Natural de Sines, era funcionário do partido desde 1947. Faleceu ontem, aos 99 anos. Funeral é amanhã de Sines para o crematório de Setúbal
Américo Lázaro Leal, membro do PCP desde 1947, dirigente do partido e “destacado
resistente antifacista e exemplo de luta pela conquista da liberdade e democracia para os trabalhadores e o povo”, faleceu ontem, aos 99 anos de idade, informou a Direcção da Organização Regional de Setúbal (DORS) numa nota divulgada este sábado.
Foi deputado eleito pelo distrito de Setúbal, durante duas legislaturas, dirigente dos órgãos do PCP do Litoral Alentejano,, da DORS e do Comité Central do partido e destacou-se na tentativa de reforma agrária, com acções sobretudo no sul do distrito.
O funeral realiza-se amanhã. O velório é, de manhã, na capela do Cemitério de Sines, e a cremação no Complexo Funerário de Setúbal, entre as 14h30 e as 15h30.
Natural de Sines, Américo leal, começou a trabalhar aos 12 anos, idade em que ficou órfão, como operário corticeiro. Em 1943, em Lisboa, é preso pela PIDE. Permanece 45 dias no Aljube, onde conheceu Militão Ribeiro, dirigente do PCP também preso, que o liga ao Partido.
Em 1944 aderiu ao PCP, quando regressou da tropa e à sua terra. Assumiu tarefas na organização do Partido ligada à indústria corticeira e no organismo da direcção regional do Alentejo Litoral. Integrou o Comité Nacional da Cortiça, composto inicialmente por corticeiros do Barreiro, Évora, Silves e Sines. Nos finais de 1945, integrou a delegação de corticeiros que expôs ao Governo a necessidade de um acordo colectivo de trabalho, acordo esse conquistado em 1947.
Fez parte da comissão local do Movimento de Unidade Democrática (MUD).
Uma jornada de inscrições nas paredes de Sines, levou à sua perseguição pela GNR. Em 1947 passou à clandestinidade, e a funcionário do Partido, com a sua companheira de sempre, Sisaltina Santos, com quem tinha casado em 1946.
Durante os 27 anos na clandestinidade, assumiu tarefas em diversas regiões do País. Foi cooptado para o Comité Central do PCP em 1956, organismo de que fez parte até 1988.
Em 1974, aquando do 25 de Abril, encontrava-se no Porto. Regressou a Sines, dias depois do 1.º de Maio, com a sua companheira. São recebidos efusiva e calorosamente pelo povo de Sines, numa demonstração de reconhecimento pelo seu heroísmo na resistência anti-fascista e na luta pela liberdade e democracia.
Assumiu responsabilidades ao nível das organizações concelhias do sul do Distrito de Setúbal. Passou, nessa altura, a integrar a Direcção da Organização Regional de Setúbal, organismo a que pertenceu até 2015. Américo Leal teve um papel destacado no trabalho de direcção do Partido na luta da Reforma Agrária, em particular no sul do distrito.
Foi deputado à Assembleia Constituinte e nas duas primeiras legislaturas da Assembleia da República, sempre eleito pelo distrito de Setúbal. É autor dos livros “O rosto da Reforma Agrária” e “O Vale do Sado no Mundo de dois opostos”, editados pelas Edições Avante!, e de “Quem somos! -Testemunhos” (edição de autor). Como dirigente da União dos Resistentes Anti-fascistas Portugueses (URAP), participou com muitas centenas de crianças e jovens em debates e reuniões sobre a luta anti-fascista e a Revolução de 25 de
Abril de 1974.
Como activista da Comissão de Utentes da Linha do Sado, deu um contributo decisivo na
defesa do serviço público ferroviário e da electrificação da linha.
“A vida do Camarada Américo Leal é um exemplo de que é a persistência da luta que constrói a liberdade, a emancipação e a felicidade dos trabalhadores e do povo. Foi assim contra o Fascismo e na Revolução de Abril. É assim agora, na luta por uma política patriótica e de esquerda, pela democracia avançada, pelo socialismo, pelo comunismo.”, conclui a nota assinada pelo secretariado da DORS.