Presidente do Seixal afirma que o município está a acompanhar as medidas das autoridades de saúde no Jamaica e Cucena, e defende que estes bairros “não devem ser alvo de discriminação”, por causa da Covid-19. Moradores do Bairro da Jamaica apontam que cafés deveriam ter sido fiscalizados e encerrados mais cedo para conter surto
O presidente da Câmara Municipal do Seixal, Joaquim Santos, defende que “é errado centrar atenções apenas em determinadas comunidades, quando os focos de infecção por Covid-19 estão espalhados em todo o concelho”, de acordo com informação recolhida a partir dos bombeiros e com o mapeamento feito. E apela para que a situação não se transforme em “atitudes xenófobas, com a ideia de uma epidemia que atinge apenas negros, ciganos ou pobres”.
Após a confirmação de focos no Jamaica e Cucena pela Direcção-Geral da Saúde (DGS) a autarca é preponderante ao afirmar que “estes bairros não devem ser discriminados”.
Quanto a um possível plano especial para responder aos focos de Covid-19 no concelho, Joaquim Santos afirma que o município já tem resposta máxima no terreno e já “foi feito muito mais do que em algumas autarquias”, por exemplo, “com a distribuição de máscaras” e estruturas de apoio à população em vários pontos do concelho.
Estratégia que tem levado “a números muitos baixos” no diz respeito à propagação da Covid-19, “com o Seixal abaixo da média da Área Metropolitana de Lisboa em número de infectados por habitante”. Entre os 18 municípios da AML, o concelho estaria “em 13º lugar”, segundo o autarca.
Para já município está a acompanhar as autoridades de saúde nas medidas tomadas para conter os casos nos bairros da Jamaica e Cucena. “E a espectativa é de que seja possível reduzir ao mínimo estes focos de infecção”.
Uma das soluções para controlar o contágio por Covid-19 pode ser a aposta na educação para saúde. E nesta área município do Seixal já deu um primeiro passo, “aquando da distribuição de 1 milhão de máscaras”, que também incluiu distribuição de informação, “para explicar aos munícipes como e quando se devem utilizar estes equipamentos”. Mas Joaquim Santos admite que, “pode ser feito muito mais nesta área, sendo uma matéria em que município vai continuar a trabalhar”.
“Bairro da Jamaica calmíssimo com famílias a respeitar confinamento”
“A segurança das pessoas em primeiro lugar” é o lema defendido pela Associação de Desenvolvimento Social de Vale de Chícharos desde que o Governo decretou o confinamento e distanciamento social, como medidas essenciais para controlar a Covid-19 e prevenir contágio. Mas, perante os 16 casos confirmados no bairro pela DGS, Salimo Mendes, representante desta associação, afirma que havia um problema central apenas solucionado agora. “Os cafés que continuaram abertos dentro do bairro, sem fiscalização e a reunir muitas pessoas que vinham de vários pontos do concelho”.
Assim que as autoridades de saúde decretarem o encerramento dos cafés “ficou tudo calmíssimo, com as famílias em casa a respeitar o confinamento”. Aliás, Salimo Mendes defende que desde o início da pandemia as famílias que vivem no Bairro da Jamaica “sempre respeitaram as regras” o problema foi “quem veio de fora”. Por isso, o representante dos moradores afirma que “a medida deveria ter sido imposta mais cedo”.
Do ponto de vista cultural e da pequena economia, que gira em torno do bairro, Salimo Mendes reconhece que pode haver “quem discorde da medida”.
Afinal, “os pequenos cafés são a fonte de rendimento dos proprietários, mas ressalva “não devemos trocar dinheiro pela saúde e estes comerciantes devem pensar na saúde da população”.
Quanto às questões culturais o apelo é feito à população. “Sabemos que para as comunidades de origem africana é difícil manter o distanciamento das famílias. Têm por tradição reunirem-se aos fins-de-semana, mas estamos a lidar com um vírus que ainda não tem cura e todos precisamos fazer sacrifícios para proteger as pessoas que nos são queridas”.
Até porque esta informação tem sido passada à população, todos os dias, “com a Protecção Civil passar pelo bairro para recordar as medidas de protecção que devem ser respeitadas”, afirma. E no dia 16 de Maio a Câmara Municipal do Seixal, com o apoio da Associação de Desenvolvimento Social de Vale de Chícharos, entregou seis máscaras a cada membro de cada agregado familiar.
150 famílias ainda aguardam novas casas
A última reunião entre os moradores do Bairro da Jamaica e a Câmara municipal do Seixal, para articular a continuidade dos realojamentos iniciados em Dezembro de 2018, “ocorreu em Março passado”, recorda Salimo Mendes, representante da Associação de Desenvolvimento Social de Vale de Chícharos.
A pandeia interrompeu, “por agora”, o processo para realojar as 150 famílias que ainda permanecem no bairro, “com o município a dedicar a sua resposta máxima ao combate a esta doença”.
As últimas informações a que os moradores tiveram acesso “também indicavam que havia demasiada burocracia para ultrapassar, até porque são muitas casas”. Mas Salimo Mendes está confiante de que entre os moradores e a autarquia tudo será possível “superar”, para concluir os realojamentos.