Montijense acusa líder da distrital de “falta de vergonha” e diz que resultados do partido no distrito foram “os piores do País”
No rescaldo das eleições autárquicas, Paulo Ribeiro, presidente da Comissão Política Distrital de Setúbal do PSD, diz ter ficado com um “amargo de boca” pelo resultado que os social-democratas, em coligação com a IL, obtiveram no concelho do Montijo.
“Confesso que nos causa algum amargo de boca o concelho do Montijo, onde, ao longo do tempo, se foi dando todas as condições para que a candidatura que vinha a ser preparada há quatro anos tivesse sucesso e, por desistência do candidato [João Afonso], tivemos de procurar outras soluções”, diz o líder da distrital laranja, ao mesmo tempo que considera que as soluções encontradas deram “um bom resultado, atendendo às circunstâncias”. “Conseguimos manter representatividade com força na Câmara Municipal, nas outras autarquias e vencemos uma junta, pelo que não posso deixar de felicitar o candidato do PSD, Pedro Vieira, e também toda a sua equipa”. E reforça: “Não é fácil fazer o trabalho que se fez em tão pouco tempo, depois da desistência de um candidato que há quatro anos vinha a ser apoiado, preparado e que todos esperávamos que ganhasse a Câmara Municipal”.
“Com essa desistência tivemos de ter esta solução, mas estou certo de que Pedro Vieira será um grande vencedor e será muito importante para o desenvolvimento e para o renascer do concelho do Montijo”, antecipa.
Sem nunca referir o nome de João Afonso, Paulo Ribeiro prefere jogar à defesa quando instado a responder se acredita que o PSD teria vencido no Montijo caso João Afonso tivesse ido até ao fim como cabeça de lista.
“Acredito naquilo que estávamos a fazer, ou seja, a preparar um candidato há quatro anos e que até podíamos ter vencido com outro qualquer. O problema é que nós estivemos a trabalhar durante esse tempo para um objetivo e o protagonista desse objetivo, sem motivo relevante, provavelmente porque não acreditava que pudesse ganhar, desistiu e, portanto, não conseguimos testar se ganharia ou não.”
E, de seguida, lembra: “Tínhamos uma estratégia delineada para isso, em que todos os patamares de decisão do partido estavam a atuar, a agir e a cooperar. Era a grande aposta que queríamos fazer, porque tínhamos ficado a uma distância muito curta nas eleições de 2021”, conclui, numa alusão ao facto de João Afonso ter ficado a 351 votos de ganhar a Câmara nas autárquicas anteriores.
João Afonso reage
Confrontado com as declarações de Paulo Ribeiro, João Afonso não poupa nas críticas ao líder da distrital do PSD.
“Acho que é uma falta de vergonha, de bom-senso e de respeito do sr. presidente da distrital estar a dirigir-se aos montijenses, dizendo o que disse. Porque, o que disse é falso, é deturpado e é cínico”, afirma o montijense, que refuta a versão apresentada por Paulo Ribeiro.
“Não é verdade que me tenham sido concedidas todas as condições para me candidatar. Reivindiquei junto dos deputados e da Comissão Política Distrital do PSD um conjunto de investimentos para o concelho, como o novo acesso à Ponte Vasco da Gama, a construção da nova esquadra e o transporte do Metro Sul do Tejo para o Montijo, bem como a manutenção da maternidade no Hospital do Barreiro. Nada disso foi concedido”, recorda.
“Nestes governos de Luís Montenegro, o Montijo não teve praticamente nenhum investimento, nem nenhuma atenção, à exceção da variante para a Atalaia que, ainda assim, foi concebida sem atender às reivindicações dos autarcas do PSD do Montijo”, junta João Afonso, antes de passar à análise dos resultados obtidos pelo partido no Montijo.
“São os piores da história. Nunca tivemos um resultado parecido. Nunca tínhamos ficado em quarto lugar, completamente arredados da luta pelo poder. Foi um resultado de tal maneira mau, que seguramente colocará em causa o futuro do partido no Montijo na próxima década”, considera João Afonso, que vai mais longe. “O resultado no Montijo está em linha com os péssimos resultados que tivemos no distrito de Setúbal e que foram, apenas, os piores do País. Este foi o único distrito do País onde nós não lutámos pelo governo de nenhuma câmara.”
Quanto à sua saída da corrida à Câmara Municipal do Montijo, João Afonso reitera que os motivos foram outros. “Relembro o sr. Paulo Ribeiro, que ele, transmitindo a posição do partido em termos nacionais, me disse: ou eu me calava relativamente às críticas que fazia ao Governo e à ministra da Saúde ou então teria de sair. Essa conversa foi tida num momento em que a minha candidatura já estava suspensa pelo partido”, recorda.
E dispara: “Paulo Ribeiro entendia que nós temos de prestar vassalagem à direção nacional do partido. O que faz sentido na cabeça dele, porque ele basicamente faz parte de um aparelho partidário medíocre e seguidista, sem vontade própria e sem liberdade de expressão. Não faz sentido na minha, a identidade do PSD não é essa.”
“Para sermos um conjunto de carneiros acríticos, então podemos votar no PS ou em qualquer outro partido”, adianta o montijense, que deixa ainda uma outra crítica a Paulo Ribeiro.
“Para as últimas eleições legislativas, ele recusou-se a indicar um nome por esta zona de Montijo e Alcochete num lugar elegível para deputado. Para quê? Para atribuir esse lugar a pessoas que são da sua confiança pessoal. Pessoas que são manifestamente medíocres, sem qualidade política e sem credibilidade junto da população, que não eram eleitas nem na rua delas”, atira, a finalizar.
João Afonso “Montenegro tem de explicar reunião no Montijo com empresários de reputação duvidosa”

João Afonso justifica ainda o seu abandono da corrida eleitoral no Montijo com um outro motivo e baterias apontadas a outro destinatário: Luís Montenegro.
“Percebi e sabia que existia uma corrente dentro do PSD, ligada aos negócios e ao urbanismo, que não me queria como candidato à Câmara. Porque sabiam que eu não iria fazer os favores que eventualmente outros candidatos e outras criaturas fariam. Portanto, gostaria de dizer ao sr. presidente do partido que ele terá de dar explicações aos montijenses sobre esta questão e explicar, por exemplo, as suas relações perigosas com alguns empresários de reputação duvidosa”, dispara João Afonso.
“Semanas antes da minha suspensão de candidato pelo PSD, houve uma reunião num conhecido restaurante no Montijo onde esteve presente o sr. presidente do partido, Luís Montenegro, na qualidade de primeiro-ministro, e vários empresários, na área do urbanismo e da especulação imobiliária, de reputação duvidosa”, revela o montijense, que se escusa a adiantar nomes. “Cabe aos órgãos do partido esclarecer isso, se assim entenderem. Mas, se não entenderem, eu compreendo, porque hoje o PSD está controlado por uma estrutura partidária medíocre e avençada, que não aceita pessoas livres dentro do partido. Eu não era controlável nos jogos palacianos”, remata.