Cantora vai estar este sábado no Convento de Jesus com o Ensemble Juvenil de Setúbal
A voz de Ana Laíns vai ecoar nos claustros do Convento de Jesus este sábado, 20 de Maio, num concerto em que a cantora, que comemora 25 anos de carreira em 2024, vai estar com o Ensemble Juvenil de Setúbal.
O espectáculo, com início marcado para as 18 horas, encontra-se inserido no Festival Internacional de Música de Setúbal, evento pelo qual Ana Laíns diz ter “uma grande admiração”.
“Sempre tive uma enorme admiração pelo festival e pelo seu conceito de juntar diferentes abordagens musicais, integrando a comunidade local, através da presença de músicos de coros, escolas de música, entre outros. Acho que isso é o que me fascina”, explica a cantora.
Sobre a sua presença no evento, revela que apresentou o seu projecto ao festival e que o mesmo foi aceite, o que a “deixou muito feliz”. “Já estamos a trabalhar nos arranjos para esse concerto nos claustros do Convento de Jesus”, sublinha.
Mais do que uma cantora de fado, Ana Laíns concorda “absolutamente” que encerra na sua carreira e na sua forma de estar na música uma forte componente cultural e uma forte ligação à língua e à cultura portuguesa.
“Considero que tenho uma perna no fado e outra na música popular portuguesa. O meu caminho sempre se tem guiado por esses princípios, quer pelas escolhas musicais, quer poéticas. Sempre tive essa preocupação de juntar os dois caminhos. Tem sido delineado desde o início, desde o primeiro álbum, “Sentidos”, em 2006”, assegura.
Este seu disco de estreia, em que Ana Laíns canta poetas como Florbela Espanca ou António Ramos Rosa, leva a cantora a uma digressão internacional, que passa por diversos países, como Espanha, Bélgica, Holanda, Rússia e Grécia.
A imprensa internacional tece-lhe os maiores elogios e a revista britânica Songlines destaca a sua contemporaneidade no universo do fado. “Sempre batalhei para que fosse apresentada como cantora de música popular portuguesa, mas internacionalmente faziam sempre a ligação ao fado”, conta.
Ano de 2009 marcado por convite de Boy Gorge para dueto
Já em 2009 surge algo inesperado para este universo musical. Boy George, a estrela pop britânica que, com a sua banda ‘Culture Club’, marcou os anos 80 e 90, convida-a para um dueto.
Questionada sobre como tal aconteceu, Ana Laíns ri-se. “Pois, foi uma surpresa. O Boy George queria fazer um disco numa área da chamada “world music”. Queria fazer algo com uma cantora portuguesa, fez umas pesquisas e chegou até mim. O agente dele falou com a minha editora e aconteceu. O tema foi o ‘Amazing Grace’”, sublinha, revelando que apenas fez uma exigência: “Pedi que a minha parte fosse cantada na minha língua”.
E assim aconteceu, com o tema a ser integrado no álbum ‘Ordinary Alien’, editado em 2011. No ano anterior – altura em que comemorou dez anos de carreira – surgiu o segundo disco, intitulado ‘Quatro caminhos’, que contou com produção de Diogo Clemente e onde surgem poetas como Natália Correia ou Carlos Drummond de Andrade.
Com a digressão que suporta o novo álbum, em 2012 enche importantes salas de espectáculos da Europa, enquanto por terras lusas integra a lista de nomes que estiveram presentes no Festival Caixa Alfama em 2013 e 2014.
Foi neste ano que, com uma nova digressão europeia, passa por Espanha, Alemanha, Turquia e Áustria, tendo no país esgotado mais de uma dezena de concertos em diferentes cidades. Há seis anos, por sua vez, e se alguma dúvida houvesse, assume inequivocamente a defesa da cultura, da música e das artes portuguesas.
Em 2017, Ana Laíns edita o álbum ‘Portucalis’, tendo a apresentação acontecido no Museu Nacional de Arqueologia, com Mafalda Arnauth e Luís Represas como convidados especiais. Tal não foi por acaso.
“Claro que não. Eu vejo a música como uma forma de expressão livre e globalizada. Pode parecer um paradoxo, mas talvez este conhecimento seja o maior motivo da minha fidelidade ao Fado, à música tradicional e à língua portuguesa”, afirma.
Numa noite de fortes emoções, a cantora provou estar além das ‘gavetas’ nas quais quase todos têm a tentação de colocar cada músico ou cada artista.
“A riqueza da nossa música popular é enorme e está, felizmente, cada vez mais a ser reconhecida, mas temos de ser mais abrangentes. Por exemplo, quando falamos da música brasileira, com o seu leque gigante de estilos e de cantores, classificamo-la como Música Popular Brasileira (MPB). Por aqui, há a tentação de associar a música popular à música pimba. Temos de assumir uma auto-estima, não numa vertente nacionalista, mas a auto-estima como têm os espanhóis ou os franceses”, considera.
Disco de concerto no Casino Estoril entra no top de vendas nacional
Em 2020 foi tempo de comemorar vinte anos de carreira com um concerto no Casino Estoril e, posteriormente – já em 2021 –, com o álbum ao vivo desse mesmo momento. Sobre o balanço dessa festa, a cantora diz que é “óptimo”.
“O disco entrou directamente para o 1.º lugar do top de vendas nacional. As vendas já não são tão significativas, mas posso dizer no meu currículo que já estive no primeiro lugar do top”, salienta.
Seguiu-se uma digressão nacional e internacional com mais de 30 concertos em países como a Croácia, no Teatro Nacional de Zagreb, a Lituânia, no Sofijos Festivalis, em Espanha, mais precisamente em Ibiza, no Festival Nits de Tanit, na Turquia, na Ópera de Ankara – onde actuou a convite da Orquestra Sinfónica da presidência turca – e Brasil, na sala CCBB de Brasília.
“O êxito no Brasil esteve na origem do convite da embaixada de Portugal em Brasília para produzir o concerto oficial de celebração do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portugueses, o que foi muito importante”, assegura. Com duas décadas de carreira, Ana Laíns participou em várias colectâneas de fado, entretanto editadas, mas conta com uma produção discográfica reduzida.
“Não sou uma cantora que sinta necessidade de seguir um determinado ritmo de gravações. Faço a minha gestão e gravo quando tenho algo a acrescentar. Sigo o meu caminho”, revela.
No entanto, tem já um novo trabalho na forja, sendo que no próximo ano, em que comemora 25 anos de carreira, será provavelmente tempo de lançar um disco de originais. Para já, a única certeza que existe é a de que o rigor e a qualidade poética e musical serão a marca desse trabalho. Não são de Ana Laíns estas palavras, mas quando olhamos para o seu legado, não restarão dúvidas.
Opinião Musical