CARLOS DE SOUSA regressa à vida política 14 anos depois e diz ter sido alvo de um “saneamento político e injusto”. Criou o Movimento de Cidadãos pelo Concelho de Palmela e prepara-se para ir a votos nas próximas autárquicas. Explica as razões para a tomada de decisão, ao mesmo tempo que tece duras críticas a Álvaro Amaro
Carlos de Sousa, 68 anos, entrou para o PCP em 1975. Foi vereador na Câmara de Palmela, onde viria a ser presidente durante dois mandatos com maioria absoluta. Foi ainda presidente da Câmara de Setúbal, colocando um ponto final num reinado de 16
anos do PS, ao alcançar uma maioria histórica. Esteve na governação da Câmara de Setúbal durante quatro anos e 10 meses e acabou por anunciar a sua saída em Setembro de 2006, sendo substituído no cargo por Maria das Dores Meira. Dois anos depois saiu do PCP.
Durante 14 anos remeteu-se ao silêncio, afastando-se da vida política. Agora está de regresso com a criação do Movimento Cidadãos pelo Concelho de Palmela para se candidatar à Câmara. Não nega que, ao longo desta quase década e meia, foi convidado para concorrer, até como independente, a Setúbal e a Palmela.
“Não aceitei porque achei que tinha passado o meu ciclo político”, explica, revelando: “O último convite foi por parte do MIM em 2017 e em 2019 José Calado voltou a convidar-me. Pedi para pensar e decidi trilhar o meu próprio caminho, continuando amigo do actual vereador do MIM.”
Voltando atrás, o actual presidente do Centro Social de Palmela confessa que foi com “surpresa e tristeza” que ouviu o responsável político do PCP em Setúbal informá-lo de que o partido já não contava consigo e dispara: “Considero que foi um saneamento político e injusto, pois as pessoas do PCP não entendiam que tivesse amigos noutros partidos. Tal forma de estar fazia-lhes imensa confusão, mas limitei-me a ser em Setúbal o que tinha sido em Palmela”.
“Surdez do presidente em relação a tudo e a todos”
Mas o que leva Carlos de Sousa a quebrar o silêncio e a regressar à vida política? Com um sorriso triste estampado no rosto, o antigo autarca explica: “Resido em Palmela há 28 anos e tenho-me apercebido que as coisas não estão bem. A surdez do presidente da câmara [Álvaro Amaro] em relação a tudo e a todos é exactamente o contrário do que conseguimos com a democracia participativa, implantada por mim em Palmela”. E reforça: “A forma de estar na política, em que Palmela sempre foi um exemplo, caiu e isso entristece-me imenso, porque em Palmela temos 66 mil ‘patrões’ que são os munícipes. O presidente da Câmara pode ter magnificas ideias, mas sem o contributo da oposição e dos trabalhadores não tem um grupo homogéneo”.
As críticas à gestão de Álvaro Amaro não se ficam por aqui. “Quando o Urbanismo se envolve numa cadeia burocrática criada internamente, em que um empresário demora meses para ter uma resposta, algo está mal”, aponta, adiantando: “Nunca tive
problemas desses, nem em Palmela nem em Setúbal. Quando fui vereador desta área em Palmela os empresários alertavam para as demoras de outras câmaras e vinham para Palmela. Agora está a acontecer o contrário, os investimentos fogem para
Setúbal e para a Moita”.
Para Carlos de Sousa existe “falta de visão estratégica em relação aos novos empresários, que devem ter apoio da Câmara Municipal na promoção dos produtos de Palmela”.
Bombas no Pinhal Novo e estatueta pequenina
Ao mesmo tempo que promete “lutar para que se reponham as freguesias originais [Poceirão e Marateca]” no concelho, o antigo presidente da autarquia critica também a implantação de bombas de combustível à entrada de Pinhal Novo. “Até podem
estar de acordo com o PDM e antigamente era normal vermos bombas de gasolina dentro dos centros urbanos. Mas com o evoluir dos tempos foram sendo colocadas nas periferias urbanas. Se no terreno da antiga fábrica vai haver uma zona de construção de imóveis, no ponto de vista psicológico não haverá muita gente interessada em morar perto de bombas”, adverte, justificando: “Não é por falta de segurança ou de legalização, mas deviam haver opções diferenciadas, tendo em atenção a
qualidade de vida das pessoas”.
A nova estatueta alusiva aos 10 anos de Palmela Cidade do Vinho também merece um reparo de Carlos de Sousa. “Apesar de ser muito bonita, quase que passa despercebida pelo tamanho e devia ser colocada no Largo de S. João, onde existe a Casa Mãe
dos Vinhos”, considera, lembrando que aí “seria mais realçada e destacada”.
O jogo da democracia Para já, Carlos de Sousa diz-se surpreendido com as mensagens de apoio e encorajamento para avançar com a candidatura à Câmara de Palmela e deixa uma promessa. “Vou ser o mesmo homem, do ponto de vista humano e profissional”, garante, acrescentando: “Tenho um conjunto de pessoas à minha volta, mas até chegarmos à altura de decidir os candidatos ainda falta muito tempo.”
A concluir, faz um apelo ao eleitorado de Palmela para Outubro de 2021. “Só peço uma coisa muito simples: analisem como é que a maioria política conduz a Câmara Municipal, o comportamento dos actuais dirigentes políticos e lembrem-se de como exerci os mandatos, façam comparações e decidam. O jogo da democracia é assim”, remata.
“África minha e Centro Social”
Depois do afastamento da política, Carlos de Sousa considera-se “um homem realizado e feliz”. “Porque tive uma enorme diversidade de trabalhos. Estive vários anos em Cabo Verde onde fiz o Planeamento Estratégico do país. Depois fui para Angola e se não houvesse a queda do petróleo ainda lá estava. No regresso fui trabalhar para uma empresa ligada a questões ambientais. Acabaram por surgir projectos sociais a nível do Centro Tabor e fui convidado para dirigir o entro Social de Palmela em Maio de 2018”, resume, adiantando em relação ao centro social: “O peso do passado da instituição é enorme, mas por enquanto não haverá encerramento de valências, e apesar das grandes dificuldades para pagar osvencimentos continuamos a lutar”.