27 Abril 2024, Sábado
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José Luís Bucho: “Falta um estatuto social que defina categorias profissionais dos bombeiros, progressões na carreira e salários”

Reeleito presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Setúbal, líder da direcção destaca também a idade para a aposentação, que não deveria ser a mesma de “outro qualquer trabalhador”

 

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José Luís Bucho assume funções de presidente da direcção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Setúbal desde 2005, tendo sido agora reeleito para um novo mandato. Contudo, considera ser tempo de dar lugar “a pessoas com ideias novas”, uma vez que diz já ter cumprido a sua missão no cargo.

Em retrospectiva, afirma que os bombeiros têm vindo a adaptarse à evolução dos tempos e que, por serem “uma classe social importante para o País”, deveriam de ser mais valorizados pelo Estado.

Já o último ano, marcado pela covid-19, foi vencido graças ao apoio da autarquia de Setúbal, que “forneceu equipamentos de protecção individual e refeições”.

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Nos planos para o futuro próximo, diz ser importante constar a renovação de frotas e a modernização do quartel.

Como surgiu a oportunidade de continuar no cargo?

Para este mandato, os órgãos sociais anteriores decidiram não se recandidatar. As primeiras eleições ficaram desertas, não apareceu nenhuma lista. Só depois de alguma insistência é que nós aceitámos fazer mais três anos. Sinto que é altura de virem outras pessoas. Estamos cá para ajudar, mas que venham novas ideias, com pessoas mais evoluídas e gente mais nova. Já estou nos bombeiros há 43 anos. Acho que já dei muito à sociedade e que já fiz a minha quota-parte enquanto cidadão responsável.

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Está no cargo desde 2005. Qual a retrospectiva que faz?

Sinto que cumpri a minha missão. Não gosto de falar no passado. O futuro é que interessa. Houve muita coisa que se fez bem e muita coisa que, seguramente, se fez mal. Houve muita coisa que não agradou a todos, mas também não estamos cá para isso.

Como classifica a associação? E o corpo de bombeiros?

É uma associação bastante activa e dinâmica e com um corpo de bombeiros bastante operacional. Somos uma associação centenária, das mais antigas do País.

O que destaca dos últimos mandatos?

A renovação da capacidade de intervenção operacional dos bombeiros voluntários, com mais formação e mais condições de trabalho. A capacidade de resposta dos bombeiros tem hoje de ser outra. Com os riscos que diariamente enfrentamos, os bombeiros têm de estar disponíveis praticamente ao minuto para acudir. Destaco também a criação, numa parceria com o município, de um dispositivo municipal de socorro, em que os bombeiros voluntários começaram a ter uma palavra a dizer. Passámos a dar o nosso contributo em meios humanos e materiais, servindo melhor a população do concelho.

Tem vindo a haver uma adaptação aos tempos?

Exactamente. Todo o movimento associativo tem de adaptar-se aos novos tempos. É de frisar que os bombeiros são actualmente a única força que está implementada em todo o território nacional. Só que hoje há muitas outras atracções e ofertas, que levam os jovens a não aderir à causa do voluntariado e dos bombeiros. Além de que também os riscos mudaram. Por exemplo, enquanto os carros antigamente andavam a combustível fóssil, hoje existem carros eléctricos. Estas mudanças diárias também nos preocupam e, por isso, é importante haver formação. Temos de melhorar, porque ao adaptarmo-nos, estamos a ter uma sociedade mais segura, actual e evoluída.

O que considera estar hoje em falta aos bombeiros?

Falta um estatuto social que defina as categorias profissionais dos bombeiros, as progressões na carreira, os salários, a defesa e a protecção social. É uma das coisas pelas quais os órgãos sociais, apesar de aparecerem como entidade patronal, também lutam. Para que os governantes olhem para nós como uma classe social importante para o País e que, apesar de poupar dinheiro ao Estado, não tem sido valorizada.

E ao nível de apoios?

O apoio que recebemos do Estado central é de 80 mil euros por ano, mas acabamos por pagar em impostos, directos e indirectos, 220 mil euros. Em Setúbal, somos ainda mais penalizados porque há uma lei que diz que as associações humanitárias de bombeiros voluntários nos concelhos onde existem bombeiros sapadores só podem receber 50% do valor a que tinham direito. Teríamos direito a 160 mil euros. Neste momento temos cerca de 60 profissionais, que têm de viver com dignidade.

O que têm feito para contrariar esta situação?

Temos feito de tudo para chamar a atenção nos canais próprios. Pela dignidade das pessoas. Temos de lutar, também porque desde o tempo da “Troika” que os bombeiros, em termos de aposentação, passaram a ter de reformar-se como outro qualquer trabalhador, na mesma idade. Ninguém consegue ser bombeiro com mais de 45/50 anos. Isto é um sistema que, se não olharmos para ele e agirmos rapidamente, vai colapsar.

Como sobrevivem as associações de bombeiros?

Se não fossem as autarquias, muitas das associações de bombeiros já tinham acabado, porque apesar de o Estado nos obrigar a cumprir as regras das sociedades comerciais, também quer que funcionemos como uma empresa, sem fins lucrativos, em que ele é o principal cliente e que não paga aquilo que é justo pelo trabalho desenvolvido.

Como por exemplo?

Como agora com a covid-19, em que cada equipamento de protecção individual utilizado por bombeiro que andava nas ambulâncias, custava 35 euros. Como têm de andar dois em simultâneo, eram gastos 70 euros de cada vez, só em equipamento de protecção individual. O Estado não pagou mais aos bombeiros e se nós apresentássemos uma factura, era devolvida porque não faz parte dos valores que estão acordados.

Contaram com alguma ajuda neste período?

Da Câmara Municipal de Setúbal, que nos forneceu equipamentos de protecção individual e refeições.

O que deve constar nos planos para o futuro próximo?

Temo-nos debatido para que o Estado tenha uma lei de programação de quartéis e de viaturas. Estamos num distrito bastante florestal, numa zona com parques naturais e com uma grande costa, e as viaturas dos bombeiros, em média, têm mais de vinte anos. As viaturas até nem são caras, o equipamento que elas transportam é que é caro e cada vez é mais específico. E os quartéis estão a ficar também desadequados, sem condições de trabalho e de estar. Precisam de obras de manutenção.

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