Calma durante a revolução. Uma alegria que ainda estava para sentir

Calma durante a revolução. Uma alegria que ainda estava para sentir

Calma durante a revolução. Uma alegria que ainda estava para sentir

Eulália Nobre tinha 21 anos no dia 25 de Abril de 1974. Viveu essa data histórica sem a alegria devida, por ignorar a dimensão do que estava a acontecer.

Revolução dos Cravos foi um momento de emoções fortes e difíceis de conter, alguns celebraram desde o primeiro instante, outros não sabiam o que celebrar.

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Eulália Nobre, 71 anos, recorda-se perfeitamente do 25 de Abril especialmente pela surpresa que sentiu porque, “não fazia ideia de que ia acontecer alguma coisa”.

Foi a caminho do trabalho, no autocarro, que começou a sentir algo no ar, pois as músicas que passavam na rádio denunciavam um futuro acontecimento. “Não liguei nenhuma”, afirma.

Durante toda a viagem, manteve-se calma e sem qualquer preocupação mesmo depois de ouvir o comunicado do Movimento das Forças Armadas (MFA). Quando chegou ao trabalho, finalmente questionou os colegas e sem uma resposta concreta, apenas sobrou um pensamento: “sou tonta, não há nada e estou a inventar”.

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Sentia uma enorme dificuldade em identificar o que se passava e então decidiu ignorar, até à chegada de um colega que lhe contou que tinha havido um golpe de estado. Reagiu com a maior tranquilidade à informação. “Pois, se calhar é isso” [risos], disse na altura.

Sabia que o país não estava bem, mas “não percebia que era a política que determinava isso”, levando-a a questionar o motivo de uma revolução.

Enquanto o dia passava sentia a alegria dos colegas, tão intensa que quase se tornava palpável, mas uma coisa não mudava em Eulália, sentia-se alegre pela felicidade dos outros, mas era incapaz de se sentir assim pelo acontecimento em si, porque não tinha consciência de que havia acontecido algo de tamanha importância e que iria mudar o país.

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Sem perceber o que o futuro lhe reservava depois da Revolução, continuou a trabalhar como se fosse um dia normal, pois não percebia a alegria que pairava no ar. Hoje, ao olhar para trás, os seus sentimentos mudaram por completo, agora percebe a necessidade da Revolução porque, “o 25 de Abril foi a nossa libertação, se não houvesse 25 de Abril, nós não estávamos aqui com esta conversa”.

E é com a alegria que há 50 anos não conseguiu expressar, que celebra este dia histórico. Eulália, a personificação da calma, receia que as gerações futuras não consigam perceber a importância da Revolução afirmando que “já nem a vossa geração sabe bem o que isso é”.

Entre gargalhadas, reconhece que Portugal não se encontra numa boa situação, mas “estaria bastante pior”. Reflectindo sobre o estado actual do país em que nasceu, mantem-se calma tal como há 50 anos se manteve.

*Estudante de Jornalismo da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal (ESE-IPS)

Guilherme Cabral*

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