Histórias de vida ligadas à pesca, com a assinatura da jornalista Inês Antunes Malta e do fotojornalista Alex Gaspar
A exposição “O Barulho da Lua”, da jornalista Inês Antunes Malta e do fotógrafo Alex Gaspar está patente na Casa de Bocage, em Setúbal, até 26 de Setembro. Uma produção que retrata as madrugadas de faina, a bordo da última embarcação de Setúbal dedicada à pesca da sardinha, “Mãe de Jesus”.
Em Julho, durante a inauguração da exposição, inspirada na reportagem com o mesmo nome, publicada no jornal O SETUBALENSE em Setembro de 2019, Inês Malta acolheu as palavras de pessoas ligadas à pesca que descrevem um sector a viver dias muito difíceis. “Dizem que, os problemas da pesca em Setúbal são tão actuais hoje, como eram há décadas”.
O desafio para escrever e fotografar “O Barulho da Lua” começou em Maio de 2019, quando, durante uma entrevista ao presidente da União de Freguesias de Setúbal, a propósito da realização da Semana do Mar, o autarca propôs a Inês Malta e Alex Gaspar produzirem uma reportagem, que retratasse as dificuldades pelas quais o sector da pesca passa. Mas, coincidência do destino, a pesquisa havia começado meses antes deste desafio surgir, “com a recolha de testemunhos, apontamentos históricos e notícias”, sobre o contexto socioeconómico da pesca, não só em Setúbal, mas em toda a região, explica Inês Malta.
O tema já interessava muito à jornalista e as palavras do autarca foram o ponto de partida que precisava.
Naquela primeira entrevista, Rui Canas, descreveu que os pescadores “são teimosos porque gostam muito, porque não querem aprender a fazer outras coisas. Conheço muita gente dos seus 40 e tal anos que já saiu para outros trabalhos e depois não gosta e volta para o mar. Porque o mar também tem uma parte que é beleza, o ir ao mar à noite. De Inverno é chato, mas de Verão é agradável, tem momentos agradáveis. O momento da liberdade, momento de estar com a natureza, o momento de em certas alturas não se ouvir nada, ouvir-se aquilo que se chama andar ao barulho da lua, que é nada. São situações a que as pessoas se habituaram a viver. Isto é uma forma de vida, não é uma profissão”. E assim se nomeou “O Barulho da Lua”, pelo silêncio do mar e silêncio em que o sector permanece.
Para percorrer o caminho até à produção final, a dupla contou com os testemunhos de Daniel Ferreira, presidente da cooperativa Setúbal Pesca e de Ricardo Santos, a representar a Sesibal – Cooperativa de Pesca de Sesimbra-Setúbal-Sines.
Testemunhos essenciais para “abordar as lutas do sector” e as marés contras as quais os pescadores de Setúbal navegam todos os dias. Nos quais não podia faltar também a história de Rui Russo, mestre da “Mãe de Jesus”.
Foi precisamente em noite de faina, a bordo da última embarcação de Setúbal dedicada à pesca da sardinha, que Alex Gaspar escutou “o barulho da lua” e captou o silêncio que envolve estes homens em alto mar.