Ricardo Oliveira, vereador com o pelouro da Saúde na Câmara Municipal de Setúbal e presidente da comissão organizadora do Fórum Saúde, Ricardo Oliveira, fala sobre o evento que procura também celebrar, em Setúbal, o Dia Mundial da Saúde
Como surgiu a ideia de um fórum sobre a saúde e qual é o objectivo?
A cidade de Setúbal é membro da Rede Portuguesa de Municípios Saudáveis, associação parceira da Organização Mundial de Saúde, que se pauta por uma filosofia em que o território, as cidades, os municípios, vilas e aldeias, são espaços que determinam estados de saúde e que podem até, como refere a OMS, ser espaços de construção de felicidade. Esta proposta, que partiu da Câmara Municipal de Setúbal, é a concretização de que a construção da cidade não se faz apenas com uma entidade da cidade – não se faz, por exemplo, com a Câmara Municipal, que tem as suas competências e as suas responsabilidades – mas faz-se com a cidade. Temos vindo a defender, já dos mandatos anteriores, e neste prosseguimos esse trabalho, que esta construção da cidade, cidade saudável e mais feliz, onde o bem-estar é uma ambição que está presente constantemente, tem de ser feita com um conjunto alargado de parceiros.
É nesse sentido que, depois de um trabalho que se foi amadurecendo com os parceiros e também internamente na autarquia, vimos dar este passo de reunir o conjunto de entidades que participa neste fórum. Para além da nossa comissão organizadora, temos ainda a intenção, o gosto e o objectivo de envolver várias IPSS que trabalham em Setúbal, de organizações, empresas, associações e colectividades que desenvolvem o seu trabalho na cidade, e que são construtores da cidade nas suas diferentes dimensões e nas suas diferentes perspectivas. O Fórum de Saúde é isto: é com este objectivo que surge e que pretende fazer a reflexão sobre o contributo de cada um para a construção da cidade nesta lógica de construir uma cidade mais saudável, mais feliz.
Como se organiza a programação desta iniciativa?
O Fórum Saúde é algo que pretendemos permanente, com trabalho permanente, regular, e que tem grupos de trabalho, uma comissão científica e uma comissão organizadora. Pretende-se que seja aberto, que não há de ser limitado a estas entidades que nele participam agora e que terá um espaço alargado de reflexão no dia 8 de Abril. Há, entretanto, um conjunto de debates que o antecedem e que abrem caminho para a apresentação do perfil de saúde e do plano de desenvolvimento local da área da saúde, a acontecer no dia 8. Estes são documentos de análise, de caracterização do concelho, de planeamento e de proposta de acção para a promoção de um município mais saudável, e são documentos que não são estáticos. Estão em constante transformação e serão, entretanto, enriquecidos por cada um dos participantes.
No que diz respeito à caracterização de Setúbal, há elementos dos que temos hoje que estão profundamente desactualizados, uma vez que se referem aos censos de 2011. Vamos ter novamente censos neste ano de 2021 e poderíamos ter avaliado e resolvido esperar para poder então editar o novo Perfil de Saúde de Setúbal, mas isso significaria, uma vez que os primeiros dados provisórios só estariam disponíveis para meados de 2022, atirar para 2023 a sua concretização. Entendemos que não faz sentido e por isso temos esta primeira versão, com a consciência de que em breve vamos ter de adaptar e actualizar estes documentos.
Que temáticas serão abordadas nos debates? E com que objectivos?
O primeiro debate, “Estado de Saúde e Promoção de Estilos de Vida Saudáveis”, é mais caracterizador do concelho. O segundo, sobre comunicação em saúde, traz um tema muito pertinente nos dias de hoje. Nas várias dimensões que essa comunicação tem, questões sobre como publicar, na área da saúde em concreto e também de uma forma mais geral, sobre estilos de vida saudáveis, mas também sobre o contributo que a tecnologia hoje dá no desenvolvimento do trabalho em saúde. Neste sentido, por exemplo, o Hospital da Luz fará a apresentação da sua app, “My Luz”. Temos a ideia de que quando trabalhamos em saúde falamos de questões profundamente humanas e, assim, a tecnologia tem de ser um contributo para aproximar, não para afastar. Isto é altamente polémico, actual e terá o seu interesse.
Qual é a fotografia de Setúbal na área da saúde?
Estamos num concelho em que cerca de 40% da população não tem médico de família e isso significa que há um problema estrutural no acesso à saúde. Há ainda outras questões, como o isolamento da população mais idosa, a violência doméstica – temática muito importante – que grupos sociais têm acesso aos cuidados de saúde, como por exemplo, a população migrante de Setúbal. Somos um concelho que recebe muita gente e que tem uma lógica profundamente multicultural e diversificada e é preciso fazer essa análise também.
Iremos ainda discutir o Plano Director Municipal de Setúbal e o contributo que tem para a promoção da saúde, mas também que contributos poderão dar os nossos recursos naturais, que são de uma riqueza profunda: a Reserva Natural do Estuário do Sado, o Parque Natural da Arrábida, o Parque Marinho Luiz Saldanha.
A importância da vizinhança será outro dos temas em destaque. A cidade é um território do ponto de vista físico, mas é também um território do ponto de vista das relações sociais e vamos falar da importância das relações sociais na promoção de saúde. Sem esquecer os recursos que existem no concelho, como a rede de saúde de cuidados primários, o papel das escolas, o tecido empresarial e o movimento associativo e solidário. Na lógica das cidades saudáveis, há um conjunto de factores determinantes para a promoção de saúde, entre os quais estão as questões da prosperidade, da paz, do espaço e da participação, entre outras.
Como serão as apresentações no fórum de dia 8 de Abril?
A primeira edição do Fórum Saúde conta com duas sessões específicas, com debate em torno do Perfil de Saúde de Setúbal e do Plano de Desenvolvimento Local em Saúde. Não apenas pela sua apresentação, mas também pela discussão de questões que se relacionam com a caracterização do nosso concelho e de que acções cada entidade, cada organização, cada um de nós até individualmente, pode e deve fazer e para a construção dessa cidade mais saudável.