Vitor Paulo: “Devo confessar que desde sempre senti os sons”

Vitor Paulo: “Devo confessar que desde sempre senti os sons”

Vitor Paulo: “Devo confessar que desde sempre senti os sons”

Clara ligação harmoniosa entre a guitarra e a voz. Vitor Paulo diz ter sentido os sons desde muito cedo

 

Se a arte é a expressão do belo, Vitor Paulo opera uma harmoniosa mistura de voz e de sons de guitarra para alcançá-la. Nascido em Arrentela, há 56 anos, viveu a sua meninice na Quinta do Cabral, propriedade do avô.

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Hoje é solicitado para actuar nos mais diversos espaços, em concertos e festivais, mesmo além-fronteiras, em eventos de autarquias e de empresas. Se acrescentarmos que Vitor Paulo é também um luthier, ou seja, constrói, repara e restaura instrumentos de cordas, na sua oficina sita bem no alto de Arrentela, a dois passos da antiquíssima igreja, temos um bom bocado do retrato de um homem que cultiva a arte e mede as coisas da vida por uma espécie de agrimensor cultural.

Nos anos 60, o avô, cidadão comunicativo e fotógrafo retratista, conheceu uns missionários evangélicos, a quem cedeu uma sala de sua casa para se poderem reunir. Entretanto, os religiosos compraram um espaço no Bairro Novo, “e foi aí que comecei a estudar guitarra e órgão, teria uns 10 anos de idade”, lembra Vitor Paulo. “Devo confessar que desde sempre senti os sons. Ora, isto coincidiu com o 25 de Abril, tempos áureos dos Beatles, Paul Simon, Bob Dylan… Nunca me cativaram as bandas de música psicadélica, como a dos Pink Floyd, sempre fui muito dado à melodia”.

A Revolução e os seus cantores

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A Revolução “traz para a ribalta nomes como José Afonso, Sérgio Godinho, Fausto, José Mário Branco, o Padre Fanhais, Samuel e tantos outros”, recorda. “Ainda hoje sou amigo de todos eles, dos que estão vivos, é claro…”

Vitor Paulo, nesta amena conversa com O SETUBALENSE, passa a evocar os tempos em que frequentou a preparatória. “A relação entre os alunos era fantástica. Todos queriam aprender a tocar qualquer instrumento, trocavam-se ideias, faziam-se projectos… foi uma época de sonho, um período maravilhoso porque a cultura ganhava a rua!”. Nesta altura, contudo, “ainda não tinha consciência da carga política do que cantava”.

Chega o ano de 78 e o futuro luthier começa a estudar de noite e a aprender marcenaria. “O meu pai trabalhava madeiras e eu queria construir instrumentos. Quanto ao canto, foi na já referida congregação religiosa que aprendi”, esclarece.
Um real privilegiado

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Vitor Paulo tem ideias bem construídas ao assumir-se como profissional de duas artes: “Sou um real privilegiado, porque compreendo claramente a ligação existente entre a parte material, o instrumento, e parte humana, que é a voz”.

Nos anos 80, então com 16 anos, ganha o seu primeiro cachet. “Dois músicos convidaram-me para tocar com eles, e assim nasceu o trio “Giesta”, consagrado à música tradicional, que foi pedir autorização ao meu pai. Actuávamos em bares de Lisboa. Lembro-me que, com os primeiros cobres que ganhei, adquiri um tripé e um saco para a guitarra. Um pouco mais tarde, vieram os tempos da SFOA [Sociedade Filarmónica Operária Amorense] e da sua orquestra ligeira”.

Haverá públicos diferentes? “Certamente que sim, porque têm por base culturas diferentes. Por isso, assalta-me por vezes uma certa indecisão, digamos, nos primeiros momentos de uma apresentação. Seja nos Açores, no Alentejo ou em Vila do Conde. Mas soa no ar José Afonso e a assistência aplaude com entusiasmo, ouvem-se bravos que ecoam dentro de mim. É como se absorvesse, então, renovada energia!”, narra o cantor.

Sem deixar a vida adormecer, Vitor Paulo integrou ainda os “1000 Agres” e os “Sons da Gente”, conjuntos que elegiam também a música tradicional portuguesa, e foi muito aplaudido no “City of London Festival”, cantando José Afonso. “Actuar para o público inglês foi uma experiência interessantíssima!”, diz com um sorriso.

Disco em andamento

Vitor Paulo está ocupado, presentemente, na edição de um disco, “Por Terras de Zeca”, com arranjos de Davide Zaccaria, que “se apaixonou pela música de José Afonso”. Disse-lhe um dia o italiano: “Vitor, tens de gravar a tua voz!” Assim, a música será minha e os poemas de Alda Couto. A obra incluirá também um tema de Davide, “O Homem, a Noite e a Lua”, letra de Cinzia, que já está a passar nas redes sociais como modo de promoção do disco.

Por José Augusto

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