Desde que é professora que essa consciencialização é constante ou tem evoluído com o passar dos anos?

Os alunos interessam-se de um modo mais aprofundado por vários temas que têm directo ou indirectamente a ver com o 25 de Abril, com a democracia.

São mais despertos para a igualdade de género, não só raparigas como rapazes também, têm uma sensibilidade maior de inclusão de igualdade de género para a participação, para a democracia, como um todo. Tem uma maior consciência por exemplo de inclusão de outras minorias como por exemplo as minorias LGBTQI+, a questão das alterações climáticas. Noto que há uma preocupação muito maior para tentar ter hábitos e práticas sustentáveis. Acho que este tipo de temáticas aproximam as estudantes do debate sobre a democracia. Talvez, se discutirmos a politica partidária, não seja o mesmo nível de interesse, mas quando tem essas temáticas, que eles valorizam, acho que há aqui pontes que podem ajudar a aproximá-los mais do debate da democracia.

Tem-se visto cada vez mais jovens a cair para a extrema-direita. Isso acontece aqui no curso?

Felizmente, não. Acho que têm as duas forças. Tem um crescimento sim, as orientações em Portugal, ou em vários outros países do mundo demonstram um crescimento da extrema-direita. Mas por outro lado, eu também vejo, como disse, jovens muito atentos a essas outras questões e que são assim um bocado radicalmente opostas às bandeiras da extrema-direita. Com a evolução da inteligência artificial, existe um olhar mais atento dos professores?

Eu brinco com eles e digo “olhem eu já estou expert em ChatGPT”. O que eu exijo é a citação das fontes, especialmente para quem vai ser jornalista, não há jornalismo sem fontes de informação. Do mesmo modo não há investigação académica ou cientifica sem fontes de informação.

Podem pesquisar onde quiserem, mas têm de citar as fontes. Quando eu vejo um texto, que tem muita coisa escrita e não tem fontes nenhumas, das duas uma, e eu digo-lhes sempre, ou isso é conhecimento do senso comum que toda a gente já sabe ou é plágio. Então tenho aqui esta dicotomia entre trabalhos que vão muito pela linguagem e pelo conhecimento do senso comum, e outras podem ter dados e informações que podem ser plágio.

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