Socialistas reforçaram votação e voltaram a ganhar a Câmara Municipal. Chega teve crescimento vertiginoso. CDU reconquistou uma junta, mas não evitou derrota pesada
André Ventura tinha apontado, na noite eleitoral de domingo, à vitória do Chega na Moita. O partido registou uma ascensão vertiginosa, em número de votos e percentagem, em relação aos resultados alcançados em 2021, mas, no final, foi Carlos Albino quem ganhou a presidência da Câmara Municipal, reeditando para o PS um triunfo que há quatro anos foi histórico, por interromper o reinado do PCP desde 1976.
Os socialistas – que até tiveram de reforçar anticorpos para combater uma convicção de derrota instalada entre alguns do próprio partido, quer a nível local quer distrital – não só venceram a Câmara Municipal como acrescentaram mais 1 132 votos aos registados nas eleições anteriores, ainda assim insuficientes para obterem maioria absoluta.
O PS manteve os quatro eleitos de um total de nove que compõem o executivo municipal, com 10 389 votos (35,60%) – há quatro anos havia registado menos votos (9 257), mas maior percentagem (37,63%) –, e fez esfumar-se o “sonho” do Chega, que, porém, foi a força política que mais cresceu no concelho.
Ao contrário daquilo que vaticinava André Ventura – que durante a campanha até chegou a fazer uma arruada na Moita –, o Chega não ficou sequer perto de conquistar a Câmara Municipal, mas passou de 2 206 votos (8,97%) arrecadados em 2021 para 7 207 (24,70%), que agora lhe valeram dois vereadores, mais um do que o conseguido há quatro anos, então com a eleição de Ivo Pedaço, que durante o mandato passou a independente e que nestas eleições foi cabeça de lista pelo CDS.
Já a CDU foi a derrotada da noite, ao deixar de ser a segunda força política mais votada, por troca com o Chega. A coligação registou 7 151 votos (24,51%), depois de ter averbado 8 135 (33,07%) nas autárquicas anteriores, e acabou por perder dois dos quatro vereadores que tinha.
De fora do executivo municipal voltou a ficar o PSD, que, agora a solo, cresceu de 1 625 votos (6,61%) – conseguidos em coligação com cinco outras forças políticas (CDS, MPT, PPM, Aliança e PDR em 2021 – para 2 355 (8,07%) e ultrapassou o BE.
Imbróglio na Assembleia Municipal
Para a Assembleia Municipal, o PS também se manteve como força política mais votada e até reforçou o número de votos, porém acabou por perder dois mandatos: em 2021 obtivera 15 (quatro dos quais por inerências das presidências de junta conquistadas) e agora quedou-se pelos 13 (três por inerências). Os socialistas passaram de 9098 votos (36,97%) para 9 932 (34,02%), agora registados.
O Chega foi a segunda força mais votada para o órgão deliberativo – cresceu de 2 283 votos (9,28%) para 7 388 (25,31%) – e elegeu sete deputados, menos um do que a CDU (oito), que, apesar de ter ficado a 196 votos de distância, beneficiou de uma inerência pela conquista da presidência da Junta de Baixa da Banheira/Vale da Amoreira. Há quatro anos a coligação conseguira 7 912 votos (32,15%) e a eleição de 10 membros.
O PSD manteve os dois deputados que já tinha alcançado há quatro anos, então em coligação com outras cinco forças políticas. No entanto, também cresceu em número de votos e percentagem: 2 387 votos (8,18%) agora conseguidos, que comparam com os 1 659 (6,74%) de 2021.
O BE, que tinha dois mandatos, ficou reduzido a um único, já que decresceu de 2 032 votos (8,26%) para os 1 010 (3,46%) agora apurados.
Se no último exercício autárquico o PS conseguiu a presidência da Assembleia Municipal com o apoio do BE, por ter, como agora, maioria relativa, desta vez será mais difícil de a conseguir. Primeiro, porque, além de o “verniz ter estalado” entre socialistas e bloquistas ainda no decorrer do último mandato, o voto do único eleito do BE é insuficiente para que o PS (com 13) consiga que António Duro continue como presidente, face aos 17 votos da restante oposição (8 da CDU, 7 do Chega e 2 do PSD). Depois, porque não é crível que ou o Chega ou a CDU viabilize, através de abstenção, a proposta a apresentar pelo PS. O cenário não deixa, contudo, de ser possível. Até porque, para que a presidência do órgão não fique nas mãos do PS é necessário que Chega e CDU voltem lado a lado uma mesma solução. Um imbróglio que só será esclarecido no dia da tomada de posse, após a instalação do órgão e da subsequente primeira reunião que permitirá a votação dos membros.
