30 Junho 2024, Domingo

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Vítor Pinto: “Estamos a trabalhar para levar o município de Almada ao porto seguro que queremos e merece”

Vítor Pinto: “Estamos a trabalhar para levar o município de Almada ao porto seguro que queremos e merece”

Vítor Pinto: “Estamos a trabalhar para levar o município de Almada ao porto seguro que queremos e merece”

Vítor Pinto confia que vai ser eleito vereador e que o desígnio do PAN é ser

Com um deputado eleito à Assembleia Municipal de Almada nas autárquicas de 2013 e de 2017, o PAN quer agora eleger, pelo menos, um vereador

 

Almadense, 42 anos, Vítor Pinto diz ter a experiência de quem viajou e trabalhou em vários países, o que lhe despertou ainda mais a consciência para a importância de se alterarem modos de vida para conseguir um mundo ambientalmente sustentável, estratégia que quer fomentar no concelho de Almada. Especialista em Acupunctura e Medicina Tradicional Chinesa, como profissão, colaborou em vários programas de cariz social e voluntariado.

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Ingressou no PAN – Pessoas-Animais-Natureza em 2019, e confia que os almadenses lhe vão dar um mandato para implementar as soluções que defende para o concelho. Afirma que as políticas animal e ambiental têm de estar de mãos dadas.

O que o motiva a candidatar-se à presidência da Câmara de Almada?

Viajei, trabalhei e fiz voluntariado em vários países, desde a Antártica ao Pólo Norte. Quando regressei, pouco tempo antes do início desta pandemia, decidi que era a altura certa para começar a ter uma participação cívica mais activa.

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Tendo por base os princípios e escolhas que sempre fiz, pela parte ambiental e sustentabilidade, entendo que a nossa maneira de viver tem de ser alterada, e isso fez-me tomar a decisão de ingressar na vida política.

Em Almada o PAN – Pessoas-Animais-Natureza apenas se candidata à Câmara e Assembleia Municipal. Porque não também às freguesias?

Os filiados do PAN no concelho de Almada têm vindo a aumentar, mas ainda não é o que desejamos. Observando o princípio da qualidade, preferimos concentrar os nossos esforços na Câmara e Assembleia Municipal para produzir políticas e alterações na forma como vivemos.

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O PAN tem participação na Assembleia Municipal de Almada há oito anos. Este foi o primeiro município onde elegemos um deputado municipal. É coerente termos também uma candidatura, com muita força, à Câmara para vincarmos as nossas políticas.

Qual o posicionamento político do PAN no município?

Quando se constrói uma estratégia para o município, ou outro território, temos de compreender o contexto de onde vivemos – político, económico e social – e fazer um diagnóstico das potencialidades, necessidades e valências. É na intersecção destas dimensões que estamos a trabalhar para levar o município ao porto seguro que queremos e merece.

Em Almada, em termos de diagnóstico, temos de começar pelas potencialidades naturais que tem, como uma frente atlântica fantástica e a intersecção com o Estuário do Tejo. Ambas são uma riqueza patrimonial inquestionável e, de forma gritante, têm sido sub- exploradas em actividades economicamente sustentáveis. Por isso pretendemos lançar para o Estuário do Tejo uma candidatura a Património Natural da UNESCO.

Qual o foco dessa candidatura?

A candidatura está relacionada com as potencialidades e particularidades do Estuário do Tejo. A natureza, parte cultural e actividades que o envolvem, tudo isto acaba por ser a fundação que alicerça toda uma estratégia de economia sustentável à volta do Tejo, tanto a nível turístico como de outras indústrias que possam surgir. Esta candidatura é a base para construir a estratégia para esta zona, e não abrange só o concelho de Almada, mas também todos os municípios do arco-ribeirinho, de forma integrada.

O turismo é um sector particular para essa estratégia?

Exactamente. Tem por princípio sustentar actividades económicas em que a predominância do turismo é inquestionável e, nesse sentido, alicerçar a estratégia turística sustentável. Para isso, pretendemos reconverter parte das actividades que economicamente já não são muito viáveis, caso de algumas relacionadas com a pesca artesanal entre outras, fazendo a reconversão para actividades mais em voga, caso da observação de cetáceos como os golfinhos que já entram no Estuário do Tejo, ou passeios no rio ligados a actividades culturais, como visitas às salinas.

Gostaríamos também de realizar um grande certame de actividades náuticas sustentáveis, trazendo referências do kit-surf, windsurf, surf, mergulho…, isto como forma de dinamizar esta área e fazer com que seja de referência a nível internacional, ligada a actividades náuticas.

Visamos ainda criar uma zona de protecção de surf na costa atlântica, considerado que os seus intervenientes têm tido um papel importante em chamar a atenção para as questões ambientais. Por isso, queremos dar-lhes relevância institucional como reconhecimento pela sua participação na dimensão de protecção ambiental, para além de chamar a atenção para sua actividade, e outras da náutica que se pratica no concelho.

