Ópera com os mais pequenos, da Escola Michel Giacometi, desperta alunos do básico para as artes de palco
Um “milagre” só possível nesta região; juntar 100 crianças de 8 e 9 anos, do 4.º ano, em óperas e teatro musical. Está a acontecer na escola, com óperas de José Carlos Godinho – músico e professor coordenador de Música da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal (ESE/IPS) –. e ensaios musicais, uma vez por semana, de Outubro a Maio, orientados pelo professor Mário Caeiro. Um esforço para descentralizar o teatro e a música por todas as escolas, denominado “De pequenino é que se torce o pepino”, com práticas artísticas globalizantes e inclusivas.
Um espectáculo primoroso e fresco a não perder, na sede do Agrupamento de Escolas da Quinta do Conde, concelho de Sesimbra.
Mário Caeiro, que ficou “com o bichinho aos 7 anos”, estudou acordeão, frequentou a Academia de Amadores de Música de Lisboa e a ESE, onde fez a licenciatura e mestrado do Curso de Professores de Educação Musical do Ensino Básico. O plano para o futuro é “continuar sempre a trabalhar estes projectos com os alunos, fazer música todos os dias com as crianças”.
- Como e onde nasceu este projecto?
“No ano de 2015, na Escola da Quinta do Conde, Michel Giacometi, com o espectáculo “Portugal e o Mundo”, ópera de Mário Caeiro, Silvie Ornelas e Patrícia Baltasar. E desde 2002 com o 1º e 2º ciclos”.
- O teatro musical serve para unir as famílias e a escola? Os pais aparecem?
“Os pais são muito receptivos, os ensaios são feitos nas escolas, em tempo lectivo, e os pais aparecem. Ficam muito surpreendidos, nas estreias, com o talento e o desempenho quase profissional das crianças”.
- Qual foi a última obra, que agora pode voltar a ser vista?
“À procura da Ópera Ideal”, adaptação de várias obras de José Carlos Godinho. Foi estreada no dia 6 de Maio, no Cineteatro João Mota, em Sesimbra, e vai ser repetida esta quarta-feira, dia 22, às 21h, no Anfiteatro da Boa Água, na Quinta do Conde. As óperas de Sesimbra passaram também, dia 10, pelo conservatório de Aveiro, com o título “Os Castelos de D. Afonso Henriques”, com uma grande orquestra e um grande coro e um publico abrangente”.
- Quantas crianças em palco?
“Cerca de 100. Há casos de alunos que seguem a música, formam bandas pop rock e frequentam escolas locais especializadas em música”.
- Qual a importância do teatro e da música no desenvolvimento cognitivo e estético das crianças?
“Desenvolver a sensibilidade estética criativa, no âmbito das artes, em ajuda ao desenvolvimento da competência cognitiva, favorece a responsabilidade, a disciplina, a postura, a atitude e a capacidade de concentração”.
- E o que trabalham, concretamente?
“Acima de tudo as artes. Aprendizagens essenciais, interactivas e as dinâmicas de grupo, de professores e de alunos. Apresentar publicamente o teatro musical destas é mobilizar as linguagens elementares da música e do teatro, como cantar, dançar e representar, em movimentos livres e criativos. Trabalhamos linguagens e criação dramática, incentivando a partir da experiência popular, e de turma ou grupo, os espectadores do futuro. Tudo isto aparece nas Mostras de Teatro Escolar, geralmente em Maio, promovidas pela autarquia de Sesimbra. Temos apoios da Câmara Municipal Sesimbra, da escola e das professoras titulares”.
José Carlos Godinho: O músico na primeira pessoa
O primeiro musical que conheci bem foi ‘Jesus Cristo Super Star’, que vi em Londres, no início dos anos 70, quando atravessávamos a Europa de mochila para ver os monumentos, a arte e os espectáculos. Em 1977, com cerca de 17 anos, com um grupo de amigos, encenei essa opera rock e representámos, gratuitamente, em Setúbal, Vendas Novas e Évora, nos centros paroquiais. Tínhamos só teclas, duas guitarras e uma bateria, microfones e amplificadores.
Um dos músicos, que cantava, era o grande actor setubalense Fernando Luís, que fez de Jesus Cristo e outra cantora era a actriz Manuela Couto, de Setúbal, que trabalhou no TAS e na Comuna.
Jesus Cristo era teatro, mas chamava-se ópera pop e rock porque era todo cantado e a ópera rock, com poucos instrumentos, chamava-se assim por oposição às óperas clássicas, em grandes palcos. Quando comecei a dar aulas, em 1984, fui fazer uma ópera ligeira infantil, em português, na escola preparatória de Bocage, denominada “A procura de um Pinheiro, opera de Natal”.
Todas as óperas teatros musicais estão no “Manual Escolar de Música”, da Santillana Editora (2004) e envolvem a comunidade escolar, com estas temáticas históricas de Portugal, como, por exemplo, Viriato, D. Afonso Henriques, Etc.