Profissionais dizem que complexo ao largo da Comporta prejudica pesca tradicional
Os pescadores de Setúbal e Sesimbra protestaram esta terça-feira, junto às zonas de descarga do pescado nos portos destas duas localidades, contra a instalação do complexo de recifes artificiais ao largo da Comporta, concelho de Grândola.
De acordo com o PCP, que participou no protesto, a instalação do recife “trará novas restrições à actividade da pesca e terá sérias repercussões económicas e sociais nas comunidades piscatórias”. O partido requereu, em Agosto, uma audição parlamentar à secretária de Estado das Pescas Teresa Coelho, e ao director-geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos, José Carlos Simão.
O requerimento para a audição na Assembleia da República foi aprovado por unanimidade, mas a iniciativa ainda não foi agendada.
Fernando Sousa, do Sindicato dos Trabalhadores da Pesca do Sul (STPS) disse a O SETUBALENSE que o protesto pretende também “evidenciar a falta de apoios do Estado” num momento em que o sector sofre com o aumento dos combustíveis.
Os pescadores e as organizações combinaram voltar à carga e marcaram nova acção de protesto para sexta-feira, às 10 horas, com um buzinão das embarcações junto aos portos de pesca.
A comunidade piscatória sublinha que o complexo de recifes na costa sadina “vai ser muito maior do que o que já existe em Portimão”, onde, segundo afirma o sindicalista, já só há pesca de anzol e submarina.
“Os pescadores não se podem render a isso. O TUPEM vai afectar os pescadores de Setúbal, de Sesimbra, e há-de afectar, depois, quando eles derem por isso, os de Sines. Mais dia menos dias os pescadores vão deitar os barcos para o lixo.”, acrescenta Fernando Sousa.
O recente regulamento da União europeia, que define as zonas de pesca de profundidade, é visto como outra limitação. A norma proíbe a pesca a mais de 400 metros de profundidade na região de Setúbal, afectando os pescadores que se dedicam à apanha de espécies de fundo, como o peixe espada preto, o imperador ou o cherne.
“São espécies apanhadas com palanque (pesca de anzol, mais antiga), uma arte a que a frota de Sesimbra se dedica muito pelo que este regulamento terá um forte impacto nesta comunidade”, antecipa Arsénio Caetano.
Este armador, proprietário de um pequeno barco, de nove metros, vê o futuro recife artificial como mais uma limitação à pesca tradicional.