O corpo de Isabel Velez, de 82 anos, foi encontrado pela GNR de Grândola a 1 de Agosto de 2020 na casa onde esta vivia com o filho, no número 10 da Rua 25 de Abril. Estava cadavérica, com escaras pelo corpo, sinal de que não se movia há muito tempo. A metade inferior da cama tinha fezes secas e toda a casa estava imunda. Em tribunal, no início do julgamento do seu filho, Carlos Rosa, o arguido negou a acusação do Ministério Público (MP) e jurou pela sua saúde que tomava conta da sua mãe.
O homem de 54 anos responde pelo crime de homicídio qualificado, que lhe pode valer a pena máxima. “Ela sempre foi uma pessoa magra, não comia muito, mas todos os dias a alimentava e só dois dias antes deixou de conseguir levantar-se para ir à casa de banho, não sei como ela chegou a este estado”, disse o antigo radialista, desempregado e a viver na casa da mãe há seis anos, quando se separou da então companheira.
O MP acusa-o de deixar propositadamente a mãe morrer à fome no quarto desta, enquanto passava os dias a ver televisão no quarto ao lado, com ambientadores para disfarçar o cheiro nauseabundo que provinha do quarto da idosa. Isabel faleceu nesse dia 1 de Agosto, foi o filho que alertou as autoridades, e já não saía da cama há pelo menos quatro meses. Era na sua cama que fazia as necessidades e era aqui que o seu filho alcoólico apenas a alimentava a leite e água, ficando com a reforma de dois mil euros mensais para gastar consigo.
O arguido não cozinhava, pedia ao merceeiro para lhe entregar em casa água, chá, sopas Knorr, tabasco, carne do lombo, leite, mel e marisco congelado, mas a última vez que comprou comida para a sua mãe foi em Janeiro, uma sopa.
Carlos Rosa negou o valor da reforma apurado pela investigação, disse que era de 950 euros, e que tinha que gerir duma forma poupada, como a mãe lhe pedia para fazer. Na descrição sobre o dia da morte de Isabel, Carlos Rosa entrou em contradição. Disse uma primeira vez que nesse dia tinha feito comida, que estava na cozinha, mas numa segunda referiu que falou com a mãe pelas oito horas e que foi dormir a sesta. “Quando acordei deparei-me com esta tragédia”.
Por várias vezes, Carlos Rosa foi interrompido pelo colectivo de juízes devido à postura assumida de negar que a sua mãe morreu porque não cuidou dela.
“A minha mãe comia, torradas, Cerelac era o seu preferido, não sei como é que podia ter chegado a este estado, talvez algo que não lhe tivesse sido diagnosticado”, afirmou Carlos Rosa.
“Não me venha com coisas”, disse a juiz, “o que está documentado não acontece em dois dias”. “Pode dizer o que quiser, acredita quem quer”.
A última vez que a idosa tinha ido ao hospital tinha sido há dois anos onde ficou internada durante dois dias. Foi-lhe diagnosticado no Hospital do Litoral Alentejano desidratação, sendo que a mesma se encontrava em péssimo estado geral. Já nesta altura estava ao cuidado de Carlos Rosa.