Durante aproximadamente duas horas, os candidatos da CDU, PS e coligação PSD/CDS-PP fizeram o diagnóstico do concelho, com olhos postos na atracção de investimento e na criação de emprego
O auditório do Cineteatro de Grândola recebeu, esta terça-feira, o debate autárquico promovido pelo jornal O SETUBALENSE, em parceria com a rádio Sines, rádio M24, jornal O Leme, rádio Popular FM e a Morning Panorama, com três dos quatro candidatos – o Chega não se fez representar – à Câmara Municipal de Grândola.
A discussão, moderada pelo director de O SETUBALENSE, Francisco Alves Rito, em torno dos vários temas desenrolou-se de forma pacífica, sem a presença do público em geral, devido à pandemia de covid-19, mas teve transmissão em directo nas redes sociais de cada um dos órgãos de comunicação social envolvidos nesta operação, tal como definido para os anteriores e os futuros debates.
Numa avaliação sobre o diagnóstico do estado do concelho, onde houve perda de população, segundo os últimos Censos, o candidato do Partido Socialista, António Candeias, realçou que Grândola tem todas as condições para ser “um concelho modelo” a nível nacional por ser um “território apetecível” e ter “uma centralização extraordinária como ponto logístico para todo o País”.
O candidato defendeu ainda medidas geradoras de “mais emprego” para alterar a tendência de perda de população, como a “introdução de indústrias e de investidores com projectos adequados”, alertando, no entanto, que esse cenário “traz outros problemas” ao nível da habitação.
“Vamos trazer mais pessoas, quando não temos condições para as receber, nem habitação suficiente para acomodar os trabalhadores que vêm para aqui trabalhar”, criticou.
Para António Figueira Mendes, candidato da CDU, o concelho está “num período crucial”. Do ponto de vista turístico, salientou, o município atingiu “um nível que deve ser repensado” para “manter os equilíbrios”.
“Não queremos ser a costa algarvia, nem a costa espanhola e os instrumentos de planeamento, que ao longo dos tempos têm vindo a ser actualizados, já não permitem que isso venha a acontecer”, afirmou.
Mas para o candidato da coligação PSD/CDS-PP, Jacinto Ventura, “é notória” a falta de “capacidade para receber todo o investimento” previsto para o concelho que “está na moda”. “Estamos num sítio bastante estratégico, a nossa costa ajuda muito o turismo com estes empreendimentos que têm sido construídos, mas a verdade é que temos de repensar o que queremos”, defendeu.
No entender do candidato da coligação, “o volume” de investimento no sector do turismo “foi de tal ordem” elevado que “a estrutura do concelho não estava e não está preparada para isso”.
“A desertificação é um ponto geral em todo o lado, mas aqui como é que alguém consegue pagar 500 euros de IMI [Imposto Municipal sobre Imóveis] por um apartamento com uma renda de 600 euros”, questionou.
Área da habitação preocupa
Jacinto Ventura (PSD/CDS-PP) propõe habitação sustentável e a custos controlados” e parcerias que permitam a aquisição de terrenos nas zonas do interior e mais periféricas “para se criar alguns polos habitacionais”.
Também António Figueira Mendes (CDU) reconheceu que a habitação é um dos principais problemas do concelho de Grândola e que, apesar da aposta do município na habitação social remontar ao final dos anos 70, ainda é “insuficiente”. “Olhando aqui à volta, dos municípios pequenos, Grândola é quem tem mais habitação social”, defendeu.
“Fomos também dos primeiros a candidatar à Estratégia Local de Habitação (ELH) e dessa estratégia uma primeira tranche é para recuperar o património edificado” e social.
“Neste momento dispomos de mais cerca de 60 lotes para habitação a custos controlados e estamos a tentar adquirir terrenos para construir habitação a custos controlados. Vamos rever os PU (Planos de Urbanização) do Carvalhal e Melides para permitir mais habitação e fazer o levantamento das casas abandonadas”, para reabilitar e colocar no mercado.
António Candeias (PS) partilhou da opinião dos restantes candidatos em matéria de habitação, reconhecendo que se trata de um problema que “se está a agudizar no território”, por força dos investimentos e da procura de terrenos, apontando como solução “a aquisição de terrenos para a construção de habitação a custos controlados” em associação com cooperativas ou outras entidades.