Freguesias CDU reconquista Baixa da Banheira/Vale da Amoreira
O PS conseguiu manter o poder em três das quatro assembleias de freguesia do concelho. Mas, perdeu por quatro votos de diferença a Junta da União das Freguesias de Baixa da Banheira e Vale da Amoreira para a CDU, que vai passar a ser presidida por Ana Teresa Fernandes. Porém, os socialistas, fizeram um pedido para recontagem dos votos, que foi indeferido por uma juíza da comarca, e estão a ponderar interpor recurso da decisão. Para esta assembleia de freguesia, a CDU elegeu seis membros, o PS e o Chega também seis cada e o PSD um.
O PS segurou a maioria absoluta na Junta da União das Freguesias de Gaio-Rosário e Sarilhos Pequenos e conquistou a maioria absoluta na Junta de Freguesia da Moita, presididas respetivamente por Jorge Picoto e Fabrício Pereira (reeleito). E manteve, com maioria relativa, a presidência da Junta de Freguesia de Alhos Vedros, presidida pelo independente Artur Varandas.
REAÇÕES
Carlos Albino: “Ficámos a 350 votos da maioria absoluta”
Carlos Albino vai cumprir o segundo mandato consecutivo à frente da Câmara Municipal da Moita e realça a forma como o PS conquistou o triunfo na noite eleitoral de domingo.
“Ficámos a menos de 350 votos de obtermos maioria absoluta. Esta vitória resulta do trabalho efetuado ao longo dos últimos quatro anos no concelho. E propomo-nos a fazer ainda mais”, afirmou o socialista.
Sobre a possibilidade de poder vir a estabelecer um entendimento de governabilidade com algum dos eleitos da oposição, face à maioria relativa que resultou do sufrágio, Carlos Albino é perentório: “Vou propor pelouros aos eleitos do PS! Se há quatro anos não encontrei a quem propor pelouros na oposição, era agora que ia encontrar? Não vou propor, nem à CDU nem ao Chega”, garantiu.
“A responsabilidade de haver estabilidade governativa é de todos os eleitos. Há que saber reconhecer aquilo que foi expressado pela população. Apresentaremos as nossas propostas para o desenvolvimento do concelho e a oposição decidirá se quererá ou não impedir esse desenvolvimento”, adiantou, a concluir.
João Pedro Figueiredo: “É uma derrota, apesar de recuperarmos a maior junta do concelho”
Desiludido com o resultado alcançado pela CDU mostrou-se João Pedro Figueiredo, que foi cabeça de lista pela coligação à Câmara Municipal da Moita. O comunista destaca a reconquista da “maior junta de freguesia do concelho”, mas reconhece que, no cômputo geral, a CDU registou um resultado adverso.
“É uma derrota, uma desilusão, apesar de termos recuperado a União das Freguesias de Baixa da Banheira e Vale da Amoreira, que é muito importante e a maior do concelho. E esse é um sinal claro de que a CDU está na luta e que a história ainda não acabou”, disse João Pedro Figueiredo.
Questionado sobre se estaria disponível para aceitar a atribuição de algum pelouro por parte do presidente da Câmara Municipal, o comunista não fechou completamente a porta a um eventual acordo, mas deu quase como descartada essa hipótese.
“Aceitar pelouros? É uma discussão de partido, que não faço isoladamente. Mas, a nossa tendência não é essa”, afirmou, para de seguida salientar que, até ao momento, “não houve qualquer conversa” nesse sentido.
Nuno Gabriel: “Por 100 ou 200 votos não conseguimos ganhar algumas câmaras”
Para o Chega, o resultado eleitoral na Moita teve sabor agridoce. Até porque, esta foi a força política que mais cresceu, em número de votos, percentagem e eleitos no concelho. Só que as expectativas eram mais elevadas, conforme reconhece Nuno Gabriel, que preside à estrutural distrital de Setúbal do Chega.
“Tínhamos expectativa em algumas câmaras, essa expectativa era baseada no trabalho que fizemos, nas perspetivas que tínhamos, nos sinais que tínhamos na rua. Não se consolidou em número de votos. Podíamos estar hoje a dizer que o Chega ganhou três ou quatro câmaras no distrito e que era uma grande vitória. Por 100 ou 200 votos não conseguimos essas vitórias e temos de o assumir. Somos positivos, queremos vencer, tínhamos sinais de que o podíamos fazer, os eleitores não nos deram essa confiança e nós temos de respeitar a vontade dos eleitores”, disse Nuno Gabriel, ao referir-se a concelhos como Palmela e Sesimbra (foi cabeça de lista a este último), mas também a Moita e Montijo.
O responsável quase que afastou a hipótese de os eleitos do Chega poderem vir a aceitar pelouros, mas lembrou que a decisão passará sempre pela estrutura nacional do partido. A postura do Chega, sublinhou, será a de analisar proposta a proposta nos respetivos municípios e freguesias para votar em prol dos interesses das populações.