Moradores em bairro de lata que vai ser demolido receberam visita de técnicos da autarquia
A autarquia de Almada vai demolir 60 casas clandestinas no bairro de lata do Segundo Torrão, na Trafaria, a partir deste sábado. Esta sexta-feira, um dia antes do início dos trabalhos, técnicos da proteção civil visitaram as casas onde moradores permanecem para os informar do seu destino.
Em causa a degradação da vala de drenagem que atravessa o bairro e que apresenta risco de colapso. Por cima desta vala encontram-se as casas habitadas pelas famílias que vão agora sair.
Rosa Maria, 51 anos, recebeu a visita dos técnicos e disse depois que foi informada de que iria ser alojada num hotel com os seus dois filhos e neta de 3 anos até que fosse encontrada casa pela autarquia. Não gostou da informação que lhe foi transmitida e diz que não sai enquanto não souber o destino. “Como assim, vou para um hotel e logo se vê? As coisas não são feitas assim, têm que me dizer qual é a nova casa, mas nem eles sabem”.
Ao lado, as vizinhas de Rosa vão para uma nova casa que a autarquia encontrou. Moram aqui três mulheres e três crianças.
A demolição vai decorrer durante seis dias, e as famílias vão sair para casas arrendadas pela autarquia ou para hotéis até que seja encontrada habitação. A solução urgente foi adoptada junto do Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU), que financia parte do arrendamento de casas para as famílias na zona de risco deste bairro ao abrigo do Programa Porta de Entrada.
Luís Ferreira, 58 anos, tem já os pertences empacotados para sair da casa onde vive há 55 anos. Vai ficar em casa de amigos nos próximos dias. “Disseram-me que pagavam uma renda e uma caução numa casa que encontrasse para morar”, diz Luís Ferreira. “Para além de ser pouco, não há casas para arrendar, a autarquia está a enxotar-nos como pedras de calçada no caminho”, lamenta.
Os irmãos Sara e Miguel, de 18 e 21 anos, vivem com os pais neste bairro. “Foi-nos dada casa na Moita, mas estudamos em Almada, vamos ficar sem forma de ir para a escola”, afirmam.
O problema na vala de drenagem foi identificado em Julho de 2020, durante uma inspeção da Proteção Civil e apontava para 95 casas em perigo. Perante a catástrofe eminente, alegada pela autarquia, por a construção das novas casas ainda não ter saído do papel, foi decidido avançar com a medida de realojamento temporário de 60 famílias junto do IHRU.
Ao dia de hoje, nove agregados já se encontram realojados nas novas casas e outros 27 agregados encontraram eles próprios novas casas. Enquanto esperam assinatura de contratos, ficarão instalados em unidades hoteleiras em Almada ou Lisboa. A autarquia continua à procura de soluções para as restantes famílias.
“O processo de realojamento tem vindo a ser negociado caso a caso pelos serviços da autarquia com as famílias envolvidas, por forma a acautelar uma transição o mais suave possível e que leve em conta a proximidade das famílias com crianças em idade escolar ou do local de trabalho dos agregados familiares”, avança fonte oficial da autarquia.
Paulo Faísca, presidente da associação de moradores critica a forma como o processo se desenrolou sem que fosse dado conhecimento à associação. “Só soube quando as demolições começaram, há uma semana. A autarquia devia ter contactado a associação que sabe quem mora onde e assim facilitava o processo de procurar as casas”, lamenta.
O executivo PS na autarquia tem em vista a construção de 450 casas de habitação social durante este mandato e a prioridade vai para estas famílias que residem na zona de perigo no bairro de lata do 2º Torrão.
“A autarquia iniciou o processo de construção de 95 fogos para dar uma solução habitacional definitiva às famílias das habitações que vão ser demolidas. Encontra-se em curso a elaboração do projeto de especialidades para lançar o concurso público”, avança fonte oficial da autarquia. A construção das novas casas será financiada pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e tem um custo estimado de dez milhões de euros.