Apesar das conclusões da PJ, a filha acredita que há muito a descobrir. Passados sete meses o mistério adensa sem contas bancárias movimentadas, uso de cartão Lisboa Viva ou tentativa de contacto. Caso segue para Ministério Público sem indícios de crime
Desaparecido desde 9 de Junho de 2019, João Marinho não voltou a contactar a família, mas apesar de “a Policia Judiciária afastar hipótese de crime e manter o suicídio como principal tese, a família acredita que há muito por esclarecer”, afirma a filha, Sara Marinho.
Em declarações a O SETUBALENSE, fonte próxima do Departamento de Investigação Criminal de Setúbal da Polícia Judiciária, afirma que, “não é possível avançar mais com a hipótese de um crime associado a este caso e chegando a um impasse é preciso avançar. O caso não fica encerrado. Trata-se de um desaparecido, por isso estará sempre aberto. Fica arquivada, sim, a hipótese de crime, se o Ministério Público assim o entender depois de apreciar o relatório da PJ”.
Nos resultados da investigação a PJ não afasta a possibilidade de uma morte acidental “e que em consequência desse acto alguém tenha levado João Marinho de carro ou por outra via, para outro lugar. O que é certo é que os cães pisteiros não detectaram qualquer odor. E as equipas forenses não encontraram qualquer objecto pessoal, nas batidas pelos terrenos onde João Marinho passaria durante a sua caminhada matinal. Nem mesmo numa área mais alargada”.
Das buscas fez também parte o contacto com pastores da região de Azeitão, para que ao mínimo sinal alertassem o Posto Territorial da Guarda Nacional Republicana. E sendo a casa de Azeitão um local de fim-de-semana, já que a residência oficial de João Marinho é em Almada, a PJ também fez buscas ao apartamento.
Com estes dados a PJ poderia reforçar a tese de um desaparecimento voluntário, “mas ao longo dos últimos meses João Marinho não movimentou as suas contas, não voltou a utilizar o cartão Lisboa Viva para transportes públicos que tinha em sua posse e também não voltou a contactar os seus familiares”.
Filha rejeita suicídio e reafirma “buscas deviam ser imediatas”
Perante esta análise, a PJ terá comunicado à família de João Marinho que “a possibilidade suicídio será a mais forte”, comenta Sara Marinho em entrevista a O SETUBALENSE, no entanto sem concordar. “Na minha opinião acho que há muito ainda por desvendar. Até poderia sim ter passado pela sua cabeça o suicídio, mas tenho muitas dúvidas. Essa atitude não condiz com o modo de ser e viver do meu pai”.
Sara afirma que em Junho “foram efectuadas todas as buscas possíveis”, mas também reconhece que “os operacionais são poucos e, nestes casos, o tempo de espera até a investigação começar é demasiado longo. As buscas deviam ser sempre imediatas”.
Sara Marinho sabe que não há pistas de que o seu pai “tenha sido levado por alguém, nem vestígios de que tenha sofrido um acidente,”, explica. Mas de uma coisa tem a certeza, o seu pai “nunca iria embora por vontade própria sem falar com a família, fosse qual fosse a situação”.
Recorde-se que, aquando do desaparecimento do pai, Sara Marinho fez a mesma consideração durante uma entrevista a O SETUBALENSE. “Em 72h00 pode acontecer muita coisa e é preciso que as autoridades competentes revejam esta atuação no caso de desaparecidos”
Dinheiro movimentado teria deixado dúvidas
À data do seu desaparecimento João Marinho teria em sua posse algum dinheiro, resultante de uma quantia que movimentou para levar consigo durante uma viagem aos Açores, realizada entre 30 de Maio e 3 de Junho. Mas a filha esclareceu que seria apenas a soma restante de um levantamento de 500,00 Euros, “o que não permitiria ir muito longe”, se estivéssemos a falar de um desaparecimeto voluntário.
João Marinho viajou com um grupo de 50 pessoas ligado à Associação Gerações Sorrisos, de Almada, a qual João Marinho também integrava. E durante o tempo em que esteve nos Açores, a quantia em dinheiro chegou a causar estranheza entre os companheiros de viagem.
Ainda no fim de Junho as investigações prosseguiram com a análise ao telemóvel e computador de João Marinho. E familiares e amigos foram também ouvidos pela PJ.
Todos apontaram as mesmas circunstâncias, “que João Marinho saiu de casa na manhã de 9 de Junho para fazer a sua habitual caminhada, mas nunca chegou a encontrar-se com o grupo que faz esta actividade em conjunto, na vila de Azeitão”.
Sobre o comportamento e saúde de João Marinho, amigos e família também foram concordantes. Segundo fonte próxima à PJ referiram que “apesar de ter uma depressão, João Marinho estava numa fase muito boa da sua vida. Estável e bem-adaptado à medicação”.
Último avistamento
João Ribeiro Pereira Marinho foi visto pela última vez em Azeitão, na manhã de 9 de Junho, quando a prima o viu descer a rua, ao encontro do grupo com o qual fazia caminhadas.
Nesse dia João tinha saído mais tarde de casa e por isso ia desencontrado do grupo. Nunca chegou ao destino.