“Os PU, por forma da renovação do PDM [Plano Director Municipal], foram muito reduzidos nas aldeias e vilas, o que não deixa espaço para encontrar terrenos a custos mais vantajosos e beneficiar todos os grandolenses”, frisou.
A construção de habitação a custos controlados “deve ser acompanhada de outras medidas” como incentivos aos jovens “para aquisição de primeira habitação”, implementando o IMI familiar e reduzindo em “0,5% o IRS”, acrescentou.
Turismo divide candidatos No capítulo do turismo, o candidato da CDU, António Figueira Mendes, recordou que em 1974 estavam aprovadas “120 mil camas” para a faixa costeira de Grândola e que, actualmente, existem “15 mil” após a revisão do PDM há cerca de quatro anos.
“Neste momento, não existe lugar para novos empreendimentos turísticos na faixa costeira” de Grândola, revelou. “Ainda há dois em Troia, e o que constatamos é que todos esses novos empreendimentos, à luz da nova filosofia para o turismo e imobiliário, têm vindo a reduzir a carga do ponto de vista da construção, o que mostra uma nova visão”, acrescentou.
Com a revisão do PDM, “procuramos trazer o turismo também para o interior do concelho” onde “estão a aparecer empreendimentos turísticos de grande qualidade que vão equilibrar a ocupação do território”.
Para o socialista António Candeias, tem havido desenvolvimentos acrescidos nesta área, porque “cada vez mais os promotores têm a noção que só conseguem vender se tiverem um bom produto, qualidade e condições”.
Mas, alertou, este desenvolvimento também deve ser bom “para os que cá vivem” e que “não têm usufruído”. Defendeu ainda que o turismo “passa por termos praias para todos”, apontando para a “inibição” no acesso a zonas balneares e para o “estacionamento pago” em algumas praias.
Já o candidato do PSD/CDS-PP, Jacinto Ventura, “não vê o turismo como o caminho certo”, tendo em conta os investimentos “em fase de construção” e outros aprovados na orla costeira, cuja construção ainda não arrancou.
“O [empreendimento] Costa Terra tem menos camas, mas consegue ter um campo de golfe junto a uma falésia”, criticou o cabeça-de-lista, acrescentando que “os grandolenses vão ficar limitados e usufruir apenas da praia de Melides”.
“Achamos que se deve criar mais apoios de praia e defendemos que o turismo junto à orla costeira já passou o limite”, salientou, defendendo o turismo rural e de natureza.
Sobre a política fiscal, António Candeias explicou que no seu programa eleitoral “está contemplado o estudo e eventuais modificações dos impostos”, frisando não haver necessidade de alterações ao nível da derrama.
Por seu lado, Jacinto Ventura defende a criação de uma taxa turística de dormida nos hotéis acima de 4 estrelas para “direccionar para as associações locais”, a cobrança de uma taxa aos empreendimentos turísticos com captação excessiva de água, a implementação do IMI Familiar e a manutenção do IMI nos 0,35%.
E António Figueira Mendes defendeu que os impostos devem estar de acordo com a situação financeira de cada município, admitindo a redução do IMI e a manutenção dos valores no caso da derrama.
O ciclo de debates promovido por O SETUBALENSE prossegue hoje, pelas 11 horas, com o frente-a-frente entre os candidatos a Sines.
Educação Requalificação da Escola António Inácio da Cruz aqueceu os ânimos
Os candidatos tiveram ainda oportunidade de debater temas relacionados com a educação e a saúde, áreas abrangidas no processo de transferência de competências.
A requalificação da Escola António Inácio da Cruz acabou por protagonizar o momento mais aceso do debate, depois de o candidato do PS, António Candeias, questionar António Figueira Mendes, candidato da CDU, sobre os motivos que levaram o executivo municipal a rejeitar a proposta do Governo para a sua requalificação.
Além de sublinhar que aquele estabelecimento de ensino não é da competência do município, António Figueira Mendes reafirmou que se tratou de uma decisão política.
Ainda neste capítulo, Jacinto Ventura, candidato do PSD/CDS-PP, criticou o contrato proposto pelo PS, mas alertou para a urgência de se avançar com a requalificação daquela escola.