FIGURA DO DISTRITO
Lídia Sequeira
Porto, porto e meio
Faz reserva da idade, mas não consegue esconder as convicções muito vincadas e o fortíssimo sentido de orientação para a visão estratégica.
Maria Lídia Ferreira, Sequeira, licenciada em Economia, especialista em transportes, gestora pública reconhecida, com vasto currículo, é reservada, mas, quando tem que falar, fala com a propriedade do conhecimento e experiência dos velhos sábios.
Foi activista sindical e até simpatizante da UDP no pós-25 de Abril.
Poucas pessoas tiveram em 2018 tanta influência e impacto como ela na região de Setúbal. A acção de Lídia Sequeira atinge toda a península, com implicações fortes e directas de Setúbal ao Barreiro.
Como presidente da Administração do Porto de Lisboa, que é dona do projecto do Terminal de Contentores do Barreiro, mantém a cidade e o concelho, com tão relevante vocação industrial, suspensa dos avanços e recuos do processo. Entre os primeiros e os segundos estudos de impacte ambiental e localizações, mudaram-se posições partidárias, refizeram-se projectos e reformularam-se muitos aspectos dos instrumentos de planeamento em construção. Quando Lídia Sequeira toma uma decisão, o terreno político e económico treme no Barreiro.
Em Setúbal a sua acção é ainda mais sentida e o seu nome ficou bem mais conhecido no ano passado.
O Projecto de Melhoria das Acessibilidades Marítimas aos Porto de Setúbal, um investimento de 25 milhões de euros para que a cidade tenha “um novo porto”, como diz, geraram a maior reacção social dos últimos anos no concelho. O medo do que as dragagens possam estragar no Estuário do Sado e no Parque Marinho Luís Saldanha, ofuscou o brilho da prosperidade que o projecto promete. Lídia Sequeira mostrou estratégia, prioridades bem definidas e acenou como a nova marina ligada ao Cais 33 e até com um terminal de cruzeiros, mas nem essa perspetiva de sonho convenceu toda a gente.
Além disto, a experiente gestora conheceu em 2018 o amargo gosto do “seu porto” paralisado pela luta laboral. Foi vitima no Porto de Setúbal, o ano passado, da precariedade quase total do trabalho portuário, um modelo de que os sindicatos dos estivadores a acusam de ter sido a criadora, quando passou pela Administração do Porto de Sines.
Esse problema está, pelo menos por agora, arrumado. Permanece a polémica das obras do porto de Setúbal e a incerteza do terminal no Barreiro.
A história dirá como a firmeza, quase teimosia, de Lídia Sequeira ficará gravada no cimento dos anos. Porto, porto e meio?
FACTO DO ANO
Novo passe Social a 40 euros revoluciona transportes
Em Outubro de 2018, o Governo e a Área Metropolitana de Lisboa (AML) anunciaram o lançamento do Passe Social Intermodal com um custo individual fixo de 40 euros e um máximo de 80 para famílias, numa decisão política inédita e de profundo impacto na vida de muitos milhares de pessoas de toda a região.
Um novo título de transporte, aprovado pelos 18 autarcas dos municípios da AML, surgia assim com a marca “Carris Metropolitana” e a expectativa de permitir aos utentes circular em qualquer tipo de transporte público de passageiros, desde os operadores ferroviários, como a CP e Fertagus; aos operadores fluviais, como a Soflusa e Transtejo. Sem esquecer o Metro e as carreiras rodoviárias urbanas e interurbanas.
Quanto à aplicação do passe, na península de Setúbal foi confirmado que abrangeria 9 municípios: Almada, Alcochete, Barreiro, Palmela, Moita, Montijo, Seixal e Setúbal. Com o Governo a garantir que a medida entraria em vigor a 1 de Abril de 2019.
Os autarcas exultaram com a medida. A presidente da Câmara de Setúbal, Maria das Dores Meira, por exemplo, destacou-a como contributo para fixar mais população nos municípios da península e melhorar a qualidade de vida. Contudo, os autarcas mantém a preocupação sobre o modo como os municípios podem ser compensados financeiramente, tendo em conta que o exige às autarquias da península, por ora, um investimento total de 30 milhões de euros por ano.