Ciclista quebra a maldição e chega ao lugar mais alto do pódio em Portugal e no estrangeiro
O “gigante” de Palmela (1,90 metros), Rafael Reis, já tinha terminado por três vezes no pódio. Conseguiu chegar pela primeira vez ao triunfo na elite masculina da especialidade do contra-relógio. Em grande forma, o ciclista arrebatou de forma concludente, poucos dias depois, o ouro para Portugal, na mesma especialidade, dos Jogos do Mediterrâneo, que decorreram em Oran, Argélia.
O atleta da Glassdrive-Q8-Anicolor sagrou-se campeão português de contra-relógio, nos Nacionais de ciclismo de estrada, que decorreram este ano em Mogadouro, Bragança, batendo Ivo Oliveira e João Almeida, dupla da UAE Emirates.
“Sinceramente, não estava à espera desta vitória. Tive covid-19 há três semanas. Tinha muita instabilidade nos treinos. Houve dias mais e outros mais ou menos. Depois de quarta-feira, as coisas começaram a sair melhor. Na quinta-feira, vi o percurso e, sendo um percurso que me favorecia, foi gerido da melhor maneira e consegui a vitória”, confessou no final, após a consagração.
Poucos dias depois, novo momento alto. Desta vez fora de portas, na Argélia, no decorrer do Jogos do Mediterrâneo Oran 2022. O ciclista palmelense conquistou a medalha de ouro do contra-relógio individual.
No esforço de 25 quilómetros, o campeão nacional da especialidade registou um tempo de 31,28 minutos, à frente do francês Enzo Paleni, segundo, a 50 segundos, e do sérvio Ognjen Ilic, terceiro, a 51. O outro português em prova, Fábio Fernandes, foi 11.o, com um tempo de 34,26.
“Estou bastante contente. Fiquei um pouco nervoso, vi a lista de participantes e esperava um bom resultado, o que para mim era vencer este contra-relógio, mas fica-se sempre nervoso, e com a responsabilidade acrescida de ser campeão nacional e representar a selecção. É muito bom conseguir esta primeira medalha de ouro”, declarou aos jornalistas, depois de confirmado o triunfo.
Rafael Reis, 29 anos, é um dos melhores contra-relogistas portugueses, mas com capacidade para lutar por vitórias em determinados terrenos. Não é trepador, mas é o chamado ‘puncheur’, ciclista especializado em terrenos planos com subidas curtas, mas íngremes, capaz de ataques mortíferos a alguma distância da meta.
Os ‘puncheurs’ são relativamente bem constituídos, com ombros mais largos e pernas maiores do que o ciclista de corrida médio.
Depois de despontar na W52-FC Porto, Rafael Reis deu o salto para o estrangeiro, naquela que foi a sua segunda experiência lá fora. Desta feita na Caja Rural, equipa espanhola do segundo escalão e com grande prestígio. Chegou a estar na Vuelta, mas regressaria, decorridos dois anos, à sua antiga formação, passando depois pelo Feirense.
Na carreira do jovem ciclista, o ano de 2021 fi cará também para sempre na memória. A Volta a Portugal que Rafael Reis realizou foi memorável, com quatro vitórias em etapas, vários dias de camisola amarela e a conquista da camisola verde dos pontos.
Durante aquelas dez etapas e um prólogo, houve muita felicidade na então Efapel, pois também Frederico Figueiredo e Maurício Moreira triunfaram. Muitos dos melhores momentos foram de um imparável Rafael Reis.
Foi imbatível no prólogo e, no segundo dia, a correr em casa, em estradas que tão bem conhece, tinha o plano bem delineado. Uma descida louca na Arrábida valeu-lhe uma espectacular vitória em Setúbal.
Porém, se esses dois dias terminaram exactamente como tinha previsto, o que se seguiu foi sendo delineado durante a corrida. O corredor recordou a sétima etapa, entre Felgueiras e Bragança, que acabou por vencer e vestir novamente a camisola amarela.
“Terminar a descer em Bragança, foi um plano. Ir para a fuga e fazer aquilo comigo e com o Luís Mendonça. A etapa era para ser para o Mendonça. Mas não podíamos esperar, estavam os perseguidores a 10 ou 15 segundos. Não podíamos parar. Foi uma decisão que tomámos em cinco segundos. Não dava, ele também teve azar, acaba por furar”, confessou na altura Rafael Reis.
O ciclista de Palmela tem agora 19 vitórias como profi ssional, três gerais em corridas por etapas, Volta à Bairrada e o Grande Prémio JN, ambos em 2016 e GP O Jogo 2022.
A carreira, ao mais alto nível, passou por algumas das melhores equipas do pelotão nacional como a W52-Porto, Efapel, Feirense, Tavira, Banco BIC-Carmin e no presente a Glassdrive-Q8-Anicolor. No estrangeiro correu, até agora, com as cores da Caja Rural – Seguros RGA e Cerâmica Flaminia-Frondiest.
Depois das fortes emoções vividas nos últimos meses, ao site especializado on-line GoRide.pt, Rafael Reis afi rmou que o essencial é estar focado no presente e não hesita em apontar a motivação como a principal mudança quando assinou pela actual equipa, a Glass-drive-Q8-Anicolor. “A motivação foi o mais importante que conquistei no ano passado. A equipa deu-me a confiança necessária e as pessoas acreditam em mim. Acho que os resultados vêm daí”.
Com contrato até 2024, Rafael Reis nem coloca muitos objectivos pessoais específicos. Nem mesmo repetir a fabulosa Volta a Portugal de 2021. O que quer é estar ao mesmo nível: “Tive um Inverno consistente, se bem que sofri uma lesão no joelho, mas estou bem preparado e acho que, mais cedo ou mais tarde, vou conseguir começar a apresentar resultados. Acho que vou estar bem durante o ano”.
Rafael Reis à queima-roupa
Idade: 29 anos
Naturalidade: Palmela
Residência: Palmela
Modalidade: Ciclismo
Satisfeito com aquilo que é e com o que pode dar no ciclismo