Estas medidas traduzem a linha da sua candidatura em ter o ambiente como preocupação transversal?

Não. São apenas parte das valências. Não podemos descurar o ambiente de todas as outras dimensões, e a parte económica é incontornável. Não conseguimos definir uma estratégia de futuro sem passar pela dimensão económica, sendo que essa tem de ser definida mediante os parâmetros de análise de contexto: a direcção do vento que a economia está a levar e a necessidade pragmática de sucesso a nível económico. A economia verde é inquestionável sobre como a linha da história se vai desenvolver no futuro, mas também é uma necessidade moral e ética.

As políticas ambientais têm também subjacente uma política animal o que muda a forma como olhamos e nos enquadramos no ecossistema. Através da política animal constrói-se uma nova forma de olhar o mundo e alicerçar toda uma ecologia; mudamos de paradigma, passamos de uma visão antropocêntrica para uma visão ecocêntrica. A política animal é a base dessa mudança. Quando deixarmos de olhar os animais como inferiores, mas sim como estando connosco para construir uma sobrevivência minimamente sustentável e de bem-estar para todos, a ecologia torna-se fácil.

Qual a sua visão sobre o projecto Cidade da Água para os terrenos da ex-Lisnave, na Margueira?

A dimensão desse projecto vai ter um impacto brutal a nível de Almada. Em primeiro lugar temos de ter subjacente que parte do concelho vai ser das mais afectadas pelas alterações climáticas, principalmente pela subida das águas, isto a nível nacional. Estamos cá com um princípio de fiscalização, compreender se de facto o que vai ser ali feito tem um efeito a longo prazo, ou seja, aquele projecto tem de contemplar as alterações climáticas que, infelizmente, vão acontecer. A forma como o edificado vai ser construído e as actividades que ali vão ser criadas têm de levar em conta esta fatalidade.

Tem falado em instalar unidades promotoras de conhecimento naquele local.

Aquela zona ribeirinha pode ser um polo promotor de desenvolvimento do concelho se for projectada de forma sustentável. Para isso preconizamos, alicerçando com a estratégia económica, que ali sejam localizados polos de referência universitários como forma de potenciar o que já existe no concelho, caso da Faculdade de Ciências e Tecnologia, o Instituto Piaget ou o Instituto Universitário Egas Moniz. A questão é: porquê não continuar o desenvolvimento destas entidades de referência a nível da produção de conhecimento, que é tão necessário? Mais ainda quando pretendemos desenvolver no concelho uma economia de inovação ligada às energias renováveis, que consideramos ser a direcção do tempo que devemos seguir.

A Cidade da Água poderia ser uma localização muito interessante para receber esse tipo de polos.

Essa zona pode também receber habitação?

Consideramos habitação, mas a proporção relativa à densidade demográfica será chave. Aquela zona tem grande constrangimento a nível de acessos, e esta condição limita o número de fogos que ali se podem construir. Não queremos que aconteça o mesmo que na zona da Expo [em Lisboa] onde houve especulação imobiliária. Compreendemos que este sector é uma tentação para a edilidade, na medida em que é receita, mas não pode ser comprometida a estratégia de desenvolvimento de futuro nem a qualidade de vida dos munícipes.

Que modelo de desenvolvimento o PAN defende para o concelho?

Defendemos um desenvolvimento sustentável tendo em atenção as políticas animal e ambiental subjacentes a todas as dimensões da vida social, económica, desporto, saúde e mobilidade; tudo tem de ter um ambiente.

Para o concelho, ao nível económico, a estratégia que pretendemos seguir tem um cunho grande de potenciação turística de acordo com as mais valias ambientais existentes, daí a requalificação do Estuário do Tejo e da costa atlântica do concelho.

Queremos ainda criar um gabinete de incentivo ao emprego sustentável, procurando empresas de referência internacional em tecnologia verde – economia circular. De forma proactiva, é preciso fazer o levantamento das capacidades do concelho para cativar essas empresas criando sinergias com o conhecimento das universidades aqui presentes, também ao nível de logística e transportes, e assim criar polos de desenvolvimento económico compatíveis com o ambiente.

Quais os principais pilares da sua campanha eleitoral, começando pela mobilidade?

A mobilidade é de maior importância na redução das assimetrias sociais, tanto a nível nacional como local. Infelizmente, existem diferenças na forma como os munícipes têm acesso aos transportes públicos, mesmo para deslocações dentro do concelho.

É um desígnio fundamental melhorar a rede de transportes fazendo a transição do transporte singular para o colectivo e do transporte rodoviário para o ferroviário. Pretendemos também transitar dos combustíveis fósseis para os com emissões reduzidas ou mesmo para a energia eléctrica.

