Depois de ser o primeiro atleta do Naval Setubalense nos Jogos Olímpicos de Tóquio, que a mãe já não viu, Afonso Costa quer estar com o irmão em Paris, em 2024
Afonso Costa tem 26 anos, é professor de Geografia de formação, mas não está a exercer, ou seja, é atleta de Remo a tempo inteiro. Nasceu em Lisboa e passou toda a sua vida em Setúbal, até que, recentemente, se mudou para Coimbra. Mas continua afectivamente ligado á capital do Sado. “É a melhor cidade do mundo, só quero que os setubalenses fi quem orgulhosos de mim e do meu irmão, de estarmos a representar Setúbal e que a autarquia apoie e acredite mesmo nos atletas de gema”, diz.
O desporto faz parte da vida do atleta desde os 3 anos de idade. Tem praticado vários, como Natação, Aikido, Atletismo e Remo, porque a mãe sempre acreditou que a actividade desportiva faz parte da educação de uma criança.
Afonso Costa pratica Remo no Clube Naval Setubalense (CNS) há 17 anos e é onde pretende acabar a sua carreira porque é o clube da sua terra e que sempre o apoiou. “O meu treinador, Filipe Chagas, sempre me apoiou, principalmente nos momentos mais difíceis, sempre acreditou em mim e no meu irmão e acho que tenho uma divida para com o clube.” Como atleta de remo nunca conheceu outro emblema.
Decidiu experimentar esta modalidade porque queria um desporto aquático, e, gostou tanto que nunca mais parou de remar. Apesar da modalidade tanto poder ser praticada em equipa como individualmente, Afonso sempre encarou o desporto como uma actividade de equipa. Valoriza muito a confiança que está na base de uma verdadeira equipa.
Tem um regime de treino muito intenso, de quase seis horas por dia, num total de cerca de 15 sessões por semana e a preparação, enquanto atleta profi ssional, vai muito para além dos treinos. Implica uma dedicação de 24 horas por dia.
“O treinador vai com os atletas para a água, num barco a motor, de onde vai dando o treino. Antes disso, fixa os objectivos, e, após o treino, falamos sobre o que correu bem e o que correu mal.”, explica.
Para ir aos Jogos Olímpicos, é preciso talento, mas não só, sublinha o atleta. “Por trás do talento há muito trabalho, porque não basta só talento. Jovens talentos há muitos, mas pessoas que trabalham com o talento há poucas.”, refere.
A vida de atleta não é fácil de gerir, mas Afonso Costa conta com o apoio da mulher. “A maior dificuldade é abdicar da vida normal de um cidadão comum e ter de ser um atleta a tempo inteiro, mas, felizmente, tenho uma companheira que compreende, acredita em mim e sonha comigo nos meus objectivos. Este apoio é meio caminho andado para consegui ter algum sucesso. É essencial. Sem esse apoio e compreensão e respeito, mútuos, duvido que fosse possível conciliar a vida comum com os Jogos Olímpicos.”, afirma.
Competição começou logo que entrou na modalidade
Com apenas três meses de Remo, competiu pela primeira vez no Campeonato Nacional, onde ficou em 8º lugar. A partir dai foi só somar, provas e prémios.
Antes de uma competição, o atleta sente muita adrenalina, mas procura manter-se calmo e agarrar-se à confiança no seu parceiro de equipa.
Em 2021, no dia 8 de Abril, em Itália na cidade de Varese, Afonso Costa garantiu, pela primeira vez na história centenária do Naval, a presença de um atleta do clube nos Jogos Olímpicos, na modalidade de Remo. Competiu, no Campeonato da Europa, com o seu colega de embarcação, Pedro Fraga (39 anos), em representação da Selecção Nacional de Remo, tendo alcançado o segundo lugar, e respectiva medalha de prata, na categoria de Seniores Ligeiros Masculinos. Este resultado garantiu a presença da dupla nos Jogos Olímpicos de Tóquio.
No Japão, a dupla dominou de forma clara a final C, do princípio ao fim, depois de ter sido repescada. Os dois remadores consideraram terem provado na água que o seu lugar não era o 13º no double-scull que obtiveram antes da repescagem.
Actualmente, Afonso Costa faz equipa com o seu irmão, Dinis Costa, também atleta do CNS, e estão a tentar qualifi car-se para os Jogos Olímpicos de Paris de 2024. “Ter dois atletas do Clube Naval Setubalense e de Setúbal em Paris ia ser um orgulho”, sonha o jovem.
Afonso Costa lamenta que a mãe, entretanto falecida, não tenha chegado a vê-lo no ponto mais alto da competição. “A minha mãe não me chegou a ver nos Jogos Olímpicos, mas sempre foi o sonho dela. A pessoa que mais contribuiu para estes resultados, até mais que treinadores, amigos e resto da família, foi a minha mãe.”, afirma.
“O esforço que ela fez para que nós praticássemos desporto, para que sempre fizéssemos actividades, estivéssemos sempre ocupados, e conseguíssemos boas notas, é quase tudo”, acrescenta.
Afonso Costa presta tributo à memória da mãe quando recorda a final em Tóquio. “Esteve sempre comigo naquele barco dos Jogos Olímpicos”, conclui.
Afonso Costa à queima-roupa
Idade: 26 anos
Naturalidade: Lisboa
Residência: Coimbra
Modalidade: Remo
“Ter dois atletas do Clube Naval Setubalense e de Setúbal nos Jogos Olímpicos de Paris ia ser um orgulho”