Todos os dias são deitadas para o lixo toneladas de flores. Dez mil postos de trabalho em risco
A produção e comércio de flores “travou às quatro rodas”. A metáfora de Vítor Araújo, presidente da Associação Portuguesa de Produtores de Plantas e Flores Naturais (APPPFN) e proprietário da empresa montijense Florineve, serve para ilustrar o afundamento de um sector que “gera, segundo a avaliação do Governo, 800 milhões de euros” por ano.
“Parando, estamos a falar de um prejuízo de mais de dois milhões de euros por dia, com as flores e plantas que estamos a deitar fora todos os dias”, afirma o responsável, lamentando: “As vendas pararam quase cem por cento. Nas últimas três semanas deitaram-se fora toneladas de flores por dia.”
Os dias são de angústia e de incerteza quanto ao futuro. As despesas acumulam-se e não entram quaisquer receitas.
“Deixou de haver procura e de se vender flores, apesar de ter saído um decreto a determinar que o nosso sector é um dos que pode trabalhar”, faz notar.
São os primeiros efeitos da infecção que brotou à escala global e que, não satisfeita com as vidas que já ceifou, promete ainda plantar uma nefasta crise económica.
O abalo neste sector é visto como uma verdadeira hecatombe. Vítor Araújo lembra que uma boa parte das flores produzidas e grande fatia de plantas têm como destino o estrangeiro.
“Cerca de 30 por cento de flores de corte e 70 por cento de plantas eram para exportação, sobretudo para os mercados de Itália, França e Reino Unido.”
Mas agora tudo parou. “Maldita” Covid-19.
“Andamos praticamente a apanhar flores e plantas, a fazer tratamento fitossanitário, manutenção, para depois as deitar para o lixo”, volta a lamentar o presidente da APPPFN.
Empresas aguentam dois meses
Neste momento, reforça, as empresas “estão com dificuldade em manter postos de trabalho”. “Tivemos de recorrer ao ‘lay-off’. Temos de pagar 33 por cento dos vencimentos aos trabalhadores que foram para casa em ‘lay-off’ e assegurar os salários de outros, quando não temos quaisquer fontes de receita”, sublinha.
E vai mais longe: “Se não tivermos ajuda específica para o nosso sector, que está englobado no agrícola, muitas empresas não vão sobreviver mais do que dois meses.” Esse é o relato que “muitos associados” lhe fazem chegar.
Em risco “estão mais de cinco mil postos de trabalho directos e outros tantos indirectos”, adianta. Uma “desgraça”.
Os produtores continuam, porém, na esperança de que “as coisas melhorem rapidamente”, mas os apoios são “praticamente nenhuns” e as soluções governativas não enchem os olhos nem a barriga.
“A hipótese é recorrer ao crédito, endividar-nos ainda mais, com taxas mais altas, e agora fomos informados de que já não existe verbas da linha de crédito de 400 milhões de euros que havia sido disponibilizada para o sector agrícola”, revela.
“Continuamos a andar aqui e a esperar. Vão sair outras linhas de crédito para apoiar todos os sectores, mas ainda não sabemos quanto vai calhar a cada um”, acrescenta, sem esconder alguma expectativa.
Todo o apoio governamental que vier será sempre bem acolhido. Mas quanto mais rápido, melhor.
“Que não demorem muito a apresentar soluções para o nosso sector. Já só estamos a tentar manter ‘a cabeça de fora de água’”, apela o responsável, a concluir.