Defendemos ainda que o circuito do Metro Sul do Tejo [MST] seja alargado até à Costa de Caparica e também avaliar a viabilidade de reactivar o Transpraia [pequeno comboio que fazia a ligação entre as praias da cidade da Costa de Caparica e Fonte da Telha], que passaria a ir até à Trafaria, com ligação ao MST.

O facto da linha do MST não ser ampliada custa milhões todos os anos ao município e mina uma estratégia de mobilidade alternativa. Por exemplo: os milhares de pessoas que, diariamente no Verão, procuram as praias da Costa de Caparica, poderiam deixar o carro em Sete Rios, caso venham de Lisboa, apanhar o comboio [Fertagus] e, depois, o MST até à Costa de Caparica. Ao fim-do-dia, poderiam frequentar a restauração e o comércio do concelho e, seguidamente, fazer o percurso inverso, e sempre com boa oferta de transportes.

Ao nível da saúde?

Para o PAN não existe uma relação oposta entre a saúde humana, animal e ambiental, caminham paralelamente. É uma forma integrada de ver a mobilidade, deporto e a saúde. Preconizamos um grande plano integrado de saúde preventiva, em que arquitectamos a forma como desenhamos a cidade, por exemplo: aumentar as faixas verdes considerando uma estrutura integrada e sustentável.

Também retirar o automóvel e aumentar espaços para uso-fruto dos munícipes promovendo formas de mobilidade suave, onde se inclui a bicicleta e mesmo a locomoção pedonal. Pretendemos ainda criar grandes zonas de estacionamento nos limítrofes da cidade com pontos plurimodais onde se poderá fazer a transição do transporte individual ou colectivo para formas de mobilidade suave, isto a par de promover uma grande rede municipal de bicicletas.

Em continuidade com isto, é preciso promover vincadamente o desporto em Almada com iniciativas como as Seixalíadas, no Seixal. Ao mesmo tempo, queremos estabelecer uma parceria com o Hospital Garcia de Orta para que sejam reduzidas as taxas moderadoras para os praticantes de desporto. E ainda consideramos lançar no concelho um grande certame de desportos náuticos sustentáveis.

No sector da educação?

Como já referi, temos intenção de trazer para o concelho polos de faculdades de referência internacional. Queremos ainda criar “Cheques Dedicação”, que consistem em dar às famílias mais carenciadas a possibilidade de usufruírem de apoio escolar no sector privado, caso de centros de explicação e apoio ao estudo.

Entendemos que o investimento na educação é reprodutivo e estruturante, uma vez que muda o tecido social e promove a economia de valor acrescentado, e assim se constrói uma próxima geração.

Consideramos ainda implementar a educação cívica como grande projecto municipal, visando a política de educação ambiental e animal.

A falta de habitação pública é uma das matérias sensíveis no concelho. Que estratégia tem o PAN para este sector?

É de facto um problema. É preciso deslocar no concelho cerca de 8 mil pessoas que vivem de forma carenciada em diferentes bairros. Na costa atlântica temos casos como o II Torrão e as Terras da Costa, aquelas pessoas têm de ser realojadas, e para isso é necessário construir habitação, nas vertentes de renda apoiada e acessível.

Por outro lado, de forma mais genérica, um dos grandes problemas a nível habitacional em Almada é o custo do arrendamento. Isso é gritante quando a média dos salários andam pelos 800 euros e as rendas rondam os 600 euros; se isso já é difícil para um casal, é quase impossível para quem vive sozinho. A Câmara tem de ser um interveniente activo nas políticas de habitação e promover a construção e a reabilitação. E não venham falar em falta de dinheiro para isso, o que não há é vontade política.

O que mais critica nestes quatro anos de mandato do executivo bipartido PS/PSD, liderado pela socialista Inês de Medeiros?

É incompreensível que o MST não tenha avançado até à Costa de Caparica quando o executivo municipal é da mesma cor política do Governo [PS], poderão existir contingências, mas os esforços não foram seguramente aqueles que deveriam ter sido.

Outra situação é a frente ribeirinha do Ginjal em que grande parte do edificado é de um fundo de investimento privado; não se compreende que sejam questões económicas a impedir a recuperação de grande parte daquela zona. Fala-se de custos elevados para estudos e infra-estruturas devido à localização geográfica, mas a Câmara deveria protagonizar uma solução, como promover um acordo entre o promotor e as entidades financeiras para se chegar a um acordo de melhoria daquela zona.

Outro problema é a actual gestão de navegar à vista; a Câmara vai fazendo conforme se ouvem gritos de necessidade sem que exista uma estratégia definida.

Nas autárquicas de 2013 e de 2017 o PAN elegeu um deputado na Assembleia Municipal de Almada. Que resultado espera para 26 de Setembro?

7%. Queremos eleger um vereador. Queremos ser a força pelo Planeta no município: pela sustentabilidade pelo futuro da população; esse é o nosso desígnio. As políticas sejam elas económicas, de saúde, educação ou mobilidade têm de ter o ambiente subjacente.

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