Exposição fotográfica na Casa da Baía marca regresso do fotógrafo, depois de dez anos de interregno
Está patente até 3 de Abril, na Casa da Baía, em Setúbal, a exposição fotográfica “Frágil”, da autoria do fotógrafo José Maurício.
A mostra, que conta com perto de duas dezenas de peças, pretende alertar a comunidade para o risco da perda das paisagens da região, provocada pelas alterações climáticas, e para o desaparecimento de profissões tradicionais do Sado.
Tendo como elementos principais as nuvens, barcos, vegetação, aves marinhas e o ambiente marítimo de Setúbal, José Maurício atira como grande objectivo “trazer para o terreno a comunidade científica e disciplinas como a antropologia, estudando as mudanças de hábitos do homem, a biologia para estudar toda a riqueza natural e a arqueologia”.
“A sensação que tenho é que estou a fotografar algo que está prestes a desaparecer”, comenta José Maurício a O SETUBALENSE. “Estas profissões [de pescador] têm tendência a desaparecer. Tu vês a maior parte destes pescadores e estamos a falar já de uma geração que anda ali nos 60 e 70”, explica.
José Maurício refere ainda que as embarcações utilizadas, tradicionais e incontornáveis no Estuário do Sado, para as suas fotografias “são sujeitos incontornáveis” e enfrentam também o desaparecimento.
“Estas embarcações só existem porque têm utilidade e manutenção” refere José Maurício, acrescentando que, “quando deixam de ser usadas, ficam ao abandono e num espaço de dois ou três anos desaparecem”.
O fotógrafo lamenta que estas profissões possam deixar de existir, já que o mercado não as absorve e nem as gerações mais novas estão interessadas nas mesmas. Ainda assim, compreende esta possível extinção. “Estamos a falar de profissões, de vidas muito duras”.
No que toca à componente ambiental, a subida do nível das águas do mar, provocado pelas alterações climáticas, será o principal factor de destruição e alterações das paisagens no Estuário do Sado.
“A nossa cidade, tal como boa parte da costa portuguesa, a manter-se esta tendência de alterações climáticas, como revelam vários estudos, será altamente afectada”, esclarece o fotógrafo.
Exposição marca regresso à fotografia depois de interregno
Apesar não viver profissionalmente da fotografia, José Maurício diz que o bichinho esteve sempre em si. A pandemia foi a chave para este seu regresso.
“Já andava qualquer coisa cá dentro para voltar a fotografar”, confessa. Foi então durante o ano passado que surgiu a ideia de montar a exposição. “Quando fotografo não penso em guardar as fotos e soltá-las, quase como algo descartável nas redes sociais. Olho para a fotografia como algo que deve ser exposto”, garantiu.
A fotografia é, para si, a forma como expressa a “visão da cidade e da sua envolvência”. A exposição foi montada em colaboração com o laboratório de fotografia profissional Viragem Lab, com supervisão especial de António José, na impressão, e do atelier “”Icon Molduras”, na pessoa de Armando Santos, no emolduramento.