29 Março 2024, Sexta-feira
- PUB -
InícioLocalSetúbalAPSS afirma que 70% das dragagens já estão executadas

APSS afirma que 70% das dragagens já estão executadas

Passados dois meses de dragagens no Sado, a Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra afirma que a operação está a correr a bom ritmo. Entretanto, associações ambientalistas estão preocupadas sobre alguns procedimentos da draga

Humberto Lameiras

- PUB -

As dragagens no Estuário do Sado, em Setúbal, estão a decorrer há dois meses e “70% dos trabalhos estão executados”. É este o andamento da obra que começou na noite de 12 de Dezembro do ano passado, e está incluída no projecto de “Melhoria da Acessibilidade Marítima ao Porto de Setúbal”, que impõem o alargamento do canal de acesso para receber navios de maior calado.

Mais ainda, a operação de deposição de dragados na zona da restinga do Sado “está concluída”. Quem o afirma é a própria Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra (APSS), em resposta a O SETUBALENSE.

Promotora do projecto, a APSS conseguiu assim ultrapassar todos os protestos populares e providências cautelares colocadas por associações ambientalistas como o Clube da Arrábida e SOS Sado, para que os tribunais impedissem a obra. Houve ainda petições de partidos na Assembleia da República e uma manifestação popular à frente do Parlamento para que o Governo trava-se esta operação.

- PUB -

Depois de tudo, mesmo incluindo protestos dos pescadores que trabalham no Sado, as dragagens começaram às 21h00 daquela quinta-feira de Dezembro e continuam, diariamente, no estuário.

Entretanto, outras questões surgiram, agora sobre a qualidade como a draga está a operar. Levantaram-se dúvidas se esta tinha sempre os sensores a funcionar; instrumentos necessários para detectar se algo existe no fundo do rio para inspecionar, nomeadamente, possíveis achados arqueológicos subaquáticos, e também se os dragados estavam ser depositados no local devido.

Na passada sexta-feira, David Nascimento, da SOS Sado, afirmava à TSF que existiam relatos de que os sensores para monitorizar as dragagens e as poeiras levantadas “não estavam a funcionar”. Sobre isto, a associação ambientalista pediu esclarecimentos à Agência Portuguesa do Ambiente, mas “até agora não houve respostas concretas”, afirma.

- PUB -

Do mesmo modo, faltam respostas à suspeita sobre lixos que têm surgido e animais mortos desde que a draga está a operar. Portanto, David Nascimento considera que a obra deve ser travada até que se perceba se existe relação entre as dragagens e estas ocorrências. Para o ambientalista, os organismos estatais responsáveis pelo património e ambiente não podem manter “opacidade” sobre estas matérias e têm de “informar, atempadamente, os cidadãos para que estes saibam se estão a ser tomadas as medidas necessárias”.

Estas suspeitas são acompanhadas por Pedro Vieira, presidente do Clube da Arrábida, que confirma que a SOS Sado questionou a Polícia Marítima e a Direcção-geral dos Recursos Marítimos sobre as dúvidas que estão a ser levantadas sobre a operação da draga, e “não houve respostas”.

O mesmo responsável afirma que, por parte do Clube da Arrábida, “não foi feito nenhuma diligência oficial sobre este assunto, mas está atento”, nomeadamente sobre as descargas que “ilegalmente foram feitas em zona de oceano”.

Afirma Pedro Vieira que, em início de Janeiro, os dragados foram descarregados no oceano “fora da deriva litoral, na cota de 70 metros de profundidade”, ou seja, no oceano. Ora, “por lei, as areias dragadas nos estuários de rios têm de ser colocadas dentro do sistema para alimentarem a sua foz”, afirma. Trata-se de areias das classes 1 e 2, portanto não contaminadas, que “deveriam ter sido colocadas na zona da restinga do Sado, e não na Boca da Barra”.

Na sua opinião, o que se terá passado para as areias limpas serem colocadas no oceano foi uma “manobra” da APSS enquanto não conseguiu a aceitação de “associação de pescadores”. Lembra o ambientalista que a presidente da APSS, Lídia Sequeira, afirmou que não queria ir contra as exigências dos pescadores que recusavam a deposição de dragados na zona da restinga do Sado e, “enquanto não conseguiu essa aceitação, os dragados foram colocados no oceano”.

