Apresentação do projecto juntou mais de duzentas pessoas. São 10 novas estações em 7 quilómetros de linha que vão ligar o Monte da Caparica à Trafaria com um grande interface na Costa da Caparica

A apresentação pública da expansão do Metro Sul do Tejo (MST) no concelho de Almada, entre o Monte da Caparica e a Trafaria, surpreendeu os promotores com uma adesão que quase duplicou as previsões da organização. Os 125 lugares do auditório da Uninova, Instituto de Desenvolvimento de Novas Tecnologias, no Monte da Caparica, de repente tornaram-se insuficientes para acolher as mais de duas centenas de pessoas que se apresentaram para assistir ao evento, ao início da noite desta segunda-feira. Foi aberto um segundo espaço, no átrio do piso de baixo e, com recurso a um ecrã, lá foi possível acomodar todos os interessados em assistir mas, ainda assim, com muitos em pé juntos às paredes e outros a espreitarem à porta.
“Temos de confessar que não estávamos à espera de tanta gente”, disse José Carlos Ferreira, um dos professores da Faculdade de Ciências e Tecnologias (FCT) da Universidade Nova de Lisboa (NOVA) coordenadores do processo de participação pública, juntamente Lia Vasconcelos, professora com experiência noutras auscultações da comunidade, sensíveis ou polémicas, como a da Cova da Moura, sobre o Programa Bairros Críticos, ou o do Parque Luís Saldanha. A coordenadora espera “conseguir envolver e mobilizar as pessoas porque o conhecimento que têm é do terreno, enquanto o dos técnicos é por cima”.
“Estão apertados mas por uma boa razão, porque muita gente quer ouvir”, atirou o diretor da faculdade. José Luís Alferes garantiu que as sessões seguintes já serão no auditório maior, com 498 lugares, que, mesmo assim espera encher.
O projecto apresentado é o trabalho de seis meses dos técnicos do grupo que junta representantes das três entidades envolvidas no estudo prévio da extensão do MST, nomeadamente do Metropolitano de Lisboa (ML), Câmara Municipal de Almada (CMS) e Transportes Metropolitanos de Lisboa (TML).
Para já, o grupo de trabalho construiu um primeiro esboço, quer do traçado quer do número e localização da estações e busca agora, com a participação pública, “consolidar” essa proposta que, no entanto, só será definitiva quando estiverem concluídos quatro estudos técnicos de que apenas um já se iniciou; estudo de procura (em curso), de topografia (adjudicado), geotecnia (em adjudicação) e o estudo de tráfego rodoviário (em preparação).

