“O 25 de Abril levou-me o amor da minha vida”

“O 25 de Abril levou-me o amor da minha vida”

“O 25 de Abril levou-me o amor da minha vida”

Maria da Conceição perdeu o marido no dia da revolução. Era um militar comprometido com o regime. Apesar da dor, reconhece o valor da liberdade e agradece a bênção de já estar grávida quando o esposo partiu. A filha foi o raio de luz que ajudou a vencer a escuridão

O 25 de Abril de 1974 não foi apenas uma página virada na história, mas sim um turbilhão de emoções que moldou destinos de forma complexa. Maria da Conceição, 75 anos, uma mulher cuja vida foi gravada pelos eventos revolucionários em Grândola, mergulha nas profundezas das suas vivências.

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O esposo, José Martins, pagou o preço máximo, deixando uma ferida que oscila entre a mágoa pela perda e a gratidão pela transformação que a revolução trouxe. Um militar comprometido com o regime, era uma presença constante na sua vida, mas a felicidade do casal era frequentemente ofuscada pela guerra.

“Éramos uma família como as outras, mas a guerra estava sempre presente na nossa vida”, recorda. Foi no dia 25 de Abril que a sua vida se alterou para sempre. O seu marido, envolvido nos tumultos da revolução, perdeu a vida.

A dor da perda deixou uma marca inesquecível na sua alma, e a mágoa cresceu como se fosse uma sombra.

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“O 25 de Abril levou-me o amor da minha vida, é uma ferida que não tem cura [emociona-se]”. Mas, entre a dor e a perda, um raio de esperança surgiu quando, um mês após a morte de José, Maria da Conceição descobriu que estava grávida.

A notícia foi como um raio de luz a dispersar a escuridão que envolvia a sua vida. A gravidez trouxe consigo não apenas a promessa de uma nova vida, mas também uma força interior que não sabia que possuía.

A filha tornou-se uma âncora que a manteve firme nos seus dias mais difíceis. “A minha filha foi a minha razão para continuar”.

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Ao longo dos anos, tornou-se uma guardiã das memórias, carregando não apenas a saudade, mas também uma mágoa profunda pela forma como o destino se desdobrou naquele dia. “Não posso esquecer a dor que esse dia me trouxe, é uma mágoa que ficou em mim como se fosse a minha sombra”, conta.

Apesar da tragédia pessoal, reconhece que a revolução trouxe consigo mudanças significativas para o País, expressando a sua gratidão pela liberdade conquistada, mesmo que tenha vindo com um preço alto.

“Perdi muito naquele dia, mas também ganhámos algo valioso, a liberdade”, partilha entre suspiros de saudade e sorrisos tingidos de tristeza.

Hoje, enquanto recorda o 25 de Abril com uma mistura de emoções, Maria da Conceição é mais do que uma sobrevivente. A sua história é um eco poderoso de que, mesmo nas maiores adversidades, a vida pode florescer novamente, desafiando as sombras do passado e iluminando o caminho para um futuro cheio de possibilidades.

Jéssica Dias * Estudante de Jornalismo da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal

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