Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário e Comboios de Portugal anunciam fusão. Construção de um comboio português e maior aproveitamento das oficinas do Barreiro fazem parte de nova estratégia
Uma década depois as oficinas voltam à Comboios de Portugal (CP). A fusão entre a Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário (EMEF) e a CP foi anunciada ontem, mas o processo já havia sido aprovado em Conselho de Ministros no final de 2019. Renasce agora uma nova esperança para o polo do Barreiro que, segundo o dirigente sindical, João Ricardo, do Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector Ferroviário (SNTSF), “passou a última década quase ao abandono”.
Em declarações a O SETUBALENSE, o dirigente sindical comenta que os trabalhadores das antigas oficinas de CP nunca foram a favor da criação da EMEF.
“Sempre consideramos que estes serviços deviam estar integrados dentro da estrutura principal da CP, precisamente por receio de degradação dos equipamentos e das condições de trabalho e foi isso mesmo que se veio a confirmar ao longo desta década [desde a criação da EMEF em 1999], com especial destaque para o caso do Barreiro”, revela João Ricardo.
Apesar do recrutamento lançado pela EMEF em Setembro de 2019, para a contratação de eletromecânicos e serralheiros mecânicos em vários pólos, incluindo o do Barreiro, “o facto é que as remunerações, não são aliciantes. Estão na média dos 700,00 Euros e se tivermos em conta as condições de trabalho e as qualificações que são exigidas é uma contrapartida muito baixa”. Ainda assim João Ricardo confirma que as oficinas do Barreiro conseguiram colocar “alguns trabalhadores”, à semelhança de Santa Apolónia, Campolide e Oeiras.
Números pequenos, quando comparados com as 200 a 300 contratações que o sindicato vai agora exigir, para que o potencial de todas as oficinas seja aproveitado ao máximo, sobretudo no Barreiro.
“Se tivermos em conta o historial ferroviário do Barreiro e o seu potencial sendo que já foi o destino dos comboios da Linha do Sul podemos planear o grande potencial desta oficina e perceber que dificilmente poderia suportar grandes operações”.
EMEF sem resposta subcontratou serviços
João Ricardo refere que nos últimos anos a capacidade de resposta da EMEF tornou-se tão reduzida “que no Barreiro, assim como em outros pontos do país, começou a ter que subcontratar serviços e outras empresas de pintura ou serralharia por exemplo”.
Motivos que levam o sindicalista a afirmar que “os trabalhadores não entendem o porquê da criação desta empresa, se foi para deixar os serviços chegarem a este ponto”.
Nos planos de futuro fica “a vontade de reverter totalmente a situação de desinvestimento e confirmar que a aposta no sector ferroviário será uma mola para o país, tendo em conta as metas ambientais a que o Governo se está a propor”. Na lista de esperanças fica também “a renegociação de carreiras e salários”.
Em espera estão ainda os 20 milhões de euros que em 2019 o Governo prometeu investir na empresa.
Com a nova reestruturação a empresa fica representada por duas direcções. Uma dedicada à área de operações comerciais e outra à área de manutenção.
A Direcção de Manutenção e Engenharia vai dedicar-se à limpeza, manutenção e reparação e recuperação de materiais. Mais tarde esta direcção irá apostar na construção de um comboio português.
Já Direcção de Operações e Comercial vai contar com uma descentralização da produção entre o Norte, Centro, Lisboa e Sul. Assim como um rejuvenescimento dos quadros e a entrada de mais mulheres para cargos de direcção.
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Barreiro esteve quase a perder alma ferroviária
O fecho das oficinas da EMEF no Barreiro chegou a ser apontado em 2012, mas em 2014 a então presidente do conselho de administração da EMEF, Cristina Dias, confirmou a Carlos Humberto, à época presidente da Câmara Municipal do Barreiro, que as oficinas não só continuariam no concelho, como havia grande possibilidade de a sua actividade ser alargada.
As mesmas mantêm-se em funcionamento até hoje “embora em situação cada vez mais deteriorada e sem que o seu potencial e recursos sejam aproveitados ao máximo”, segundo alega o dirigente sindical João Ricardo, do Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector Ferroviário (SNTSF).