O resultado final de todos estes estudos só tem de ser entregue ao Governo em Dezembro de 2026 pelo que o trabalho realizado está bem a tempo de incorporar os contributos da comunidade. “Isto não é uma folha em branco nem um produto acabado”, diz Alberto Barradas, do Metropolitano de Lisboa, um dos quatro técnicos que integra o grupo de trabalho. E explica que agora é que é o momento de a comunidade apanhar o comboio da participação. “O grupo de trabalho tem um prazo de 30 meses para apresentar o estudo do projecto e, neste momento, estamos a um quinto. Ainda há muita margem.”, defende o arquitecto.
O também arquitecto Paulo Pais, técnico da Câmara Municipal de Almada, acrescenta que o contributo da população pode alterar muita coisa, desde a definição mais precisa do traçado da linha até ao número de estações ou à sua localização.
“O que temos de perceber, em termos de participação pública é o que é mais importante para as pessoas”, destaca Paulo Pais que dá o exemplo da Avenida Afonso de Albuquerque, a grande alameda da Costa da Caparica, actualmente com duas faixas de rodagem para carros e muitas árvores em que, em caso de terem de optar por uma coisa ou outra, os responsáveis pelo estudo procurarão dar resposta às preocupações mais apontadas.
Os técnicos do grupo de trabalho reconhecem que a alameda “é o grosso do problema” que têm pela frente. Outro desafio, a que os técnicos garantem estar muito atentos, é ao nível de ruido. Asseguram que as curvaturas e os raios do traçado estão a ser cuidadosamente pensados, para evitar que as composições guinchem nos carris, e sublinham que as soluções técnicas actuais dão mais garantias em matéria de ruido, inclusive na fase de construção.
As 10 novas estações entre o Monte da Caparica e a Trafaria
O estudo prévio existente até agora, para a extensão do MST até à Trafaria, passando pela Costa da Caparica, aponta para uma extensão de 7,3 quilómetros, entre a actual estação junto ao campus da FCT/NOVA, no Monte da Caparica, até ao Terminal Fluvial da Trafaria. O novo percurso do metropolitano terá uma duração de 19 minutos.
Pelo meio, são apontadas um total de 10 estações, distribuídas entre a Estação Central da Costa da Caparica, prevista para o terreno baldio que se encontra mesmo no final do IC20, à entrada da Costa, o Interface da Trafaria, frente aos barcos, mais três estações na localidade ou próximas, outras três na Avenida Afonso de Albuquerque, a grande alameda da Caparica, e uma estação na zona rural da Várzea de Pêra que, com a construção de um viaduto pedonal e ciclável sobre o IC20 pode servir a população do Funchalinho.
Com mais estes sete quilómetros, o MST passa a ligar duas pontas do concelho de Almada entre dois terminais fluviais, o de Cacilhas e o da Trafaria, num total de 13,8 quilómetros que levarão 27 minutos a percorrer. A estimativa é que a viagem da universidade até à costa leve 6,5 minutos e que até à Trafaria demore 20 minutos.
Depois desta primeira sessão, que foi de apresentação técnica do projecto, as verdadeiras sessões de esclarecimento e trabalho com a comunidade estão marcadas para os dias 20 e 21, a primeira no Casino da Trafaria e a segunda no Inatel, na Costa da Caparica, ambas às 18h30 e de entrada livre.

Mas neste primeiro encontro com a população já choveram perguntas das duas salas e de todos os tipos de participantes, desde deputados, autarcas municipais e de freguesia, estudantes, activistas da mobilidade e do ambiente e muitos residentes das localidades abrangidas. As questões passaram pelo nível de ruído, pelo material circulante previsto, traçado na Alameda da Costa, número de faixas de rodagem que essa avenida vai ter, acessibilidade e nome das estações e quando estará pronta a obra ou como será financiada.
A estas últimas perguntas, os técnicos não souberem responder, porque esta é ainda uma fase de estudo, mas a presidente da Câmara Municipal de Almada deu algumas pistas.
“Há uma linha de financiamento até 2029. O senhor ministro das Infraestruturas disse que virá à última sessão, é uma boa questão para lhe colocarmos.”, disse a autarca Inês de Medeiros.
A última sessão, marcada para dia 6 de Março, na NOVA FCT, é para a apresentação dos resultados da participação pública, com as conclusões e planeamento das fases seguintes do projeto. Os coordenadores deste processo de auscultação prometem considerar todas as questões e sugestões, incluindo a que forem enviadas através dos folhetos distribuídos presencialmente e as remetidas digitalmente através do formulário disponível no site da Câmara de Almada.
Depois desta fase, que deverá estar concluída em Março, o projecto de expansão do MST terá uma outra consulta pública, essa sim obrigatória por lei, no âmbito da Avaliação de impacte Ambiental que deverá ocorrer no final deste ano.
A apresentação contou com a presença do presidente da empresa Transportes Metropolitanos de Lisboa (TML), Faustino Gomes, que apresentou a expansão do MST como parte da estratégia global de mobilidade na Área Metropolitana de Lisboa (AML), e da presidente do Metropolitano de Lisboa, Maria Helena Campos, que classificou esta fase de participação pública como “crucial” e oportuna, por a concepção estar já com “maturidade suficiente” para receber os contributos da população.