Ou seja, o que a APSS terá feito foi utilizar “uma permissão do TUPTM” [Títulos de Utilização Privativa do Espaço Marítimo Nacional], mas de forma antecipada. Segundo este documento de ordenamento do mar português, no caso das dragagens no Sado, as areias que podem ser depositadas em espaço oceânico “são as provenientes dos dragados de 200 mil metros cúbicos para manutenção do canal de navegação”, isto durante seis anos, e “para além dos 3,5 milhões de metros cúbicos de areias na primeira fase das dragagens”.

Enquanto Pedro Vieira fala num possível entendimento entre a APSS e organizações de pescadores de Setúbal, a Sesibal – Cooperativa de Pesca de Setúbal, Sesimbra e Sines, dirigida por Ricardo Santos, mantém a sua posição contra a deposição de dragados na zona da restinga do Estuário do Sado. “Contestamos, fortemente, a deposição de dragados na restinga do Sado”, afirma.

Sem reticências, Ricardo Santos diz que “a razão da Sesibal foi vencida pelo poder da APSS” e, porque “não participa numa mentira”, a associação que dirige “saiu do processo de negociações”. Sobre qual a associação, “de pescadores ou não, aceitou um acordo com a APSS para depositação de dragados na restinga”, não comenta, pelo que espera os resultados da operação dragagens para ver, no futuro, quem estava certo.

APSS garante cumprir regras

“Dragados foram depositados nos locais autorizados pelas entidades competentes”
Com a operação dragagens no Estuário a continuarem de baixo de fogo por associações ambientalista e de pescadores, a Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra (APSS) garante estar a dirigir este processo ‘ by the book’, colocando assim à margem acusações de os dragados terem sido colocados na frente oceânica de Setúbal.

Quanto aos dragados, no início de Janeiro, terem sido colocados em zona oceânica, a APSS garante a O SETUBALENSE que “os dragados foram depositados nos locais autorizados pelas entidades competentes”, e que, neste momento, “está concluída a deposição dos dragados na zona da restinga”.

Sobre o andamento da deposição no aterro adjacente ao Terminal Roll-on Roll-off, do Porto de Setúbal, a administração diz que a “capacidade do mesmo ainda não foi atingida uma vez que decorrem os trabalhos de construção da estrutura de contenção conforme previsto no plano de trabalho”.

Património subaquático em risco de se perder para sempre

Atento ao decorrer das dragagens, o arqueólogo marítimo Alexandre Monteiro já veio questionar se esta operação está a ser acompanhada por arqueólogos especialistas em operações subaquáticas.

“Não sei o que pode acontecer com o património subaquático depois das dragagens”, mais ainda quando “não foi feito um levantamento adequado”, afirma.

Na sua opinião, é certo que as dragagens, ao terem avançado “sem anterior prospecção arqueológica, já causaram impactes negativos e irreversíveis sobre património cultural existente no Estuário do Sado”. E no caso da zona da restinga, este “ou já foi destruído ou vai ficar ainda mais tapado”.

Ainda mais preocupado diz ter ficado depois de ter sabido das suspeitas levantadas pela SOS Sado, sobre o sonar de varrimento da draga não ter funcionado durante dias.
Trata-se de um instrumento que, “obrigatoriamente, tem de acompanhar operações de dragagens para detetarem eventuais estruturas ou materiais presentes e ocultos por sedimentos”. No caso do Sado, diz Alexandre Monteiro que pela actividade que envolveu o rio durante a presença romana na península e de outros povos, “há património cultural depositado no fundo”, isto para além da existência de vestígios de embarcações naufragadas em séculos mais recentes.

- PUB -

Mais populares

Selecção Nacional lança equipamento com semelhanças “inegáveis” ao do Vitória FC

Designer da camisola dos sadinos garante estar “lisonjeada” e realça que se trata de “pelo menos uma grande coincidência”

Praça do Brasil permanece em mudança e avança com transformação urbana

Espaço começou ontem a ser preparado para ser criada uma área exclusiva de usufruto público

“A peça do Zeca Afonso não é minha, é das pessoas de Setúbal”

Ricardo Crista tem trabalhos espalhados por todo o mundo. Autor do memorial a Zeca Afonso revela nova peça que vai nascer na cidade
- PUB -