O responsável recuou na decisão de se demitir. Jogou com o apoio de D. José Ornelas e vai manter-se em funções. Recandidatura não está excluída
José Manuel Braço Forte, provedor da Santa Casa da Misericórdia do Montijo, vai manter-se em funções até às próximas eleições e não exclui a hipótese de se recandidatar ao cargo. Na reunião dos órgãos sociais, realizada no último sábado, o provedor informou os mesários de que recuou na decisão de se demitir, depois de ter recebido o apoio do Bispo de Setúbal, D. José Ornelas, apurou O SETUBALENSE.
José Braço Forte quis ouvir a opinião dos membros sobre a sua continuidade à frente dos destinos da Santa Casa do Montijo, após comunicar-lhes que tinha manifestado a D. José Ornelas a intenção de apresentar a demissão do cargo e que o Prelado o tentou demover. E todos os elementos – à excepção de João Afonso, presidente da Mesa da Assembleia Geral, e Ilídio Massacote, vogal da mesa administrativa – reforçaram o apoio que, uma semana antes, já haviam dado a José Braço Forte, desvalorizando o caso de o provedor e da sua esposa terem sido vacinados indevidamente, de acordo com os critérios definidos para a Fase 1 do plano nacional de vacinação.

Ao que O SETUBALENSE conseguiu ainda apurar, João Marcelino, elemento da mesa administrativa, fez a defesa do provedor e considerou que o caso – que já está nas mãos da Polícia Judiciária – não passa de “uma tempestade num copo de água”. Na reunião, Marcelino juntou que até o facto de a mulher de José Braço Forte ter sido vacinada como voluntária, apesar de não fazer voluntariado na instituição há um ano, nem sequer é “moralmente censurável”. E considerou desculpável o facto de o provedor ter negado a vacinação da mulher a O SETUBALENSE, o que classificou como “uma mentirita”, causada pelo stress. A posição do mesário foi, de resto, subscrita por vários elementos dos órgãos sociais.
Demissão em bloco rejeitada
Entendimento diferente, desde a primeira hora, tem João Afonso, presidente da Mesa da Assembleia Geral da Misericórdia do Montijo.
“O provedor acha que reúne os apoios necessários para se manter em funções. Colocou a questão da sua continuidade aos membros dos órgãos sociais e, à excepção do mesário Ilídio Massacote, todos manifestaram-se pela sua manutenção”, confirmou João Afonso.
Ao mesmo tempo, adianta que apresentou “uma solução” que considerou ser “a mais viável” e que passa pelo “reconhecimento do erro”.
“Sugeri que todos os membros da mesa deveriam renunciar ao mandato, mantendo-se em funções limitadas, em gestão, até à marcação o mais rápido possível das eleições”, revelou. “Dessa forma, devolveríamos democraticamente aos irmãos o direito de escolher uma nova mesa, que até poderia ser esta ou outra, num acto de contrição e respeito para com a nossa instituição e a comunidade”, explicou. A sugestão foi, porém, rejeitada pela quase totalidade dos elementos dos órgãos sociais. “Consideram que a posição do provedor é virtuosa, que não é censurável. E mesmo que o seja entendem que não lhes cabe fazer esse juízo de censura”, lamentou.
Quanto ao respaldo que José Braço Forte disse ter encontrado junto de D. José Ornelas, o presidente da Assembleia Geral prefere não se alongar em comentários. “Não sei o que o provedor disse ou não disse ao sr. Bispo. Não dou por boa nenhuma das declarações que o provedor faça sobre essa temática. Não quero comentar isso.”
João Afonso avançou ainda que José Braço Forte “não só não se demitiu como praticamente anunciou a sua recandidatura”.
“Não o disse expressamente, mas está subjacente nas suas palavras que é isso que irá fazer. O provedor está confortável, gosta daquilo que faz e acha que está a prestar um bom serviço”, ironizou. E garantiu: “Vou procurar defender a credibilização da Misericórdia, perante utentes, funcionários e comunidade em geral. Não vou sair deste campo dos princípios e valores que assumi até aqui”, concluiu.
O SETUBALENSE tentou o contacto, por telefone e mensagem, com o provedor, bem como obter esclarecimentos junto do Bispo de Setúbal, mas até ao fecho desta edição não obteve respostas.
José Braço Forte ainda não foi notificado pela Polícia Judiciária
Durante a reunião, o provedor informou os mesários que ainda “não recebeu qualquer notificação, no âmbito da investigação criminal liderada pela Polícia Judiciária [PJ]”, disse João Afonso. O que “é compreensível”, face aos trâmites normais deste tipo de processos, admitiu.
O Ministério Público decidiu abrir nove inquéritos referentes a irregularidades no processo de vacinação contra a covid-19, onde se incluem os da Segurança Social de Setúbal, do Seixal e do Montijo. E delegou a investigação na Polícia Judiciária. Significa isto que cada um destes nove casos será investigado em separado.