Faltam autocarros e informação. Utentes desesperam nas paragens. Motorista pagou do seu bolso para não deixar crianças apeadas à noite
Ao sexto dia de funcionamento da nova rede de transportes rodoviários da Carris Metropolitana, os constrangimentos mantêm-se. Dos problemas com horários à falta de autocarros, o serviço está longe de corresponder ao inicialmente programado. Palmela é um dos municípios da “área 4” onde se têm sentido as “dores de um parto” prematuro. E há, entre utentes, quem não poupe nas críticas, considerando que se está perante “o descalabro total”.
É o caso de Selma Paulo, residente em Quinta do Anjo, que não esconde indignação face ao transtorno provocado pela sucessão de problemas, que a Transporte Metropolitanos de Lisboa (TML) diz estar a tentar corrigir junto da operadora Alsa Todi.
“Os autocarros são muito bonitos, os políticos ficam muito bem na fotografia, mas o serviço não funciona. Nunca vi nada assim. Não há autocarros. É o descalabro total. É muito mau. Alguém tem de fazer alguma coisa”, disse Selma Paulo a O SETUBALENSE, depois de mais um dia difícil. “As paragens estão cheias de utentes, porque os autocarros não passam. Os meus filhos estiveram hoje [ontem] duas horas na paragem da Quinta do Conde para apanharem autocarro para Palmela – um para seguir até Setúbal, para a escola, e outro para o Pinhal Novo – e tiveram de ficar em casa, sem transporte”, adiantou, sem deixar de lembrar os constrangimentos sofridos logo de início. “Na semana passada ninguém se entendia, nem com os horários antigos nem com os novos do site. Fui eu que tive de andar com os meus filhos para a escola. Carreguei os passes e não têm transporte”, lamentou.
O caos parece estar instalado neste início precoce da nova rede – o lote 4, composto por Setúbal, Alcochete, Moita e Montijo, além de Palmela, foi pioneiro – e os problemas não são apenas apontados por utentes. Também entre motoristas da Alsa Todi há quem reconheça as debilidades no serviço.
“Há miúdos que chegam à paragem com 1,45 euros ou com 0,70 euros, que é meio bilhete e já nem existe, não têm dinheiro e eu faço-lhes o quê às tantas da noite? Levo-os à borla e sou despedido? Deixo-os lá àquela hora da noite, sozinhos, com 12 e 13 anos?”, questiona um motorista, que resolveu ultrapassar o dilema sentido em Palmela da única forma possível: meteu dinheiro do próprio bolso para os bilhetes dos jovens.
Presidente descontente e TML remete culpa para Alsa Todi
Descontente com o cenário está também Álvaro Balseiro Amaro, presidente da Câmara Municipal de Palmela, que traça um diagnóstico negativo ao funcionamento dos transportes rodoviários no concelho.
“Têm havido reuniões diárias com a TML e a operadora. Confirmam-se os problemas que temos vindo a identificar e a sinalizar. Houve inclusivamente problemas com os motoristas, que desconhecem alguns dos trajectos. Já transmitimos que não faz sentido não se cumprir com os horários que já existiam e solicitamos diariamente a ampliação do serviço e o cumprimento dos novos horários”, desabafou o autarca.
“Não temos nota de pessoas que tenham ficado pelo caminho nestes últimos dias. No primeiro dia, sim. Mas houve carreiras que não se realizaram, o que não se compreende”, juntou. A antecipação do funcionamento do lote 4, frisou, veio confirmar “algumas apreensões” iniciais. “Confirmou-se. Houve problemas até com a própria contratação de motoristas, mas também com a possibilidade de se ter a tempo e horas os horários e até o fornecimento de materiais de informação”, criticou, antes de vincar que o município “não abdica do que está contratualizado com a TML e o novo operador”. “Porque trabalhámos muito e pagamos para isso”, concluiu.
O SETUBALENSE questionou a TML, mas a empresa limitou-se a emitir um comunicado, no qual passa a responsabilidade para a Alsa Todi. “A empresa assumiu contratualmente um nível de serviço que ainda não conseguiu atingir”. Até ao fecho desta edição, O SETUBALENSE não conseguiu contactar a Alsa Todi. Com F.A.R. e M.C.C.