Hoje assinala-se o Dia do Ambiente. O presidente da Associação Zero faz a O SETUBALENSE um balanço aos impactes da pandemia no sector ambiental. Houve ganhos significativos
O inimigo invisível que fez parar o mundo acabou por provocar, de forma indirecta, alguns efeitos positivos. Foi no sector ambiental que os ganhos foram sentidos. “Em Portugal Continetal quantificámos uma redução de emissões de dióxido de carbono (CO2) em 1,4 milhões de toneladas”, revelou Francisco Ferreira, adiantando que o maior peso dessa redução se ficou a dever ao Distrito de Setúbal com a paragem da central a carvão de Sines.
A pandemia teve efeitos devastadores nos mais diversos domínios. Porém, no sector ambiental foi um pouco diferente. O que ganhou o Ambiente com este flagelo?
Ganhou em três áreas e perdeu noutra e vamos ver o que fica para o futuro. Ganhámos na redução de emissões de dióxido de carbono (CO2), que conduzem ao aquecimento global e às alterações climáticas. Reduzimos essas emissões na produção de electricidade, que quantificámos em 1,4 milhões de toneladas de CO2 em Portugal Continental nestes últimos três meses, comparativamente com 2019.
E no Distrito de Setúbal?
É difícil quantificar em termos de região. Mas, a central a carvão de Sines é a que tem maior peso neste particular e está parada há 129 dias. Só da produção de Sines, isto significa 1,1 milhões de toneladas de redução de emissões destes gases causadores de alterações climáticas.
Dentro deste quadro de pandemia, consegue explicar as razões para esta redução?
São razões estruturais e conjunturais. Em termos estruturais resulta de já termos um peso maior das energias renováveis e, além disso, de as centrais térmicas terem de adquirir licenças, que são dispendiosas, para as emissões de CO2. Em termos conjunturais, resultantes da pandemia, houve uma grande redução do consumo de electricidade e como tal importámos esta a preços mais baratos do que aqueles a que produzimos cá. Tudo somado e tivemos esta descida das emissões.
A diminuição do trânsito automóvel, desde logo no centro das grandes cidades, bem como do tráfego aéreo também foram importantes…
Claro. No trânsito automóvel, ao nível dos centros das cidades e olhando para os lados de Lisboa, porque Setúbal se calhar não foi muito diferente, tivemos uma quebra de tráfego na ordem dos 70%. Podemos dizer que as concentrações de poluentes no ar passaram para menos de metade da média de 2019 e tudo indica que o trânsito também deve ter diminuído nessa escala, face à relação directa existente.
E quanto ao tráfego aéreo?
Teve uma quebra de 95% bem como as emissões de poluentes a ele asssociadas. Quer em relação ao tráfego aéreo quer ao trânsito rodoviário, isto significa uma redução enorme em termos de ruído, também para menos de metade. Em muitos sítios onde nunca conseguimos cumprir os valores limite da legislação do ruído, conseguiu-se agora cumprir.
Quanto a perdas? Quais os maiores efeitos da pandemia no Ambiente?
Houve efeitos negativos e já estão a chegar aos oceanos. Houve uma grande produção de materiais descartáveis e as pessoas nem sempre colocaram esses materiais nos contentores do lixo. Estamos a falar de máscaras e luvas, por exemplo. Aí houve um prejuízo significativo.
Outros efeitos registaram-se com o adiamento ou a suspensão de vários projectos, alguns deles considerados estruturantes. Deitando um olhar sobre o aeroporto para o Montijo…
… O problema é que o aeroporto no Montijo não foi suspenso em nada nem sofreu qualquer adiamento. O que não se percebe, porque em diversos locais da Europa este tipo de infra-estruturas está a ser adiado. Há companhias aéreas a ir à falência, há a limitação de pessoas que estão com medo de voltar a viajar e defendemos que esta é uma boa ocasião para se repensar a expansão da Portela e a localização no Montijo. Se queremos cumprir os valores do ruído e reduzir a poluição no centro de Lisboa, temos de retirar o aeroporto de Lisboa.
As dragagens em Setúbal estão a correr melhor ou pior do que o que esperavam?
Precisamos de ver os dados da monitorização para fazer uma avaliação. Todas as questões relacionadas com a movimentação de terras que começou e que vai continuar terão um impacte estendido ao longo de alguns anos.
Que leitura lhe merece o terminal de contentores para o Barreiro, que foi abortado?
Foram chumbadas as duas localizações e é preciso ver soluções integradas, olhando para Sines, para o Estuário do Tejo e para Setúbal, para se saber que soluções existem ou não. Temos tido Lisboa, Setúbal e Sines como três localizações concorrentes. Em vez de olharmos para o que deveria ser feito para reduzir o impacte ambiental e melhorar o serviço, temos assistido a cada administração portuária a pensar por si.
Esteve hoje [quarta-feira passada] com o secretário de Estado da Energia. Trouxe alguma novidade?
Anunciou que nos próximos anos vai deixar-se de utilizar botijas de gás. Disse que um dos objectivos é substituir o gás pela electricidade na casa das pessoas, no limite até 2030 mas o ideal admitiu que seria 2025.