Caso será único no país e pode terminar com internamento compulsivo em Caxias.
O julgamento de Bruno Costa, ex-residente do Barreiro, acusado de mais de 60 agressões a mulheres começou hoje, no Tribunal de Almada. Um caso único no país, que está a ser julgado apenas por juízas.
Conhecido como “Monstro do Barreiro”, depois das manifestações públicas que despoletaram na cidade em Outubro de 2018, durante a audiência Bruno Costa apenas referiu que, “não sabia que estava a fazer mal”. Declarações que marcaram o dia das 25 vítimas ouvidas. Para a próxima audiência “estão previstos os testemunhos de mais dez vítimas”, segundo avança João Silva, membro do movimento Acção Contra Violência de Género-Barreiro, que apoia as vítimas de Bruno Costa.
Diagnosticado com um quadro de esquizofrenia, o agressor já passou por diversos internamentos na ala de psiquiatria do Centro Hospitalar Barreiro Montijo, devido a surtos psicóticos que o levam às referidas agressões. Contudo, apesar das queixas se terem acumulado ao longo de dez anos, nenhuma medida foi tomada pelo Serviço Nacional de Saúde e foi preciso uma década para a Polícia Judiciária agarrar o caso e levar Bruno Costa ao Ministério Público, tendo sido aplicada a medida de coacção “Termo de Identidade e Residência” e proibição de circular e residir no concelho do Barreiro, até julgamento
Medida que Bruno Costa terá, alegadamente, quebrado em Julho, ao voltar ao Barreiro para ameaçar antigas vítimas, segundo afirmam os responsáveis pelo movimento Acção Contra Violência de Género-Barreiro. No entanto, “devido à falta de provas concretas esta quebra não foi considerada em tribunal”, segundo comenta João Silva membro deste grupo cívico que protege as vítimas e presta apoio jurídico às mesmas.
Quanto à data da próxima audiência ainda não é conhecida, mas, para já fica, a hipótese de Bruno Costa ser internado, a longo prazo, na ala psiquiátrica do Estabelecimento Prisional de Caxias, segundo avança fonte próxima ao tribunal.
Comportamento ‘infantilizado’
No decorrer da audiência, em diversos momentos Bruno Costa terá desvalorizado a dimensão das agressões cometidas. Segundo João Silva, na presença dos pais o agressor terá comentado “viste mãe temos que andar tantos quilómetros para estar aqui e por uma coisa de nada”.
Uma desvalorização acompanhada de “aquilo que consideramos ser um comportamento infantil”.
Falha de comunicação entre autoridades
O histórico de possíveis 15 anos de agressões levou a Polícia Judiciária a abrir investigação em Outubro de 2018. Na direcção do Departamento de Investigação Criminal de Setúbal, Vítor Paiva lamentou que o sistema de comunicação entre Órgãos de Polícia Criminal não permitisse, em muitos casos, reunir históricos, de modo a que se conhecesse a dimensão total das situações.