O alerta foi tornado público pelo Sindicato Independente do Médicos (SIM), que publicou uma missiva assinada por mais de 70 médicos, chefes de equipa, médicos especialistas e internos do serviço de urgência do Hospital de Almada
Vários médicos do serviço de Urgência do Hospital Garcia de Orta (HGO), em Almada, apresentaram minutas de escusa de responsabilidade, alertando para o esgotamento dos profissionais e exigindo condições para tratar os seus doentes.
O alerta foi hoje tornado público pelo Sindicato Independente do Médicos (SIM), que publicou uma missiva assinada por mais de 70 médicos, chefes de equipa, médicos especialistas e internos do serviço de urgência do Hospital de Almada.
Os médicos afirmam que foram atingidos todos os limites.
Segundo o SIM, que manifesta em comunicado estar solidário com os profissionais de saúde daquela unidade hospitalar, os médicos do Garcia de Orta exigem condições para tratar dos seus doentes e têm apresentado minutas de escusa de responsabilidade.
Na missiva, os médicos referem que “a situação que se vive no serviço de Urgência nos últimos dias está a ultrapassar os limites do imaginável e a esgotar os profissionais de saúde a todos os níveis” e que não têm obtido qualquer resposta dos superiores, com os quais, afirmam, têm comunicado via email nos dias em que estão de urgência através de descrições curtas e objectivas da situação e de escusas de responsabilidade.
“Sentimos falta de respeito, falta de plano, falta de gestão e liderança da hierarquia superior do HGO”, escrevem considerando que o que está a acontecer no Serviço de Urgência “não é gerível de forma nenhuma”.
Os médicos que subscrevem a missiva afirmam ainda que tentam encontrar motivação na profissão, mas que não existe motivação que possa “assegurar condições de segurança, qualidade, nem sequer nos mínimos aceitáveis para cuidar das centenas de pessoas a seu cargo” ao fim de oito, 12, 16 e 24 horas de trabalho.
“A chefia de equipa atingiu limites indescritíveis, com a sensação global de incapacidade de gestão de tantas áreas de trabalho, de mais de 80 doentes internados na UiMC, de quase 30 doentes internados no ADR (área dedicada para doentes respiratórios), de uma área de observação clínica sem espaço para dignidade, segurança, tratamento dos mínimos, higiene, controlo de infecção e um infindável de erros constantes por falta de tempo, de capacidade, de espaço, de limpeza, de recursos humanos e materiais”, referem os médicos na missiva.
Os médicos do serviço de urgência do HGO revelam ainda que há uma “franca incapacidade de administração terapêutica a tempo e horas aos doentes”, um problema que já existia, mas que agora, garantem, se agravou “de forma absurda e gravíssima ao ponto de muitas vezes chegarem já tarde demais ao tratamento seguro e eficaz de muitos doentes”.
“Se pudéssemos enumerar todos os problemas fundamentais (falhas na escala de outras especialidades, chegando à ausência completa de urgência de ginecologia e ortopedia numa urgência polivalente), alongar-nos-íamos demasiado nesta exposição e, na verdade, consideramos que já o fizemos por vezes sem conta e houve mais que tempo e oportunidades de tentar, pelo menos, corrigir algumas situações”, salientam.
Cientes de que o problema informático resultante do ataque de que o hospital foi alvo em Abril agravou toda a situação, os médicos defendem, contudo, que o mesmo não pode ser uma desculpa “para deixar que o caos se arraste no tempo e leve consigo os doentes”.
Este apelo, salientam, vem também da parte de todos os outros assistentes hospitalares e internos que cumprem horas no serviço de urgência, “e por certo dos enfermeiros e auxiliares e todos os outros profissionais que todos os dias lutam para conseguir chegar ao fim de um turno ilesos e com sensação de trabalho cumprido”.
“É urgente uma resposta, um plano, e estamos no limite de tudo o que é razoável. A nossa capacidade para tolerar esta situação termina agora. Não queremos compactuar com esta situação e, como tal, transferimos desde já a responsabilidade para o Conselho de Administração”, afirmam.
O Sindicato Independente dos Médicos refere que a situação foi já reportada ao Ministério da Saúde e aos responsáveis máximos do hospital.
GC / Lusa