29 Março 2024, Sexta-feira
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Mais de 25 mil sem médico de família até final do ano no Centro de Saúde do Montijo

Aposentação de três clínicos prevista ainda para 2022 vai provocar um aumento de 4 700 pessoas sem médico

 

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No final deste ano serão mais de 25 mil os utentes do Centro de Saúde do Montijo, num universo de cerca de 33 milhares, sem médico de família. O número avançado pelo vereador do PSD João Afonso, que apontou para mais de 24 mil, foi confirmado (e reforçado) a O SETUBALENSE por Miguel Lemos, director executivo do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Arco Ribeirinho.

Em causa está a perda de médicos – e também de enfermeiros – que se fez sentir nos últimos tempos e que terá continuidade este ano.

“Em 2020, o Centro de Saúde do Montijo tinha 15 médicos e 18 enfermeiros. Hoje tem 12 médicos e 17 enfermeiros, sendo que um médico e dois enfermeiros estão de baixa prolongada. Até ao final do ano irão reformar-se mais três médicos. O Centro de Saúde do Montijo tem cerca de 33 mil utentes e até ao final do ano serão mais de 24 mil sem médico de família”, disse o autarca social-democrata, que apresentou a radiografia da situação na reunião de câmara de quarta-feira passada.

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Os números são confirmados por Miguel Lemos. “Sim, confirmo. As ausências [de três clínicos por aposentação] deverão ser colmatadas com a abertura de vagas para médicos recém-especialistas nos próximos concursos. Actualmente, de acordo com o Registo Nacional de Utentes, o Centro de Saúde do Montijo tem cerca de 20 900 utentes sem médico. Com a saída prevista dos três médicos até ao final do ano, que representam um total de 4 700 utentes, a unidade ficará com 25 600 utentes sem médico”, admitiu o director do ACES Arco Ribeirinho.

Face ao número excessivo de utentes sem médico (a rondar os 78%), o ACES Arco Ribeirinho “irá propor o aumento do número de horas médicas de prestação de serviços e implementar o projecto ‘Via Verde’, dirigido a utentes sem médico de família que actualmente se encontra a funcionar no ACES Almada Seixal”, adiantou Miguel Lemos.

Ao apresentar o problema na sessão, realizada nos Paços do Concelho, João Afonso foi cáustico nas críticas dirigidas à gestão camarária do PS. Para o social-democrata, os cuidados de saúde primários no Montijo “estão cada vez piores”, ao contrário, frisou, “do afirmado pela propaganda socialista”.

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“As pessoas amontoam-se às dezenas todos os dias, à porta do centro, ao frio, à chuva, mendigando uma consulta”, lembrou. E em comunicado, enviado à redacção de O SETUBALENSE, disparou: “O PS do Montijo não investe um cêntimo na saúde dos montijenses, preferindo gastar o dinheiro público com a sua clientela.”

Da barbaridade à prisão

A solução, segundo o vereador do PSD, passa por a autarquia “implementar medidas de incentivo à fixação de médicos de família, nomeadamente a atribuição de uma comparticipação financeira, para apoiar a aquisição ou arrendamento de habitação ou, em alternativa, o transporte, para médicos que não residam no concelho”.

Na resposta, Nuno Canta, presidente da Câmara, garantiu que o município tem acompanhado sempre o problema, que continua a ser da responsabilidade da tutela, não obstante a transferência da competência da área da saúde do Governo para as autarquias. “O que vai passar para a Câmara, em termos de descentralização, é a manutenção regular dos centros de saúde e dos edifícios. Não tem nada a ver com mais médicos ou menos enfermeiros”, vincou. E sobre as medidas preconizadas por João Afonso, o socialista considerou que vão ao arrepio da legalidade. “Uma barbaridade jurídica, com questões de ilegalidade”, classificou.

“A vossa ilegalidade é a pobreza dos montijenses. Vamos ter de mandar prender todos os presidentes de câmara que estão a fazer isto por este País fora”, retorquiu, mais à frente, o social-democrata.

Antes, já Nuno Canta salientara ainda que a falta de médicos de família é um problema nacional, com os concursos para contratação de clínicos a ficarem desertos. “A situação não tem tido da parte da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, não só do Governo, resposta a Mafra e Montijo, os dois concelhos com mais problemas de médicos de família”. E admitiu que a autarquia está, juntamente com o director executivo do ACES Arco Ribeirinho, à procura de um director para o Centro de Saúde do Montijo, cargo que está vago, conforme avançou João Afonso.

Já Joaquim Correia, vereador da CDU, colocou a responsabilidade do estado a que a saúde chegou nos ombros de PS e PSD. “O que o vereador João Afonso trouxe aqui é uma realidade no Centro de Saúde do Montijo. Mas isto só se resolve com financiamento adequado ao Serviço Nacional de Saúde [SNS]. Quer o PS quer o PSD têm subfinanciado o SNS. Vêm para aqui digladiar-se, quando na Assembleia da República fazem o contrário”, criticou.

Unidade de Saúde Aldegalega vai abrir com clínicos e enfermeiros que transitam do actual centro

A abertura, em princípio no próximo mês, da Unidade de Saúde Familiar (USF) Aldegalega, onde se encontra instalado o hospital montijense, não permitirá diminuir, segundo João Afonso, o número de utentes sem médico. E o vereador do PSD faz ponto de mira à gestão autárquica PS. “Como a falta de vergonha não tem limites, continuam a enganar os montijenses, quando dizem que os cuidados de saúde irão melhorar com a abertura da USF. Esquecem-se de dizer que os médicos e enfermeiros, desta nova unidade, serão retirados dos quadros, já de si insuficientes, do Centro de Saúde do Montijo. Uma trafulhice propagandística”, considerou o social-democrata que, em comunicado, voltou a pedir a demissão do director executivo do ACES Arco Ribeirinho.

Visão diferente tem Miguel Lemos. “Dos sete médicos que irão fazer parte da USF, cinco vêm do Centro de Saúde do Montijo e dois vêm de fora, havendo por isso um aumento na cobertura de cuidados de saúde com a redução dos utentes sem médico na ordem dos 3 500. Em relação aos enfermeiros, dos sete que irão fazer parte da USF, cinco vêm do centro de saúde e dois de fora”, revelou o responsável pelo ACES Arco Ribeirinho, que preferiu não comentar o facto de João Afonso pedir a sua demissão.

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