Depois das grandes vitórias alcançadas em 2021, o atleta luso-cubano revela que tem na mira o título de melhor do mundo
Pedro Pablo Pichardo, campeão olímpico do triplo salto, que com 17,98 metros conseguiu um novo recorde nacional, confia que em 2022 vai fazer cair recordes, e aponta logo à mítica marca mundial de 18,29 metros alcançados por Jonathan Edwards em 1995.
Disse durante o primeiro ciclo das Conferências do Forte, organizado pela Câmara Municipal de Setúbal, no passado dia 20. Pela frente, o atleta luso-cubano, também campeão da Europa, tem este ano o Campeonato Mundial em Pista Coberta, em Belgrado (Sérvia), o Campeonato Mundial de Atletismo ao ar livre, nos Estados Unidos e os Campeonatos da Europa de Atletismo, em Berlim.
“A única coisa que me pode impedir de ganhar essas competições é estar magoado”, avançou. Mas será numa das “competições mais pequenas”, como a Liga Diamante, que o atleta do Benfica, que reside no concelho Palmela e treina em Setúbal, diz que vai tentar o novo recorde mundial; ‘voar’ além dos 18,29 metros, confidenciava ao jornalista da RTP Paulo Sérgio, que mediou a conferência no renovado Forte de Albarquel.
Nesta nova época que se inicia com muito trabalho para Pichardo e para o treinador, também seu pai, o atleta conta que não se deixa pressionar pelo título de campeão olímpico que carrega, nem pela espectativa dos portugueses, garantindo apenas que não vai descansar, nem desiludir.
“Eu vou fazer o meu melhor. Sempre que vou à pista treinar penso que tenho de treinar bem, cumprir com o que o treinador me diz: ganhar”. Na fase actual, em que prepara uma competição, um dia normal de treino dura cerca de cinco horas, apenas com um dia de descanso passivo, o domingo, e um de descanso activo, à quarta-feira.
À segunda-feira treina rampa em Lisboa, à terça e à quinta faz trabalho técnico no ginásio, e sexta-feira está reservada para trabalho de rampa e de arrasto. Durante a conversa, Pichardo reconheceu o trabalho do pai durante a época, não só como seu treinador, mas como seu psicólogo, que o incentiva sempre a superar-se, colocando-lhe metas: “Bem complicadas para mim, ou para qualquer atleta”, admite.
Também nos momentos decisivos das provas é o pai e a mãe que carrega no pensamento, tal como aconteceu em Tóquio durante o salto que lhe garantiu o Ouro. “Nós temos passado muita coisa para chegar até aqui. Sempre que eu ganho algum título, penso neles, mais do que em mim”.
Pedro Pichardo, que nasceu em Cuba, conseguiu com esta vitória um lugar entre os cinco atletas portugueses medalhados com Ouro nos Jogos Olímpicos: Carlos Lopes, Rosa Mota, Fernanda Ribeiro e Nélson Évora.
Desde 2017, ano em que adquiriu a nacionalidade portuguesa, o atleta tem vindo a focar-se em ganhar títulos para Portugal e admite que fazer parte da história do desporto português é uma grande honra.
“No início, treinávamos no Jamor. Lá há um sítio muito especial com quatro fotos a preto e branco, dos medalhados de Ouro. Sempre que olhava para aí dizia ao meu pai – um dia gostava de estar lá também”.
Um dos objectivos de Pichardo é ser o atleta português mais medalhado de sempre, e comenta que, para as doze medalhas conquistadas pela atleta Fernanda Ribeiro, só lhe faltam dez. Agradecido com o povo português, que o tem apoiado e felicitado, Pichardo lamenta que em Portugal a sua modalidade tenha pouca visibilidade.
“No atletismo, para sobressair, é muito complicado”, afirma, em comparação com o futebol. “Em Cuba, em termos de desporto, não há diferença. Em Portugal, todos sabemos que há”. Para reverter a situação, o atleta afirma que a solução passa, essencialmente, por obter mais apoio político.
“Os políticos deviam apoiar um bocadinho mais a modalidade”, e acrescenta: “Há muita pista sem condições, há muito ginásio em que não há máquinas. [Se houvesse mais condições] teríamos mais Pichardo, mais Rosa Mota”.
E logo a seguir expressou o seu desejo de ver construído um Centro de Alto Rendimento de Atletismo no concelho de Setúbal, que considera a sua casa. Um projecto que estará já nos planos para a cidade sadina.