Manuel Nunes de Almeida: Um forasteiro que se afirma em Setúbal nos inícios do século XX

Manuel Nunes de Almeida: Um forasteiro que se afirma em Setúbal nos inícios do século XX

Manuel Nunes de Almeida: Um forasteiro que se afirma em Setúbal nos inícios do século XX

Manuel Neves Nunes de Almeida fixou-se em Setúbal em 1902

Neste texto visamos resgatar da penumbra um lisboeta que se afirma em Setúbal nas duas primeiras décadas do século XX.

Faz o percurso escolar entre a capital e Santarém, inicia a profissão docente no Alentejo (continuada em Aldeia Galega, hoje Montijo) e fixa-se na cidade do Sado em 1902, onde tem importante papel na educação: em especial, na elevação do liceu ao estatuto de nacional (a par da Câmara Municipal).

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Depois do Liceu Setubalense (1857), Liceu Municipal de Setúbal (1858) – o 2.º a funcionar em paralelo com o 1.º – Liceu Municipal Setubalense (1863) – a fusão dos dois – e Escola Municipal Secundária (1884), sem nenhum ultrapassar o âmbito local, em 1903 é criado o Liceu de Bocage, de âmbito nacional.

Mas a importância de Nunes de Almeida na comunidade setubalense vai muito além da educação. Filho de Manuel Nunes de Almeida (Soza, Aveiro) e de Francisca de Jesus (Belas, Sintra) nasce em 14-4-1854 em São Sebastião da Pedreira (Lisboa), onde é baptizado.

Eis o essencial da sua vida em quatro períodos: 1854-1876 – Nascimento, formação e início do professorado no Vimieiro (Arraiolos).

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Apenas podemos adivinhar como lhe decorre a infância e a juventude, com progenitores bem relacionados e estimados no meio coevo. Segundo o quinzenário sadino A Mocidade, faz os estudos preparatórios no Real Colégio Militar e, depois, cursa Teologia no Seminário Diocesano de Santarém.

1876-1884: Constituição de família e primeira experiência docente. «… a convite das pessoas mais importantes do Vimieiro, foi em 1876 para aquela vila dirigir não só as aulas de instrução primária, mas ainda algumas cadeiras da secundária» (A Mocidade, 1-12-1905).

No ano seguinte, já «professor público», casa em Lisboa com Emília Elisa de Oliveira (1861- 1885). No Vimieiro nascem-lhe três filhos: Pedro (1878-1908), Francisca (1882-1970) e Emília (1884-?).

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1885-1901: Docência em Aldeia Galega. Aí, em 1885, inopinadamente, a sua vida familiar altera-se pela morte da esposa.

No ano imediato recompõe o lar, une-se a Mariana Rita Soeiro (1862-1954). Da união nascem quatro filhos: Mariana (1888-1911), Maria da Luz (1890-1975), Maria da Esperança (1892-1961) e Manuel António (1895-?).

1902-1919: Tempo de consagração, entre a posse como professor e director da Escola Municipal Secundária de Setúbal e a aposentação como reitor do Liceu de Bocage.

A comunidade local não foi indiferente à sua chegada. E ele desde logo se integra no meio social local. Sintoma da fácil e facilitada assimilação parece ser o facto de, logo em 19-3- 1904, residindo no Largo da Fonte Nova (hoje Praça Machado Santos), ter apadrinhado a união de Clotilde Bárbara Soares Pereira (1879-?) – filha do importante homem de negócios, político influente e autarca Henrique Augusto Pereira (1850-1941) – com o comerciante António José Costa.

Foi, também, um período de novos desgostos: em 1908 morre o filho Pedro e, três anos depois, a filha Mariana. No agitado meio político local desses anos alinha com o Partido Evolucionista, que tem larga implantação em Setúbal: em 1919 é o candidato local substituto à Junta Geral do Distrito.

Outra faceta da sua integração e aumento de prestígio e poder é a incursão na indústria de pescas, que acaba em 18 de outubro de 1913, ao vender o seu cerco americano (arte de pesca constituída por galeão, barca de água e quatro buques) por 2800$00, uma quantia apreciável na época.

A integração na sociedade setubalense resulta, em boa parte, das qualidades pessoais que marcam a acção como professor e reitor do Liceu de Bocage. Qualidades que os três corpos do liceu (professores, funcionários e alunos) confirmam pela forma carinhosa como o tratam: «Pai Almeida».

A referida integração e prestígio na comunidade terão ajudado o seu desempenho profissional. E o sucesso da acção profissional terá reforçado a referida integração e prestígio sociais.

Da acção como reitor realça-se o seguinte: o número de alunos ultrapassa os 100; a partir de 1906 o número de alunas deixa de ser residual; em 1908 é inaugurado um imponente edifício próprio para o liceu (é o 3.º no País, «ex aequo» com o de Faro).

Mas em 1905, quando a Câmara Municipal encomenda o projeto ao reputado arquitecto Rozendo Carvalheira (1861- 1919), é chamado para o aconselhar nos aspectos pedagógicos: o que revela o seu prestígio no campo educativo; é reitor de 1903 a 1919, um período muito instável em que os 28 liceus existentes têm entre 2 e 16 reitores (só o Infanta D. Maria-Coimbra tem também um, mas este abriu em 1918/19).

É estranho que a educação, em geral, seja valorizada nas comunidades, nos discursos das elites e entre as pessoas comuns, mas os seus principais protagonistas, não poucas vezes, sejam esquecidos ou menorizados.

Ao menos Nunes de Almeida tem o nome numa rua secundária, sem saída, mas nas imediações da Escola Secundária du Bocage (herdeira do liceu).

*Com Carlos Mouro 

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