Dezenas de pessoas acorreram ao serviço hospitalar após este ter estado encerrado desde a passada semana
A Urgência Pediátrica do Hospital de São Bernardo, que pertence ao Centro Hospitalar de Setúbal, reabriu no dia de ontem, após ter encerrado na passada terça-feira por “falta de médicos”.
Ao que O SETUBALENSE pôde apurar junto do edifício, nas primeiras horas da manhã a sala de espera da Urgência Pediátrica contava já com dezenas de utentes, muitos deles à espera desde as 9 horas, horário em que o serviço hospitalar reabriu.
Com segurança à porta, que controlava a entrada e saída dos utentes, as crianças e jovens que ali foram atendidos podiam ser apenas acompanhados por uma pessoa, verificando-se assim diversos conjugues à porta, que se revezavam na assistência aos filhos e netos.
Um jovem casal esperava à entrada com uma bebé de meses, chegados “há pouco tempo” do município de Sesimbra, onde residem. Já uma jovem mãe aguardava, sozinha, pelo “filho pequeno” que deslocou o braço.
“Estou aqui há pouco tempo. O meu filho conseguiu pulseira amarela e tem sido rápido desde que chegámos, mas há muita gente que aqui está há muitas horas”, disse, acrescentando que aguardava pelo marido que acompanhava agora a criança até à ala de ortopedia.
Já os utentes a quem foi dada pulseira verde, esperavam, por volta do meio-dia, desde a hora de abertura do serviço.
“Estou aqui desde que as urgências abriram a acompanhar a minha filha e a minha neta, que está doente. Odeio hospitais. Perco aqui 50 anos”, disse um utente do município de Setúbal, visivelmente transtornado.
Também um outro homem, pai de uma criança constipada e com febre, proveniente do concelho de Palmela, aguardava à porta da Urgência Pediátrica, desde as 9 horas, local onde se encontrava um segurança que prestava esclarecimentos e orientações aos utentes.
Junto ao serviço de urgências encontravam-se também dois elementos da PSP, que vigiavam o local.
Foi ainda na passada sexta-feira que cerca de cinco dezenas de populares se reuniram, junto de representantes de diversas entidades do concelho de Setúbal, numa concentração que ocorreu à porta do Hospital de São Bernardo, onde ecoaram as frases “as crianças têm o direito à saúde” e “a luta continua”.
Na sequência da reabertura da Urgência Pediátrica, O SETUBALENSE tentou contactar, via e-mail, o Centro Hospitalar de Setúbal, mas, até ao fecho desta edição, não obteve qualquer resposta.
Presidentes de Câmara vão sentar-se à mesa com ministro da Saúde a 20 de Dezembro
Os presidentes das câmaras de Setúbal, Palmela e Sesimbra vão sentar-se à mesa com o ministro da Saúde a 20 de Dezembro, em encontro no qual esperam que Manuel Pizarro diga que vão ser encontradas “medidas que ajudem a resolver os problemas do Centro Hospitalar de Setúbal (CHS)”.
A reunião apenas foi marcada depois de André Martins (Setúbal), Álvaro Amaro (Palmela) e Francisco Jesus (Sesimbra) se terem deslocado na manhã de ontem ao Ministério da Saúde, em Lisboa, como tinham prometido na sexta-feira. Em causa está a “ausência de resposta” ao pedido feito na passada terça-feira, para que fosse agendada uma reunião urgente na sequência do encerramento da Urgência Pediátrica do CHS durante uma semana.
No Ministério da Saúde, os autarcas dos três municípios da Arrábida foram recebidos pelo adjunto e pela chefe degabinete do ministro da Saúde, Manuel Pizarro, sendo que a reunião com o governante ficou marcada para as 19 horas da próxima terça-feira. No encontro com Manuel Pizarro, os autarcas vão defender o “reforço dos quadros de pessoal” do Centro Hospitalar de Setúbal. Segundo André Martins, que falou em nome dos três edis, “a solução prevista para dar resposta aos problemas do CHS – contratação da prestação de serviços – não é nenhuma solução”.
“A contratação de médicos tarefeiros é uma medida que ajuda a resolver problemas, mas não é solução. Para nós, o que é importante é que se encontrem soluções. E essas soluções são medidas que garantam a contratação de pessoal de recursos para os quadros de pessoal, para que o CHS tenha capacidade para dar resposta às necessidades”, defen- deu o autarca sadino.
“Nós não nos podemos esquecer que só no concelho de Setúbal há mais de 50% dos cidadãos que não têm médico de família [e] que os centros de saúde no concelho não funcionam bem. E, quando há problemas, as pessoas dirigem-se às urgências”, acrescentou.
Questionado sobre a expectativa para a reunião com o ministro da Saúde, André Martins disse que não é importante saber se os autarcas partem mais ou menos optimistas para o encontro, mas “encontrar medidas que ajudem a resolver os problemas do CHS”.
“A nossa expectativa é de que o senhor ministro nos diga que vão tomar medidas no sentido de ir ao encontro a estas nossas preocupações, medidas que ajudem a resolver os problemas no imediato, mas que sejam também medidas que garantam o bom funcionamento e a capacidade de resposta dos serviços de saúde no futuro”, adiantou.
O Hospital de São Bernardo, que integra o CHS com o Hospital Ortopédico Sant’Iago do Outão, tem vindo a registar dificuldades em diversos serviços devido à falta de médicos, designadamente nas urgências de Pediatria, Ortopedia e de Obstetrícia e Ginecologia.