O rapper setubalense prepara-se para lançar ainda este ano o primeiro disco, “Plateia”, fonte de inovação no universo do hip-hop nacional e espelho da força que as viagens lhe transmitem
André Moniz nasceu em 1994, em Setúbal. Começou a fazer teatro no grupo “Os Metáforas”, em 2008, e foi actor no Teatro Animação de Setúbal entre 2014 e 2020. Ao longo do caminho, realizou trabalhos a nível independente e deu aulas de teatro a adultos e a crianças.
Na sua perspectiva, “há todo esse universo paralelo que acaba por ser uma complementaridade natural. São muito poucos os artistas que só fazem música ou só fazem teatro e obviamente eu não sou um deles”.
Também em 2014 juntou-se ao colectivo “Moços do Bêco” e entrou para o curso de Musicologia, na Universidade Nova de Lisboa, onde esteve apenas um mês. O projecto Moniztico marca o arranque enquanto músico. Em 2015 o primeiro trabalho discográfi co “Boca de cena” foi considerado pela BandCom um dos melhores discos do ano em Portugal e deu origem a um musical que integrou o XVII Festival Internacional de Teatro de Setúbal.
Com 14 anos de experiência enquanto músico independente e actor, no presente ao serviço da Câmara Municipal de Setúbal como programador cultural, André Moniz considera que foi “parar à música a partir da escrita. Gostava muito de escrever”. Em tempos, costumava trazer consigo um dicionário de sinónimos, que talvez seja a explicação para a confi ança com que hoje agarra as palavras.
Onde o sangue ferve, o amor se exalta e a vida é leve
Viveu alguns meses na Grécia, passou por Aljezur e realizou diversas viagens que haviam de lhe abrir, ainda mais, os horizontes. “Rodrigo Amarante diz que uma das coisas mais interessantes de viajar é teres um quarto vazio, acordares e não teres todos aqueles objectos que te identifi cam e relembram quem tu és. A partir daí és como uma folha branca e tens todo o livre arbítrio para fazeres o que quiseres dela”, partilha.
Desde 2020 responde por Ohmonizciente e é precisamente so-
bre viagens o seu primeiro disco, “Plateia”, que há-de sair até final do ano. Lançou recentemente o primeiro single “Onde o sangue ferve”, onde a cantautora a garota não participa a interpretar o refrão. “A primeira coisa que preciso de sublinhar é a importância da Cátia Oliveira para mim, a nível artístico, mas também humano. Sempre me deu muita força e me chamou para trabalharmos juntos”, conta. “Essa é uma das linhas mais admiráveis do trabalho dela, mesmo estando numa fase crescente e pulsante da carreira não prescinde de ter à volta as pessoas em que acredita genuinamente”, adianta.
Nas palavras de André Moniz, “sendo um álbum sobre viagens, fazia sentido começar com este som e esta mescla de sítios que me moldaram muito. É uma nota introdutória para o meu processo e para aquilo que considero o âmago do disco. É sempre perigoso dizer isto, mas, para aquele que é o panorama hip-hop nacional, acho que o álbum é uma cena inovadora. Foi para aí que apontámos”.
Segue-se “Planisfério”, single igualmente parte de um disco “onde já tocaram mais de 20 músicos, alguns dos melhores do país com quem nunca sonhei ter oportunidade de« trabalhar”.
Amor com amor se paga e no mais recente disco de ‘a garota não’, 2 de Abril, Ohmonizciente adiciona o seu contributo à canção “Mediterrâneo”: “Foi para mim muito interessante explorar este tema da crise humanitária no Mediterrâneo e é das poucas canções em que está o meu nome e já chorei a ouvir. Aquela música é mesmo uma bala no peito, uma masterpiece”.
Enquanto Ohmonizciente, “nesta fase a minha missão tem a ver com criar um imaginário às pessoas que lhes permita fugir da rotina, dos grilhões do dia-a-dia”. Por vezes, “precisamos de ter ferramentas para fugir disso e acho que se calhar as duas for- mas mais claras de fazer isso é viajar e é a arte, é os artistas entregarem-te qualquer coisa que possibilite isso. Gostava de conseguir fazer isso, não sei se consigo, mas pelo menos tento”.
Também a questão do altruísmo entra nesta equação, e “a verdade é que as coisas que fazemos exclusivamente para nós são as coisas que asseguram a nossa sobrevivência. Tudo o resto é muito para os outros porque somos bichos sociais”. Quando lemos um livro, “estamos a tirar prazer e é um acto individual, mas tens uma sede de poder conversar. As pessoas falam do 1984 e tu queres dar a tua opinião”, exemplifica.
André Moniz tenta, assim, que o que escreve e a mensagem que entrega às pessoas “também seja nesse sentido de cultivar esta ideia de que a melhor forma de sermos bem tratados pelos outros é tratarmos bem os outros também. Depois, o caminho é perceber como podemos fazer isso, ultrapassando as nossas limitações, sobretudo emocionais, que todos temos”, termina.
André Moniz à queima-roupa
Idade: 28 anos
Naturalidade: Setúbal
Residência: Palmela
Área: Música e teatro
Rapper e actor numa complementaridade que diz ser natural, tem um papel interventivo na cidade